No dia cinco de outubro, fui ao Consulado-Geral do Brasil em Tóquio, para votar nas eleições presidenciais.
Confesso que não sou um fanático por eleições ― na verdade, assumo até mesmo um certo cinismo quanto o assunto é o “poder do voto” em nosso historicamente viciado sistema eleitoral. Mas, sim, fui cumprir meu dever, como cidadão brasileiro.
E sob uma chuva torrencial, vale frisar. E, para quem duvida do sentimento de brasilidade daqueles que residem no exterior, um testemunho: uma multidão de compatriotas enfrentava uma imensa fila ― na verdade, quatro ou cinco, em virtude de confusas instruções sobre a qual das filas deveríamos nos dirigir ―, para participar de mais esse importante momento político de nossa amada (e longínqua) nação. Tudo pelo lema: “Pra frente, Brasil!”.
Mas o problema era que a fila parecia não andar ― o que ainda se complicava pela chegada de alguns brasileiros tentando passar à frente para fazer perguntas desnecessárias aos funcionários do Consulado ― tipo: “onde tiro meu título de eleitor?” (alguns sequer sabiam que era dia da eleição!). Nesse quesito, houve mesmo um senhor que roubou a cena: falando com o funcionário numa língua indecifrável ― misto de Português, Japonês e Marciano. E, depois de discutirem entre si sobre como poderiam decodificar a mensagem que aquele estranho ser tentava transmitir aos terráqueos, um dos funcionários finalmente descobriu de que aquele falava, na verdade, um idioma de alcance universal: o do álcool. De tal modo que foi convidado a retirar-se da fila, para que o Brasil pudesse continuar caminhando rumo a dias melhores. Ou, pelo menos, para proteger-se da chuva.
E dia vinte e seis, como já se sabe, tem mais. E eu irei, de novo, claro: esperando, como todo brasileiro, que, depois da tempestade, não venha a alagação.
2 comentários:
Crônica deliciosa e verdadeira! Esse fecho foi de ouro! Também esperando que não venha a alagação. Parabéns!
Obrigado, amiga Cinthia. Muito grato mesmo por suas palavras. E torcendo para que, a partir de amanha, nosso amado Brasil tome rumos melhores. Beijos, querida.
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