Receba Samizdat em seu e-mail

Delivered by FeedBurner

quarta-feira, 18 de novembro de 2015

Dois

















Moça com chapéu

o mundo das cabeças e corpos.
quero o sol vindo, as águas baixando
e meu corpo reaparecendo na areia.
essa areia tão molhada.

meu corpo afundado e a ausência de tato.
os olhos baços, a falta de ar
o sol lá em cima e a chuva que começa a cair.
vem pra na minha boca.

é salgada a água, sente? é do mar.
ou é do meu corpo, que resolveu vir?
serão dele essas águas salgadas?
mas as pontas dos dedos estão frias.

há uma concha na sola do meu pé.
ela é bonita, vê? cor-de-rosa.
é assim que quero, uma concha que dê a certeza do corpo
do ser, da vida.
uma concha.

vagando em terra firme queria navegar e me achar
no fosso no caule no leme dos navegantes.
mas apareceu uma mulher,
            uma mulher de chapéu.

olhos claros, perfume doce, acenos discretossuaves,
ela cantarola baixinho uma canção,
é em espanhol
e não a conheço.

longe há um cavalo que rompe em desassossego,
ele também canta em suas cavalgadas
ele sofre, sofre.

as patas encostam no chão, uma quase junto da outra,
e as duas vão cantando, enquanto o sono vem,
o menino dorme
e o fogo canta.
era assim no mar.

era assim numa esquina, o luau que nunca fizemos,
as barracas de acampamento
elas só existiram nos meus sonhos.

a prainha, as pessoas hipnotizadas,
todas cantavam e não viam mais nada.        
e a moça

se jogou ao mar.


Vagas

Se amanhã eu perder o meu corpo,
será possível que o mar venha, cubra minha alma
teça meu vestido de estrelas e me deixe toda nua?
(não sei).

Não sei, não faço a menor ideia,
mas se perder o meu corpo, acho possível ele saia em busca
uma vida, algo que se esqueça e mesmo outra cabeça
(a minha está muito cansada).

Se eu perder o corpo,
acho que ele faz festa promessa e talvez até dê liga
outro corpo tecido outras flores praças.
(diz que fui por aí).

Se perder o corpo, ele volta pra casa,
cansado do mundo asfalto árvores
e com saudades, apenas saudades
do meu ser meu jeito meu medo minha calma
(até da prisão da minha mente).

Mas se meu corpo morrer,
não sei se é possível que ainda venha
a dor do meu segredo,
nem que ela surja e exploda
em vazão intensa
(e extensa.) 

Share




0 comentários:

Postar um comentário