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quarta-feira, 18 de março de 2015

Proseando Cecília, ou

Menino, não morras porque a lua cheia vai se levantando do mar...

E convida à vida doce, à vida que vem e vai, o mar que é para te deitares, para boiar e não para morrer.

Não vás para o fundo, menino. Não vês as placas vermelhas? São os salva-vidas que as colocaram, há perigo nesse mar, há correnteza e fúria.

Não morras, menino, porque espero tanto de ti. Espero que venhas e me tires deste medo menina, o medo do mar, de ser.

Não morras, menino, porque às vezes o sol vem pousar em nossas costas. Há noites sem lua, mas há estrelas, conchas na areia, resquícios do que já foi vida.

Os salva-vidas colocaram as placas. Há as fitas amarelas e pretas, o perigo é grande. Eu vi um afogado no mar, menino.

A onda subia, corpulenta, a cabeça do homem um ponto diminuto, aparecia e desaparecia, até que chamaram o salva-vidas.

Eu vi o rosto exaurido do salva-vidas, a dor, o tormento. Não faças isso, menino, não deixes alguém arrastar por toda a vida uma culpa tamanha.

Não vás, menino, volta para a areia, está aqui aquele vira-lata que a gente gosta de brincar. O mar está escuro, não te vejo direito.

Vem, morrer afogado é muito triste. A lua está linda, não vês? Quer abraçar teu cansaço, salvar tua vida, te curar.

Me ouves, menino? Estou com frio, não quero entrar nesse mar avermelhado cheio de espuma.

Vem, minhas pernas estão se molhando, estou gelada, volta, o Cruzeiro do Sul está visível, vem, vem... 


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