Para um país que recebeu tantos europeus durante e logo após a Segunda Guerra, fossem eles fugitivos dos nazistas ou nazistas fugitivos, o Brasil produziu pouca ficção sobre o tema. O cinema também é escasso. E assim, vamos nos esquecendo de fatos e personagens que passaram por aqui - ao mesmo tempo em que consolidamos uma ideia esquisita de que nada tivemos com a guerra e o pós-guerra.
Mengele é o mais famoso dos nazistas que viveram por aqui. Na década de 80 foi revelado que ele morreu afogado numa praia paulista. Viveu por aqui por muitos anos e jamais foi incomodado. A descoberta de seu paradeiro somente aconteceu mais de cinco anos depois de sua morte.
Outros personagens passaram por aqui sem esconder sua identidade. Muitos deles carregavam uma fama de herói que não combinava com as recentes acusações de atrocidades durante a ocupação nazista. Um deles foi Herbert Curkus (1900-1965), personagem do romance histórico O cisne e o aviador, de Heliete Vaitsman, jornalista, recém publicado pela Rocco.
Um herói da aviação, realizou alguns voos históricos. Lutou contra os soviéticos. No entanto, sua biografia é ocupada por outras atividades, como a de assassino de judeus e membro do pavoroso Comando Arajs em Riga, na sua Letônia natal, colaboracionista de primeira hora dos nazistas e responsável pelo extermínio de mais de 26 mil judeus, além de ciganos e doentes mentais. No Rio, introduziu o pedalinho da Lagoa.
O romance conta a história de Frida e sua família. Ela a conta a Brígida, sua neta (estamos no século XXI, a avó com seus noventa e tantos). Eles desembarcaram no Rio durante a guerra. Ela vê Cukurs pela primeira vez nos tais pedalinhos. Para ela, um herói, que lutou contra os comunistas. Ele chegou por aqui como agricultor, chegando no mesmo navio que trazia para cá Rosa e Iosse. O navio vagou por meses e oceanos até encontrar um porto que o acolhesse. Aqui, começariam vida nova. Foram morar num prédio que abrigava outros judeus, como Waldemar, um alfaiate (e comunista). Sua mulher, Clara, é grande amiga de Rosa, a única que realmente conhece a verdadeira história de Cukurs.
A milícia anticomunista de Viktor Arajs, um tenente de polícia conhecido pela brutalidade, colaborou com os nazistas desde o primeiro dia. Os milicianos chegavam às cidadezinhas em carros, motocicletas, ônibus azuis, e atiravam nos judeus. As pessoas ouviam o ruído dos motores e corriam para tentar se esconder, lembra Rosa. Dizem, eu nunca vi. Herberts Cukurs andava com eles, num Cadillac especial. Pistola na mão, casaco de couro negro dos pilotos, tornou-se o principal motorista de Arajs e um de seus mecânicos mais competentes. Dizem, eu nunca o encontrei, trabalhava ba granja quando Deus nos abandonou. Antes, ele tinha pilotado aviões Yak para a Força Aérea soviética. Só no desembarque do navio eu o vi, com o mesmo casaco e rodeado de fantasmas (...)
O romance conta a história de Frida e sua família. Ela a conta a Brígida, sua neta (estamos no século XXI, a avó com seus noventa e tantos). Eles desembarcaram no Rio durante a guerra. Ela vê Cukurs pela primeira vez nos tais pedalinhos. Para ela, um herói, que lutou contra os comunistas. Ele chegou por aqui como agricultor, chegando no mesmo navio que trazia para cá Rosa e Iosse. O navio vagou por meses e oceanos até encontrar um porto que o acolhesse. Aqui, começariam vida nova. Foram morar num prédio que abrigava outros judeus, como Waldemar, um alfaiate (e comunista). Sua mulher, Clara, é grande amiga de Rosa, a única que realmente conhece a verdadeira história de Cukurs.
A milícia anticomunista de Viktor Arajs, um tenente de polícia conhecido pela brutalidade, colaborou com os nazistas desde o primeiro dia. Os milicianos chegavam às cidadezinhas em carros, motocicletas, ônibus azuis, e atiravam nos judeus. As pessoas ouviam o ruído dos motores e corriam para tentar se esconder, lembra Rosa. Dizem, eu nunca vi. Herberts Cukurs andava com eles, num Cadillac especial. Pistola na mão, casaco de couro negro dos pilotos, tornou-se o principal motorista de Arajs e um de seus mecânicos mais competentes. Dizem, eu nunca o encontrei, trabalhava ba granja quando Deus nos abandonou. Antes, ele tinha pilotado aviões Yak para a Força Aérea soviética. Só no desembarque do navio eu o vi, com o mesmo casaco e rodeado de fantasmas (...)
Uma parte da comunidade judaica no Rio, acusou-o de atrocidades, o que ele sempre negou. Em um incidente mais grave, sua empresa de exploração dos pedalinhos foi depredada - o que levou a muitos veículos de comunicação a admitir abertamente seu próprio antissemitismo (afinal, os judeus deveriam agradecer o fato de viverem no Brasil. Um jornalista escreveu que os judeus estrangeiros envolvidos deveriam ser expulsos, e os brasileiros, lembrados "deviam respeitar a sua pátria no Brasil, e não se revelarem mais filhos de Israel do que nossos irmãos"... se você acompanha o noticiário internacional, verá como a Hungria está pensando assim). Depois do episódio Eichmann, viu-se constantemente ameaçado; em 1965 Cukurs foi assassinado no Uruguai e posto numa mala. Os autores? "Aqueles que não esquecem", dizia o bilhete. O Mossad.
O grande mérito de Heliete Vaitsman é resgatá-lo do esquecimento, através de um romance histórico. A pesquisa da autora é admirável - há trechos de depoimentos e de testemunhos. E ficamos conhecendo um pouco do pós-guerra num lugar pouco provável - o Rio, os imigrantes e as autoridades brasileiras.
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