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terça-feira, 10 de março de 2015

O que todo escritor deveria saber sobre ser rejeitado


Se há uma única verdade na carreira de escritor é que você será rejeitado. Não importa se você escreve bem ou mal, se é rico ou pobre, se é branco ou negro, se é homem ou mulher, se mora em São Paulo, no Rio ou no meio da floresta Amazônica.

Você será rejeitado.

Alguns ouvirão mais "nãos" do que outros. Alguns ouvirão "não" por mais tempo. Alguns ouvirão "não" até o dia em que morrerem.

As primeiras rejeições doem, principalmente porque o atingem naquele momento mais frágil, quando se está começando, quando qualquer aprovação ou elogio já nos insufla de esperança.
Tudo que um escritor em início de carreira quer ouvir é um "sim", por mais tímido e insignificante que seja. É o estímulo inicial, um sinal de que, pelo menos, ele tem algum talento ou alguma mensagem revelante.
Por isto é que as rejeições nesta etapa são tão brutais e inesquecíveis, pois atingem um ânimo frágil como porcelana. Muitos escritores jamais superam estas recusas, abandonando qualquer projeto futuro de escrita.
No fundo, estes não eram talhados para a carreira, que não é feita somente de rejeições, mas também de críticas ácidas, muitas vezes destrutivas. Às vezes, até aquele que acolhe bem um "não" tem dificuldades para suportar os comentários negativos depois. São duas capacidades complementares de suportar a dor.

As rejeições virão de todos os níveis.
Certamente que os grandes não aceitarão nada vindo de um desconhecido. As portas das grandes editoras raramente estão abertas para completos anônimos.
O mesmo vale para importantes revistas literárias e suplementos culturais, bem como para prêmios literários que pagam bem.
Na verdade, se você não tiver um currículo impressionante, nem será lido.
As editoras menores poderão até ser mais acessíveis e, usualmente, são as portas de entrada de autores estreantes, porém, assim como você, há uma legião de iniciantes também investindo neste caminho. Muitos deles escreverão melhor do que você, já terão mais tempo de estrada, já terão um nome neste meio, e até assim você ouvirá um "não".

A escrita não é uma competição, de quem escreve melhor ou pior, porém, até conquistar seu espaço, você terá de disputar com os outros.
A carreira literária não é exatamente uma maratona, que ganha quem chegar em primeiro, é mais como uma corrida pela sobrevivência: quem aguentar até o final, quem suportar mais rasteiras, quem levar mais porrada sem ser nocauteado também é ganhador.
Acima de tudo, persistência (ou teimosia) é mais importante do que talento.

Em algum momento, você se acostumará a ouvir "não", ao ponto de nem se abalar mais. Será como uma coleção qualquer, de selos, moedas, borboletas, cartas de recusas de editoras.

Um dia, talvez você ouça um "sim". Comemore, estoure um champanhe, grite sozinho no quarto. Talvez seja o primeiro "sim" de muitos, mas pode ser que seja o único "sim" de sua carreira.
Simplesmente não há como saber.

Com o tempo, as portas talvez comecem a se abrir. Primeiro uma, depois outra, depois várias. Então, haverá tantas portas abertas que você nem saberá em qual entrar.
Frequentemente, os mesmos que rejeitaram aquela mesma obra agora a aceitarão.
No entanto, cuidado, basta um passo em falso para que todas estas portas se fechem novamente. Este não é um ramo que perdoa deslizes. Cometa um erro grave e você terá de batalhar tudo de novo.

Você será rejeitado, caro escritor, inevitavelmente. Até os grandes passaram por isto, até os Prêmios Nobel de Literatura, até os imortais que você estudou na escola, até os gênios da escrita.
Não que isto sirva de consolo, mas alguns dos maiores autores de todos os tempos morreram no anonimato. Eles fizeram da escrita uma cruzada, confrontando um inimigo invencível, sem certezas algumas.
Você será rejeitado, mas é a aceitação que nos move adiante. A expectativa da aceitação. A expectativa de sermos lidos. A expectativa de sermos reconhecidos como escritores.
Você será rejeitado, mas também poderá ser aceito.
Então por que não tentar?
Por que não insistir um pouco mais?
Por que não confiar em seu dom?
Por que não continuar escrevendo, dividindo com o mundo seus sonhos, mágoas e reflexões?
Por que não?

(fonte da imagem: http://www.flickr.com/photos/mthierry/4595284293/sizes/z/)

Publicado originalmente no Blog do Escritor

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3 comentários:

Este comentário foi removido pelo autor.

Que bom ler esse texto, Henry! É uma dura e crua realidade essa que você coloca, principalmente aqui na terrinha. Mas, como você bem finaliza: Por que não insistir mais? Por que não?

Adorei, Henry! Escrevemos porque precisamos escrever, e há que suportar os nãos todos, que vieram, vêm e virão.

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