Encontrar um hotel daqueles justamente quando
estavam perdidos havia sido um golpe de sorte. As recusas dele em pedir
informações fizeram com que eles saíssem da estrada principal. E ali, no meio
do nada, depois de pegarem uma estradinha de terra, acidentada, e de uma chuva
torrencial que dificultara ainda mais as coisas, surgia, como um oásis, aquele
hotelzinho aconchegante.
Nem parecia que estavam em lua-de-mel. Não que não
fossem apaixonados, mas a sucessão de episódios ruins desde que saíram do
trajeto original os havia estressado a tal ponto que ambos só desejavam agora
um local decente para tomar um banho e dormir. Ela, pateticamente trajando um
vestido de noiva, queria manter a tradição e ser carregada no colo pelo noivo,
o que agora, com o coque desfeito e o vestido amarrotado, parecia totalmente
ridículo.
Ângela foi a primeira a entrar. Tocou insistentemente
a campainha em cima do balcão, mas ninguém apareceu. Carlos entrou em seguida,
carregando as malas e depositando-as no hall
de entrada.
– Olha só
que gracinha de hotel! – ela
parecia deslumbrada.
– Estou
tão cansado que dormiria até neste sofá –
ele declarou, desanimado, indicando, com os olhos, um sofá no outro canto do
saguão.
– Acho
que não tem ninguém aqui. O que a gente faz agora?
– Se
ninguém aparecer, pegamos uma chave, e...
– O
quarto oito é perfeito para vocês –
Carlos foi interrompido.
Ambos olharam para o ponto de onde viera a voz. Um
homem de meia-idade, levemente antipático, surgira na recepção.
– São
recém-casados. – afirmou, tentando parecer
simpático, enquanto olhava o vestido dela.
– Que ótimo! Sempre temos o que o cliente deseja. A suíte oito é uma das mais
procuradas, e passou por uma reforma recentemente – dizendo isso, o homem
pegou as malas e começou a carregá-las em direção ao quarto.
Carlos e Ângela entreolharam-se.
– Espere.
Nem preenchemos a ficha ainda.
– Não faltará
tempo. Agora podem subir – o
funcionário respondeu secamente.
O quarto era de fato belíssimo. Quem visse o hotel
pelo lado de fora não poderia imaginar uma decoração tão esmerada. Era simples,
mas possuía um inegável toque de classe. Uma decoração em tons florais conferia
um ar romântico ao cômodo.
– Não é
exatamente o resort para onde iríamos, mas até que é simpático, não é? – ele perguntou, passando os braços em torno dela.
A tensão dissipara-se.
– Você
está brincando? Isso aqui é maravilhoso! Eu poderia passar o resto da minha
vida aqui – disse Ângela, com os olhos
brilhando.
– Acho
que desconhecem o conceito de serviço de quarto por aqui – a voz dela denotou impaciência ao perceber que o
telefone estava mudo.
– Vou
descer e tentar conseguir algo para comer.
–
Devíamos ter trazido um pedaço do bolo. Dizem que os noivos nunca aproveitam a
festa.
Ela entrou no banheiro e despiu o vestido de noiva,
ligando a água da banheira. Um relaxante banho era tudo de que precisavam. Se a
comida fosse ruim, partiriam de manhã rumo ao hotel reservado.
Os minutos se passavam e Carlos não retornava.
Vestindo-se novamente, ela desceu as escadas, procurando algum sinal de vida.
Nem o rabugento homem da recepção estava mais ali.
Todos os quartos, à exceção da suíte em que estavam
alojados, pareciam vazios e trancados. A cozinha, modesta porém ampla, estava
igualmente vazia. Lançou mão de uma garrafa e saiu rapidamente, percorrendo
toda a ala daquele andar. Aturdida, correu até o lugar onde haviam estacionado
o carro, e constatou que ele permanecia no mesmo lugar, e era o único ali.
Amedrontada, começou a chamar pelo marido, sem
resposta. Sua voz, que ficava um tanto esganiçada quando ela ficava nervosa,
estava agora irreconhecível. Percorrendo toda a extensão do hotel, gritava,
agora realmente desesperada.
Após refazer o percurso, certificando-se de que não
se esquecera de nada, esquadrinhou novamente o hall e o saguão, que lhe pareceram um tanto diferentes.
Exausta, retornou ao quarto, munida de uma bebida
forte que encontrara na cozinha. Soluçando, encolheu-se ao pé da cama, quase em
posição fetal. Os longos cabelos negros estavam agora totalmente desgrenhados,
e a maquiagem borrara-se por completo. Nesse momento, a porta abriu-se e o
antipático funcionário sorriu-lhe.
– Onde
está meu marido? O que fizeram com ele? –
o tom histérico em sua voz não pareceu perturbar o homem, que se limitou a
estender-lhe a mão.
– Cuidado
com o que deseja, minha cara.
...
Uma semana depois, um homem encontrava um hotel que
não constava do mapa. Perfeito para sumir por uns dias, até que ninguém o
pudesse ligar ao roubo do dinheiro do cofre. O hotel era pequeno, rústico, e, o
melhor de tudo: discreto. Parecia quase invisível aos olhos de quem passasse
por aquela estradinha pouco usada.
Ao entrar, foi atendido por uma simpática jovem, de
longos cabelos negros. Seu olhar avivou-se quando ele perguntou se havia algum
quarto disponível.
– Eu
preciso de um lugar sossegado, pois não quero ser importunado. O lugar aqui é
tranquilo?
– Temos
exatamente aquilo que o senhor quer –
respondeu ela, com um sorriso. – Sempre
temos o que os clientes desejam.
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