Fazia um dia
de um cinza
tão profundo
que a vida parecia
por ela passar
feito um filme
mudo
e na tela dos olhos dela
passavam vultos
de diferentes
instâncias
passavam nuvens
que imitavam monstros
e gotejavam ânsias
via o céu
por entre as frestas
da cortina vertical
da janela lateral
de seu devido lugar
de unidade de trabalho
de todo o dia.
Sentia tamanha incerteza
na matéria que a cercava
que não sabia se de fato
lá estava
acordada
ou se ainda dormia
e em sua cama rolava
e suava e lutava
para desvencilhar-se
de sonhos, membros
e lençóis
tolos
quentes
pesados
talvez arrastasse tal peso consigo
em (mais) uma ilusão diária de vida
torcia para ouvir o sinal
da escola
o alarme
da fábrica
um grito
um miado de gato
o despertador
e nada. fazia
um dia
de um silêncio
tão profundo
que parecia guardado
à parte
do mundo.
Tentou se levantar, tentou
partir, mas vencer
a gravidade não era tão fácil
quanto escrever
a respeito dela. permaneceu
presa
a seus compromissos
como quem arrasta uma bola de ferro
e resignação.
e quando o cinza de todo
escureceu
foi inclinada
a se deitar
para sonhar
ou fingir
que dormia
feito matrioska a se guardar
em sua eu de ontem.
confortou a si mesma
enrolando os dedos
nos longos cabelos
que já não tinha
a neles fiar
a esperança colorida
de um novo dia.
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