Joaquim
Bispo
Antes. Para os
brasileiros e mesmo para os meus compatriotas mais novos, é-me praticamente
impossível fornecer uma ideia clara de como se vivia em Portugal durante o
Estado Novo – o regime que vigorou entre 1926 e 1974, sensivelmente com os
mesmos valores: Deus, Pátria, Família. Ainda pensei descrever uma lista de
situações que contextualizassem a vida de então, mas desisti de o fazer, tão descomunal
me parece a tarefa.
Então, a
25 de abril de 1974, faz hoje 40 anos, na sequência de uma reivindicação
corporativa, os oficiais menos graduados das Forças Armadas, capitães e
majores, sobretudo, lideraram uma ação militar que derrubou o regime, ato que
foi imediata, entusiástica e maciçamente apoiado pela população. Com tal
unanimidade, durante os meses seguintes, nem o céu parecia o limite.
25 de abril,
quinta-feira, 9 horas. O jovem
atravessa o parque Eduardo VII em diagonal. Está dez minutos atrasado para o
emprego, como habitualmente. À vista da rua onde trabalha percebe que o
trânsito para o bairro está cortado por militares. Inquirido, um deles diz-lhe
que não pode passar, sem mais explicações. O jovem volta para casa,
conjeturando que tem uma boa desculpa para dar ao patrão, se ele o questionar
nesse sentido.
Pelas dez
e meia ou onze, o jovem rejubila ao ouvir pela rádio que está em curso um
movimento militar que parece querer derrubar o governo. O jovem lia
frequentemente jornais que
insinuavam, nas entrelinhas, mudanças políticas iminentes – um que vinha da Madeira impresso em papel cor-de-rosa e o Diário de Lisboa –, mas o governo
representava para ele, sobretudo, a asfixiante ordem eterna, parada em
conceitos desatualizados. Toda a gente dizia mal, numa impotência cómoda,
porque havia a certeza de que o regime nunca mudaria. A prová-lo, estava o
tosco “golpe das Caldas”, um mês
antes.
E da manhã, da
tarde e da noite se faz o dia primeiro. Na tarde soalheira do dia 25 de Abril de 74, um casal
estrangeiro, de língua inglesa, passeia pelo parque Eduardo VII, misturado com
os outros passeantes portugueses que desfrutam o feriado inesperado. Dos lados
da Baixa chegam, de quando em quando, sons de alvoroço popular. Não sei se o
casal sabe o que se está a passar no país, mas o homem comenta, sorridente, para
a mulher: “Deve ser por causa do
Benfica!” Como está enganado!
No supermercado o jovem repara
admirado que as pessoas estão a comprar quantidades anormais de víveres,
sobretudo enlatados. Acha aquela atitude desproporcionada. Além de meia dúzia
de polícias com cães, cosidos nos portais da António Augusto de Aguiar, com ar
furtivo e preocupado, nada parece indicar qualquer ameaça de resposta da “situação”.
À noite, na televisão, o jornalista apresenta
a Junta de Salvação Nacional – uma mesa atestada de generais soturnos e mal-encarados.
Mas então? Onde estão os capitães de
que falam as notícias? Não é que o jovem tenha, desde a tropa, uma grande
consideração por capitães do quadro, mas generais? Spínola? Escreveu um livro
crítico, e então? É do regime… Para que o poder “não caia na rua”, já vai
ao beija-mão?
E quem são os outros
emproados?
Alívio! As dificuldades do regime em
conseguir quadros militares suficientes para sustentar a guerra do Ultramar obriga
a certos estratagemas. Os oficiais milicianos que não tenham ido ao Ultramar,
durante o tempo normal de tropa, podem ser novamente chamados, após alguns anos
de dispensa. É-lhes dado um curso de capitães em Mafra e seguem para um dos
teatros de guerra no Ultramar: Guiné, Angola ou Moçambique. Alguns preferem
oferecer-se para ir a África durante o tempo normal e despacharem a questão, do
que ficarem em risco de fazer tropa duas vezes.
O jovem tinha feito três anos e três
meses de tropa, mas sempre na Metrópole. Por duas vezes esteve prestes a ser
mobilizado para o Ultramar. Sempre as circunstâncias o salvaram. Numa delas,
outro se ofereceu para ir em seu lugar. Pelo 25 de abril, faltarão uns dois
anos para ser eventualmente chamado de novo. De tempos a tempos, já tem sonhos onde se vê outra vez na tropa, o que não é muito agradável. Quando
o discurso dos revoltosos de abril dá indicações de que a política ultramarina
se irá alterar, o jovem sente um alívio enorme, enorme. [Vocês
não veem, mas, apesar de o texto ser meu, ao relê-lo emociono-me.]
