Menino, não morras porque a lua cheia vai se levantando do mar...
E
convida à vida doce, à vida que vem e vai, o mar que é para te deitares, para
boiar e não para morrer.
Não
vás para o fundo, menino. Não vês as placas vermelhas? São os salva-vidas que
as colocaram, há perigo nesse mar, há correnteza e fúria.
Não
morras, menino, porque espero tanto de ti. Espero que venhas e me tires deste
medo menina, o medo do mar, de ser.
Não
morras, menino, porque às vezes o sol vem pousar em
nossas costas. Há noites sem lua, mas há estrelas, conchas na areia, resquícios
do que já foi vida.
Os
salva-vidas colocaram as placas. Há as fitas amarelas e pretas, o perigo é
grande. Eu vi um afogado no mar, menino.
A
onda subia, corpulenta, a cabeça do homem um ponto diminuto, aparecia e
desaparecia, até que chamaram o salva-vidas.
Eu
vi o rosto exaurido do salva-vidas, a dor, o tormento. Não faças isso, menino, não
deixes alguém arrastar por toda a vida uma culpa tamanha.
Não
vás, menino, volta para a areia, está aqui aquele vira-lata que a gente gosta
de brincar. O mar está escuro, não te vejo direito.
Vem,
morrer afogado é muito triste. A lua está linda, não vês? Quer abraçar teu
cansaço, salvar tua vida, te curar.
Me
ouves, menino? Estou com frio, não quero entrar nesse mar avermelhado cheio de
espuma.
Vem, minhas pernas estão se molhando, estou gelada, volta, o
Cruzeiro do Sul está visível, vem, vem...
1 comentários:
... excelente!...
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