Zuleika
Atrasado. Bijuterias e
joias falsas. Os olhares sobre. Para no corredor. Quatro passos, e a mesa no
centro da sala. Colares e pingentes pulsam. No pescoço, o coração. Os pés
acorrentados, tornozeleiras de chumbo (comprou como prata). O primeiro, lento.
Não podia ver barracas ou camelôs. Já saía usando. “Não acha que está
exagerando, filho?” A mãe, na única visita. Deu de ombros. Mais um, arrasta uma
tonelada. “Parece uma puta rampeira! Não criei filho pra isso!” O pai, mal
chegando e já indo. Deu de costas. O garotinho já morto. Mas agora... Outro,
nem sente. Puxa o piercing do umbigo.
Dói, não dói. Trava os dentes. O que era prata, chumbo. Dos olhares. O
seu mira a janela, agora desfocada. Um passo, a mesa,
mais três. De cima para baixo, antevê: continhas pela calçada, pulseiras e
colares espalhados, o piercing enfim
livre da pele. No centro – a mesa – da sala. Deixa para trás. Agora, só mais um
passo e
d
o
z
e
andares.
Edelson Nagues
Do livro Humanos (Editora Scortecci).
Edelson Nagues
Do livro Humanos (Editora Scortecci).
5 comentários:
Edelson, que narrativa psicológica e emocionalmente trágica. Dor. A moral sempre maior que a física. Tudo o que eu adoro. E que só pode ser feito por alguém com a mão igual à sua. Tu, poemas. Mas eu, definitivamente, te encontro mais na prosa. Dessa qualidade aí! Muuuito bom!
Muito bom mesmo. Exclente!
Mto obrigado, Cinthia e Cecilia. Vcs sempre amigas, sempre presentes...Abraços.
Cinthia, ando preguiçoso pra prosa (esse é um miniconto antigo), mas alguns textos que escrevo me deixam contente. A poesia ultimamente tem fluído mais fácil. Vou deixando ela me levar...
Muito bom, cara.
Valeu, André! Obrigado pela leitura.
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