Comunistas. Antes do 25 de abril havia certos
assuntos que se evitavam naturalmente. Um deles era comunismo. Os funcionários
públicos tinham que jurar rejeitar a ideologia comunista. Sabia-se que o poder
não gostava do conceito nem dos seus praticantes. A autocensura levou o
jovem, certa vez, numa entrevista, a ficar atrapalhado por ter dito que gostava
de ser útil à comunidade. Seria que isso poderia ser lido como proximidade de
outras palavras com a mesma raiz?
Três ou quatro dias depois do 25 de abril,
as capas dos jornais anunciam a chegada de Álvaro Cunhal, líder máximo do
Partido Comunista Português, nome que o jovem nunca tinha ouvido. O
condicionamento fá-lo ter um momento de apreensão: O quê, os comunistas vêm aí,
às claras, confiantes e aceites? Nesse momento, o jovem começa a tomar
consciência de que estão a chegar tempos muito diferentes, não pelos comunistas
em si, mas pela previsível abertura a múltiplas e variadas realidades até aí
interditas.
O primeiro
1º de Maio. O 1º de maio
de 1974 é inesquecível. Ou antes, as manifestações. A manifestação de Lisboa
começa na Baixa e dirige-se para o estádio do Inatel, já próximo do aeroporto. São
muitos os milhares de pessoas a desfilar. Entre os primeiros a chegar e os
últimos, talvez medeiem duas horas. Toda a tarde se desfila pela Almirante Reis
acima. É um rio de gente a caminhar com um sentimento bom de reencontro, de
partilha, de comunhão, de vitória sem raiva. Há um estado de graça nos sorrisos,
no convite aos que estão pelos passeios, nas saudações a quem não se conhece.
Não há ainda divisões. Estamos felizes. Estamos todos finalmente livres.
Simplesmente. [Emoção.]
«Uma gaivota
voava…» A sensação
de liberdade, a convicção de que o destino de cada um passa agora pelas suas
mãos, leva a que muitas pessoas quebrem as cadeias sociais ou rotineiras que as
prendem. Há que levar a verdade não só ao político como ao social, à vida de
cada um. Os divórcios saltam em flecha. A contestação nas empresas leva
mais facilmente ao rompimento dos laços contratuais. A fuga de alguns
empresários mais comprometidos, associada à convicção de que os patrões não têm
função produtiva, logo são parasitas, leva a tentativas de controlo das
empresas pelos trabalhadores. Pelo menos, tentar uma cogestão que devolva
alguma verdade às relações de produção. O Estado é chamado a intervir em
inúmeras situações, quer para legitimar a continuação da produção de empresas
cujo proprietário fugira, quer para assegurar a gestão de empresas onde o
conflito patrões/empregados ameaça paralisá-las. Desde grandes empresas até
padarias, por exemplo.
«… Como ela
somos livres de voar.» A contestação, a reclamação de direitos nunca reconhecidos, faz surgir
lutas nunca vistas. Uma que surge logo nas primeiras três semanas e que causa celeuma é uma luta das prostitutas, já não sei por que direito. A televisão –
dois canais públicos a preto e branco – abre-se ao discurso popular, à queixa
debitada pelo homem da rua. As pessoas têm finalmente acesso a divulgar os seus
problemas. Os telejornais estão repletos de queixas, de afirmação de direitos,
de cobertura das lutas laborais. Um dos programas mais populares trata de
desmascarar práticas desonestas de comércio, com produtos fora de prazo,
defeituosos, queixas de consumo, em suma.
Tomar café na
associação. A luta
laboral vai levando a que o trabalho seja melhor pago, quanto mais penalizante seja
para o trabalhador. O trabalho noturno pago por valores mais altos, leva a que
a vida noturna da capital se altere, pelo menos ao nível das cervejarias e
outro pequeno comércio de restauração. Algum deste comércio que fechava por
vezes às 2 da manhã, passa a fechar muito mais cedo, devido aos novos valores
do trabalho noturno, acho eu. A noite lisboeta fica mais triste, com menos
oferta.
Os novos conceitos de “endinheirado
igual a fascista”, levam a uma fachada contida e à retirada para núcleos mais
restritos, uns, ou para os inúmeros núcleos associativos – cooperativas,
sindicatos ou partidos –, outros. Aí são agora os novos locais de eleição para
os encontros e os namoros.
«O que se
passa aqui, que tudo está tão diferente…?» De repente as coisas estão diferentes. Interessa mais o “ser” que o “ter”, há que ser solidário e não
competitivo, há que participar ativamente nas tarefas que são de todos, a
alfabetizar, a esclarecer, a ajudar em qualquer aspeto da vida coletiva da
sociedade, nem que seja só colar cartazes, gerir a pequena associação cultural
ou participar nas manifestações.
