O/MAR
"Aflige ver
de repente as pessoas na areia
transformadas em pequenos riscos de carvão.”
(Rubens Figueiredo – Barco a seco)
O/mar
vê: [a] pres(s)a (de) entrar. No horizonte, [a]riscos[,] (de carvão
ba)lançam-se(: b)arcos. [En]/canto d[o](e) ser/(eia). (A)trai[,] O/mar.
A
onda anda a onda anda a onda anda a onda. Ao longe, [a]riscos[,] (de carvão:)
corpos ao s[o](a)l, b(and)eira no cais.
A
mãe (se des)espera. Nada. Grita: “O!mar!”
A
onda anda a onda anda a onda anda a onda anda. Onde? “O!mar!” Nada. “Salvem!”
Sal
vem: nos olhos de/la, na garganta de cá.
[A]braço(s)
forte(s), luta de[s]/igua[l](is).
A
mã(o)[e]: a[!]deus.
Omar:
o mar.
JOYCE IN SAMPA
Acordo
ced[o]/(ento). O corpo [de] amar/(elado) arfa, nu/lo. Gira a cabeça gira o
quarto gira o mundo gira. Maldito gim! Era r/um (?) ou
outro r[u]im (dói). Um co[r]po d’á(gua): um porto. A mulher púbia em pêlo me
ignoja. Dor/me. Eu [a] quero[,] (ir) embora. Meu desespelho se reflete no
banheiro. Vasomito silente, des/ca(r)go. Saio pé-antipétala. Ela so[zi]nha/ndo
(comi[go]?). Tropeço na sã(/Dália [me])dice. Talvez volte a ti[e]te(r). Rio de
nós. Tal vez em que nos encontramos: des/tino.
Saio
à rua[,](:) rot[o]/(a). In Sampa. Carros carram, velhozes. Nuvens nuvem. Nu vem
à (ca)beça. Pessoas pessoam: personas. Pés/sonham. Verbos vermem na mente.
A (c)idade não para.
Eu si[m]/g(n)o.
Preciso na/vagar,
ir lá.
Anda.
Edelson Nagues
6 comentários:
Fantásticos como tudo o que você inova. Edelson, você é um gênio!
Sua fã, Cecília
Mto obrigado, Cecilia. Fico feliz por vc ter gostado. E aceito o exagero como corolário de nossa amizade. Grande abraço.
(Edelson, é o mesmo comentário e o mesmo encantamento nas leituras...) As barras, chaves e colchetes parecem barreiras entre as letras mas não estagnam o significado. Antes, multiplicam como a "onda anda a onda..." No título, muitas funções para tão poucas letras agrupadas> Parabéns poeta, gostei muito dO/MAR.
Ai! que lindo!
A cada corte, um sentido é deixado e renovado e recuperado! Fôlego suspenso, há esquinas na leitura e em cada esquina uma surpresa.
As pa lavras se abraçam e se separam . A história enovelada em várias cores se contorce na convulsão das palavras que se estraçalham para compor o ex/interno de um mundo de prazer e de dor.
Arrepiada! Quero mastigar, sem pão, esse recheio!
Obrigado pela leitura e pelo comentário, Baltazar. Tais palavras, vindas de um poeta que eu tanto admiro, são um grande alento nesta sequidão da escrita. Grande abraço.
Edelson, meu querido, sou fã de sua inclinação generosa à experimentação, à busca de novos formatos. São textos assim que nos aproximam da multiplicidade de sentidos que a língua pode propor. Obrigado por mais este presente, poeta!
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