A tristeza me assola, com seu chiado estranhamente cheio de cadência, como os açoites da chibata que cobria os corpos dos escravos: 40 golpes, menos um. Era o que se considerava suportável.
Soa-me inverossímil quando ouço falarem que um corpo aguenta mais do que essa quantidade de flagelos. No entanto, certamente sim.
No rádio, a música antiga alcança o conhecido refrão: "Father, forgive me". E eu o pedi tantas vezes que acredito que a expiação já foi suficiente e o perdão amplamente concedido.
Mesmo assim, na minha mente ressoa:
"Mea culpa
Mea culpa
Mea maxima culpa".
A chibata bate mais uma vez nos meus costados. O sangue corre e a tristeza não passa.
Ergo-me do piso frio onde estive de joelhos por um século. Lavo os vergões e cubro meu tórax com a toga preta, que ocultará a vergonha de ter feito as duras escolhas que me conduziram até aqui.
Os refrões se repetem mais uma vez. A culpa me persegue na estrada. Não há uma face transmudada pela beatificação, pois nunca me foi pedido tal sacrifício.
E por sobre este rosto cansado visto a máscara da força e destemor. Enquanto isso a alma verga, embora ninguém tenha me obrigado a aceitar tão prontamente os papéis de juiz, júri, condenado e executor.
2 comentários:
Texto forte, encorpado, maravilhoso. Parabéns!
Muito obrigada pela leitura e comentário Cinthia.
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