De repente, o que se tinha aprendido
está desatualizado. As relações políticas, sociais, familiares e até pessoais
pautam-se por outras normas. Há a sensação de que é preciso desaprender tudo e
aprender tudo de novo. Lê-se Engels, Lenine, Marx, Mao, Wilhelm Reich. Livros
com títulos como “O que é a consciência de classe?”, “A conquista do pão” ou “A
origem da família da propriedade e do Estado”, andam por algumas
mesas-de-cabeceira. Aprender, aprender, recuperar o tempo perdido, é
preciso.
«A cantiga é uma arma.» Entretanto, os militares, cuja consciência
política, na maioria, parece advir das mensagens emocionais contidas nas
canções de intervenção, começam a absorver as ideologias dos partidos e a dividir-se.
O ano e meio que se segue é um carrossel de factos políticos, com os partidos a digladiarem-se, a
tentarem controlar as diversas tendências que os militares vão manifestando, em
osmose de ideias políticas.
O jovem passa a noite a ler e a ouvir
rádio – o horário do novo trabalho permite-o –, na esperança de notícias condizentes com
as suas aspirações, mas sobretudo a absorver as mensagens e as emoções contidas
nas inúmeras canções revolucionárias que vão surgindo em catadupa. Quando a luz
do dia enche a rua, descansa finalmente.
Há duas tentativas militares falhadas de
controlo do processo pela direita. A seguir, o bloco central pressiona a esquerda, retirando apoios institucionais à esquerda militar, que fica mais aguerrida por ver fugir-lhe espaço de manobra. A 25 de novembro
de 1975 a esquerda militar reage, mas a resposta está preparada. É derrotada e o país inicia um processo de estabilização política em
moldes tradicionais.
«E depois do adeus...» O jovem sente essa derrota como sua, tanto mais pessoal quanto ter sido a imagem dum militar esquerdista, por si
controlada para a televisão, que é retirada do ar, no momento simbólico da
perda de controlo pelos revoltosos.
Não fora alfabetizar as populações
do interior, não ocupara casas devolutas para famílias carenciadas, não
participara em atividades das cooperativas agrícolas ou outras. Quase não
“mexera uma palha”. Tivera uma mera adesão intelectual, pequeno-burguesa e
romântica. Ainda assim, está muito abatido. O jovem sente que novembro significa o regresso da cinza de antigamente. Ou pensa que sim. Só lhe apetece emigrar. Mas, falta-lhe
coragem.
14 comentários:
Acho que nunca tinha lido nada seu assim tão pessoal e vibrante. "Aquele jovem" nunca abandonou a busca da utopia, não? Um relato magnífico e intimista dos acontecimentos da Revolução dos Cravos. Aula viva de História.
Bonito, e triste, este seu texto, Joaquim. São os ciclos do tempo, os vais e vens da História, a perda do que se conquistou e reconquista do que se perdeu. Sempre assim. Sempre assim.
E o ser humano se proclama 'animal racional'....
Talvez por isto alguns nada enxergam que não a sua ganância.
Aproveitemos os tempos menos cinzentos, lá e cá!
Sim, Cinthia, quando nos expomos, até a qualidade do texto parece melhor... Não perca um acrescento no último capítulo.
Dantes ficava muito abatido com as derrotas "políticas", Henry, agora não espero outro "prato". Já conheço a inevitabilidade da Curva de Gauss...
Obrigado pela leitura, JPM.
Li agora o acréscimo. A simbologia do imagético, por vezes, abala mais do que o resto.
#1 de 3 partes
O Caminho dos Justos
Compreende-se muito bem vossa orientação política ideológica partidária, não obstante a evidência dos argumentos constituídos pelos fatos patentes, à vista de toda a gente, mas persistis ainda assim, como um touro, animal aguerrido mas privado de sua capacidade de pensar, isento do livre exercício de sua inteligência superior, de uma total incapacidade de se manter isento e imparcial, por sua obsessão em ir em frente e tudo isso, apenas, por ver-se atraído por uma cor mais garrida, mas, fundamentalmente, inteletualmente paralisado perante a sua própria consciência sensorial e a partir dela, fá-la refletir de si na sociedade com relação à qual, de resto, manifesta alguma preocupação com as suas injustiças.
