Dói. O amor que nunca chega, nunca basta, nunca fica. Dói. O pé inchado pelas pedras ásperas de cada busca estéril. E a cabeça cheia da aguardente de substituir afetos. E o sexo sem reflexo, urgente, mínimo. Dói. A madrugada dividida com outras esfinges; a insônia cortejada pela solidão. Dói. A boca sem sabor de outras; o corpo deslembrado de roçares, de mordidas, de sugadas. Dói. O rosto morto e insepulto confiscado pelo espelho canalha que mora no quarto de dormir. O riso congelado por adestramento. Dói a navalha cega do banheiro; dói o comprimido que faz o choro dormir; dói o silêncio no fundo do copo; dói a cova sem valia que é o peito. Dói ser. E isso é o que mais impressiona. Porque o não ser também dói.
Curto e grosso, recado soberbo da dor da solidao. Gostei, mas gostei demais, Cinthia. Fantàstico!!!
ResponderExcluirCecilia
Mais um texto arrebatador dessa poeta/escritora que não se cansa de nos encantar. Parabéns, Cinthia!
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirUm tsunami passou por aqui!!! Arrasou!!!
ResponderExcluirIntensidade. E metáforas que são concisões semânticas. Curto e afiado como um espinho.
ResponderExcluirCéus! Que espetáculo de texto! A gente não sai do mesmo jeito que chega.
ResponderExcluirObrigada, Edelson! Muita honra!
ResponderExcluirObrigada, Joaquim! Sua opinião é sempre muito importante pra mim!
ResponderExcluir"Dói ser. E isso é o que mais impressiona. Porque o não ser também dói."
ResponderExcluirMuito bom! Parabéns!
Obrigada, Eduardo!
ResponderExcluirlindo demais, intenso, preciso..!
ResponderExcluirObrigada, Daniel! :)
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