SEPARAÇÃO
O relógio, pênsil,
na parede fosca,
marca o descompasso
de uma hora morta.
Um vulto autômato
atravessa a casa;
curva-se o silêncio
num canto da sala.
As mãos, já estranhas,
em vagar confuso,
tateiam os mapas
de apartados mundos.
Do quarto, o retrato,
que jaz em decúbito,
será esquecido,
como peso inútil.
Na despensa escura,
da qual não há chave,
rancor em conserva
no sal das palavras.
Há dor, no interstício
do arrependimento,
que arrebenta portas,
sem sair de dentro.
Há cacos de vidro
no chão e nos olhos:
sem foco, a imagem
que sai, vida afora.
Há, enfim, o choro
não compartilhado,
de quem fica, indo,
e de quem nem sabe.
(Edelson Nagues)
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