― Meu nome é Enéas!
A juventude talvez desconheça por completo a existência dessa figura folclórica da política brasileira: o médico Enéas Carneiro, que, em virtude do pouco tempo na tevê disponível a seu partido, disparava uma metralhadora verbal (mais de protestos que de propostas), encerrando sempre com a frase supracitada.
E foi assim que, nas eleições presidenciais de 1989 (a primeira após a redemocratização), doutor Enéas conquistou o voto do eleitor mais irreverente – uma minoria, claro, que buscava uma alternativa mais bem-humorada que sindicalistas raivosos ou caçadores de marajás.
O doutor Enéas pode não haver saído vitorioso nas urnas, mas indubitavelmente fez história. Não que ele tenha sido o pioneiro em trazer sorrisos aos rostos dos eleitores cansados da mesmice. Muitos já o haviam feito antes ― Jânio Quadros com as vassourinhas, por exemplo.
Aliás, no quesito “boas risadas”, o horário eleitoral tem sido, ao longo da história, bem melhor que a maioria dos programas humorísticos, com aquele apresentando um hilário desfile de “chicas chicletes”, “pés de cana”, etc; que, pasmem, às vezes acabam conquistando, mais que os sorrisos, também os votos do cidadão brasileiro.
Morando há treze anos no Japão ― um país sem voto obrigatório nem campanhas partidárias na tevê ―; confesso estar com saudades do horário eleitoral gratuito (e alguns dirão: “é porque você não tem que aguentar isso todos os dias”). Saudades, sim, mais das figuras folclóricas que do processo eleitoral em si. Este, sabemos, é um show de ilusões, que sempre resulta em decepções quando as cortinas se fecham em outubro.
Então que até lá, pelo menos, nós, os palhaços, possamos rir todos juntos.
4 comentários:
A sua crónica é deliciosamente divertida! Eu desconhecia a realidade do Japão, mas quanto às campanhas eleitorais no Brasil, elas também já têm alguns seguidores atentos em Portugal!!!! Haja bom humor, mesmo quando falta seriedade e consistência por parte de algumas campanhas políticas. Abraços luso angolanos Luísa
«um país no qual o voto não é obrigatório e, consequentemente, onde inexiste a campanha na tevê» - Consequentemente? Parece-me que mais se justificaria nesse caso, a fim de cativar alguns potenciais eleitores que assim deverão abster-se. Suponho que a abstenção seja enorme.
Tambem pode ser visto dessa forma, amigo Joaquim. Mas o fato e que realmente a abstencao e alta: e fico feliz por isso. Quanto maior o grau de instrucao, menor a obrigatoriedade do voto, ao meu ver. Abracos e obrigado pelo comentario.
Obrigado pelo comentario, amiga Luisa. Pois e: essas diversidades sao fantasticas e merecem registro. Um grande abraco poetico. :)E obrigado pelas palavras.
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