Era domingo ensolarado. Enquanto
o mofo aflorava na parede branca, a mulher varria. Varria sem se dar por conta
de suas ações, imersa no pó e cheiro sufocante que a umidade proporcionava.
Carregava os cadernos, livros e
folhas de cá para lá, lá para cá. Numa dessas “viagens”, encontrou uma formiga,
daquelas maiores e bem escuras. Forma ovalada e patas fortes. Não pensou duas
vezes, esmagou o quanto pode o pobre bicho e o soltou no chão.
Continuou na sua tarefa, abrindo
e fechando folhas, selecionando o que era importante, tirando o pó da estante,
organizando os livros na ordem que considerava melhor. Assim seguiu por mais um
tempo. Mas o chão ainda estava todo sujo, lá foi ela buscar a vassoura e dar um
jeito nisso tudo.
Limpando com uma delicadeza
firme, a mulher viu que a formiga tentava, bravamente, recostar-se nas arestas
da parede e se reerguer. Quase sem pensar (segunda vez, que se pudesse contar,
em menos de meia hora) esmagou o bicho novamente. Que criatura mais insistente!
Ainda quando depositava o pobre
resto de bolotas que um dia foi corpo, as poucas patas que formavam algo como
fios de arame, era possível perceber que ainda se movimentava. Com muita,
muita, dificuldade. Mas se mexia. Era um ser que vivia, não atrapalhava, não
oferecia risco. Não era uma criatura repugnante. Era um inseto comum, digno de
respeito como qualquer outro ser respirante no universo.
A mulher deu de ombros e varreu o
lixo para a rua. Nisso, pensou na crueldade que cometera. No meio do pó estava
envolto o corpo daquele ser cuja vontade de permanecer naquela vida de andar no
meio de móveis e pedras superava seu tamanho tão pequeno.
Pensou em dar moral para essa
história, mas essa história não tem moral. A verdade é que a gente mata o tempo
inteiro, quando precisa e quando nem sabe bem o motivo.
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