Um dia na vida a gente ainda vai se encontrar…
É, realmente tivemos esse dia. Um reencontro, na verdade, mas na
música fica melhor assim. Não foi sem querer, nem ao acaso. De
minha parte. Mesmo depois de um ano, percorrer os lugares que sei
serem teus preferidos só poderia resultar em duas coisas – te
achar ou não.
E eu vou te dizer tudo aquilo não dito, o que ficou por calar…
Fingi não ter te visto, dai você veio em minha direção. Eu só de
canto de olho, esperando. Querendo antever tua ação, tentando
fingir minha reação, com o coração explodindo no peito. Nas
primeiras palavras, você me desmonta. Como sempre fazia. Foi do que
quis me libertar. E consegui, por um tempo; hoje não.
Você já não sabe mais nada do que antes julgava sobre mim…
Tua voz tornou a me seduzir, e me deixei levar por tua verve
pseudointelectual, pinçada de múltiplas leituras, temperada por tua
personalidade plural de típica geminiana. Você continuava a mesma.
Por mais que eu me esforçasse a pensar de outro jeito, descobri que
também não mudei. Não como eu imaginava – ou queria. A essência,
essa, permanecia, e era o bastante pra você dissecar meu espírito.
Mas dirá que ainda me ama mesmo assim
Disse que estava casada. Levei um susto, mas procurei disfarçar.
Você notou, então amenizou remendando que apenas viviam juntos.
Nada de papel e Igreja. Então invento um nome, descrevo um
esteriótipo, calculo um punhado de meses, mas claro que você não
acredita. Não convenço. Sem graça, tentei levar o assunto para o
lado profissional, mas você disse que precisava ir. E foi. Sem beijo
no rosto. Apenas um aceno de mão e sorriso de canto de boca.
Não consegui continuar os versos. Nem a música. A verdade é que
não te superei. E você, à minha frente, se afastando cada vez
mais, sem nem olhar para trás. Podia ser um samba, nossa raiz, ou um
tango, se estivéssemos na Argentina. Te coloquei como protagonista
quando, na verdade, sou o enredo e a melodia interrompida. Você
seguiu a vida – às vezes em linha reta, outras desviando, mas
continuou. Eu fiquei – aqui, agora, parado a te observar até te
perder de vista no meio da multidão, e que agora me engolfa e
esbarra e me desloca, forçando-me movimentar.
Foto: February 1 - Standing Still, por Tim Wang. Usada sob licença Creative Commons.
Original: https://www.flickr.com/photos/refractious/12248589433/
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