Receba Samizdat em seu e-mail

Delivered by FeedBurner

domingo, 9 de agosto de 2015

Você que esteve aqui ainda agora


Um dia na vida a gente ainda vai se encontrar…

É, realmente tivemos esse dia. Um reencontro, na verdade, mas na música fica melhor assim. Não foi sem querer, nem ao acaso. De minha parte. Mesmo depois de um ano, percorrer os lugares que sei serem teus preferidos só poderia resultar em duas coisas – te achar ou não.

E eu vou te dizer tudo aquilo não dito, o que ficou por calar…

Fingi não ter te visto, dai você veio em minha direção. Eu só de canto de olho, esperando. Querendo antever tua ação, tentando fingir minha reação, com o coração explodindo no peito. Nas primeiras palavras, você me desmonta. Como sempre fazia. Foi do que quis me libertar. E consegui, por um tempo; hoje não.

Você já não sabe mais nada do que antes julgava sobre mim…

Tua voz tornou a me seduzir, e me deixei levar por tua verve pseudointelectual, pinçada de múltiplas leituras, temperada por tua personalidade plural de típica geminiana. Você continuava a mesma. Por mais que eu me esforçasse a pensar de outro jeito, descobri que também não mudei. Não como eu imaginava – ou queria. A essência, essa, permanecia, e era o bastante pra você dissecar meu espírito.

Mas dirá que ainda me ama mesmo assim

Disse que estava casada. Levei um susto, mas procurei disfarçar. Você notou, então amenizou remendando que apenas viviam juntos. Nada de papel e Igreja. Então invento um nome, descrevo um esteriótipo, calculo um punhado de meses, mas claro que você não acredita. Não convenço. Sem graça, tentei levar o assunto para o lado profissional, mas você disse que precisava ir. E foi. Sem beijo no rosto. Apenas um aceno de mão e sorriso de canto de boca.

Não consegui continuar os versos. Nem a música. A verdade é que não te superei. E você, à minha frente, se afastando cada vez mais, sem nem olhar para trás. Podia ser um samba, nossa raiz, ou um tango, se estivéssemos na Argentina. Te coloquei como protagonista quando, na verdade, sou o enredo e a melodia interrompida. Você seguiu a vida – às vezes em linha reta, outras desviando, mas continuou. Eu fiquei – aqui, agora, parado a te observar até te perder de vista no meio da multidão, e que agora me engolfa e esbarra e me desloca, forçando-me movimentar.



Foto: February 1 - Standing Still, por Tim Wang. Usada sob licença Creative Commons.
Original: https://www.flickr.com/photos/refractious/12248589433/

Share




0 comentários:

Postar um comentário