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segunda-feira, 3 de agosto de 2015

DOIS CONTOS EXPERIMENTAIS


O/MAR
 
 
                                                                             "Aflige ver de repente as pessoas na areia
                                       transformadas em pequenos riscos de carvão.”
                                   (Rubens Figueiredo – Barco a seco)

 
            O/mar vê: [a] pres(s)a (de) entrar. No horizonte, [a]riscos[,] (de carvão ba)lançam-se(: b)arcos. [En]/canto d[o](e) ser/(eia). (A)trai[,] O/mar.
            A onda anda a onda anda a onda anda a onda. Ao longe, [a]riscos[,] (de carvão:) corpos ao s[o](a)l, b(and)eira no cais.
            A mãe (se des)espera. Nada. Grita: “O!mar!”
            A onda anda a onda anda a onda anda a onda anda. Onde? “O!mar!” Nada. “Salvem!”
            Sal vem: nos olhos de/la, na garganta de cá.
            [A]braço(s) forte(s), luta de[s]/igua[l](is).
            A mã(o)[e]: a[!]deus.
            Omar: o mar.
 _____________________________________ 
 
JOYCE IN SAMPA
 
            Acordo ced[o]/(ento). O corpo [de] amar/(elado) arfa, nu/lo. Gira a cabeça gira o quarto gira o mundo gira. Maldito gim! Era r/um (?) ou outro r[u]im (dói). Um co[r]po d’á(gua): um porto. A mulher púbia em pêlo me ignoja. Dor/me. Eu [a] quero[,] (ir) embora. Meu desespelho se reflete no banheiro. Vasomito silente, des/ca(r)go. Saio pé-antipétala. Ela so[zi]nha/ndo (comi[go]?). Tropeço na sã(/Dália [me])dice. Talvez volte a ti[e]te(r). Rio de nós. Tal vez em que nos encontramos: des/tino.
            Saio à rua[,](:) rot[o]/(a). In Sampa. Carros carram, velhozes. Nuvens nuvem. Nu vem à (ca)beça. Pessoas pessoam: personas. Pés/sonham. Verbos vermem na mente.
A (c)idade não para. Eu si[m]/g(n)o.
Preciso na/vagar, ir lá.
            Anda.
  
Edelson Nagues
 
 

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Edelson Nagues
(nome literário de EDELSON RODRIGUES NASCIMENTO) é natural de Rondonópolis/MT e radicado em Brasília/DF. Estudou Direito e Filosofia, com pós-graduação em Língua Portuguesa. É poeta, escritor, revisor de textos e servidor público. Na década de 1980 e início da década seguinte, em seu estado de origem, atuou na área musical, como vocalista e principal letrista do Grupo Reciclagem, tendo participado de vários festivais universitários e de festivais regionais e nacionais da Caixa Econômica Federal, obtendo diversas premiações, inclusive como intérprete e letrista. Na época, funcionário da CEF, atuava como representante do então recém-criado Conjunto Cultural (hoje denominado Caixa Cultural) em Mato Grosso. Premiado e/ou selecionado para coletâneas em vários concursos literários, entre os quais se destacam: Concurso Nacional de Poesia “Adilson Reis dos Santos” (2012, Ponta Grossa/PR), XXXIII Concurso “Fellipe d’Oliveira” (2011, Santa Maria/RS), Prêmio Prefeitura de Niterói (2011), XXI Concurso Nacional de Contos “José Cândido de Carvalho” e XII FestiCampos de Poesia Falada (ambos em 2011, Campos dos Goytacazes/RJ), Concurso Novo Milênio de Literatura (Vila Velha/ES, 2010), IV Concurso Nacional de Contos do SESC-Amazonas (2010, Manaus/AM), VI Desafio dos Escritores (Brasília/DF, 2010), XL Concurso Literário “Escriba” (Piracicaba/SP, 2009). É autor dos livros Humanos (coletânea de contos premiados) e Águas de Clausura (de poesia, vencedor do X Prêmio Livraria Asabeça), ambos publicados pela Scortecci Editora. É membro correspondente da Academia Cachoeirense de Letras (de Cachoeiro de Itapemirim/ES) e mantém (ou tenta manter) o blog pessoal www.senaoescrevodoi.blogspot.com.
todo dia 03


6 comentários:

Fantásticos como tudo o que você inova. Edelson, você é um gênio!
Sua fã, Cecília

Mto obrigado, Cecilia. Fico feliz por vc ter gostado. E aceito o exagero como corolário de nossa amizade. Grande abraço.

(Edelson, é o mesmo comentário e o mesmo encantamento nas leituras...) As barras, chaves e colchetes parecem barreiras entre as letras mas não estagnam o significado. Antes, multiplicam como a "onda anda a onda..." No título, muitas funções para tão poucas letras agrupadas> Parabéns poeta, gostei muito dO/MAR.

Ai! que lindo!
A cada corte, um sentido é deixado e renovado e recuperado! Fôlego suspenso, há esquinas na leitura e em cada esquina uma surpresa.
As pa lavras se abraçam e se separam . A história enovelada em várias cores se contorce na convulsão das palavras que se estraçalham para compor o ex/interno de um mundo de prazer e de dor.

Arrepiada! Quero mastigar, sem pão, esse recheio!

Obrigado pela leitura e pelo comentário, Baltazar. Tais palavras, vindas de um poeta que eu tanto admiro, são um grande alento nesta sequidão da escrita. Grande abraço.

Edelson, meu querido, sou fã de sua inclinação generosa à experimentação, à busca de novos formatos. São textos assim que nos aproximam da multiplicidade de sentidos que a língua pode propor. Obrigado por mais este presente, poeta!

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