Quase nos encandeámos, nós os leitores, pela abundante claridade da mensagem nesta data comemorativa até pela simbologia contida na foto incluída a esta ilustrada narrativa –Marx e Lenine, o primeiro, o ideólogo teórico de uma doutrina não apenas utópica mas essencialmente absurda, hoje completamente ultrapassada, e na qual me parece que só muito dificilmente vos poderíeis rever; o segundo, aquele que a aplicou na prática mas suportado tanto financeiramente como em logística pela Banca Maravilha, propriedade de seus irmãos maiores e sem os quais nada disso definitivamente seria possível, suportados inclusive estrategicamente tanto aquele bondoso Lenine como (León) Trotsky, vendo-se deste, mais ambicioso e obstinado com um touro, em certa altura obrigado a livrar-se Staline que o enviou dar uma curva fora do teatro de operações por encontrar-se em risco sua própria vida; razões de direção de poder, enfim, conflitos estratégicos intestinos, crises de família. A “imagem” de ambos os personagens, pelo que representam, continua a acreditar-se adequada aos fins propostos uma vez mais, repetidamente sem descanso, pelo Fundamentalismo Sionista que vós dizeis algures combater. Quando nada pareceis compreender apesar de vossa idade madura e de vosso refinadíssimo discernimento. Esse nada parecer compreender no que se refere à estrutura ideológica que defendeis, dos seus alicerces e de quem a manipula e a que fins serve –aqui à história recente também pareceis ignorar ou nem sequer vos perturbar e encontrais, para espanto de minha fina tranquilidade contemplativa, que ninguém terá a capacidade de aprender com ela– trata-se apenas de uma justificação encapuçada com a que alicerçais uma aparente ou genuína preocupação com as injustiças populares e sociais. Assumis implicitamente, consciente ou não desse fato, ignorardes do que se trata. Mas isso é típico, convenhamos, encontrarmos esse fenómeno caraterístico na estrutura psíquica dos “camaradas de luta” mais renhidos.
“Antes. Para os brasileiros e mesmo para os meus compatriotas mais novos, é-me praticamente impossível fornecer uma ideia clara de como se vivia em Portugal durante o Estado Novo – o regime que vigorou entre 1926 e 1974, sensivelmente com os mesmos valores: Deus, Pátria, Família. Ainda pensei descrever uma lista de situações que contextualizassem a vida de então, mas desisti de o fazer, tão descomunal me parece a tarefa.”
Cabe-me perguntar, tal como inicialmente prometíeis porque não destes alguns exemplos credíveis fora dos conhecidos clichês baratos e gastos? Falta de documentação ou outras?
(continua)
#2 de 3 partes
O Caminho dos Justos
Em suma, a vossa conclusão moral é a de que, antes, tudo era mau; depois, tudo promete ser bom. Aqui a bendita promessa remete-nos à singela aspiração pelo poder por uma qualquer ideologia Marxista que o futuro fará aguardar como ao Messias Salvador. Para quem? Consulte-se a História recente!
E terminais: “…Não fora alfabetizar as populações do interior, não ocupara casas devolutas para famílias carenciadas, não participara em atividades das cooperativas agrícolas ou outras.” Palavras comoventes que muito bem vos fica.
Pergunto-vos apenas se gostaríeis ou aceitaríeis verdes vossas casas devolutas, ocupadas ou alguma outra vossa propriedade, ou seriam apenas as dos outros? E nem me digais que não as possuís.
Emigrar não o fareis por coragem nem por vantagem. Eu não o faço nem por essas nem por uma outra impossibilidade material. Só talvez quando ascender aos céus, procurando nessa altura reservar um lugar para vós.
E acreditai que gostaria de ser vosso Amigo de intimidades, intimidades na alegre diversão das histórias imagéticas e de devaneios criativos infindáveis que fariam as delícias de nossos leitores. Mas primeiro, sede honestos e coerentes com o que defendeis ou dizeis defender. Fazei o favor. Para os outros, desejai o mesmo que para vós, o mesmo ou similar, bem entendido.
Hoje, só não sabe quem não quer ou quem, infelizmente, não tem capacidade intelectual requerida para tal ou ainda quem se encontra comprometido por outras razões o que infelizmente é a grande percentagem dos casos. Na maioria, prestais vassalagem camuflada em uma ideologia criada e manipulada para o efeito pelos vossos amos Oligarcas e esperais contrapartidas pessoais. Não sois isentos. Ilustrados como sois, não tendes desculpas. E ainda por cima sois burgueses disfarçados. Se traís ao vosso próprio povo por trinta dinheiros, o que não faríeis a estrangeiros se a oportunidade se vos oferecesse. Não sereis meus Camaradas verdadeiros. Não colaborarei em falsas utopias, aonde uma mesma mentira se renova mil vezes em falsas e vãs promessas.
A srª Cinthia Kriemler diz: “…Aula viva de História”. Por favor… não brinqueis com coisas sérias. Ou como quem diz, não digais disparates. Prefiro acreditar ter procurado agigantar uma gracinha ao mesmo tempo que não feria suscetibilidades. A meu ver não passou de uma descritiva sentimental, mas infelizmente deficiente, unilateral e muito, demasiado limitada. Um ensaio frustrado de política estratégica superior. Expressa por outro lado um enorme vazio interior. Mas não fiqueis de modo algum dececionado nem desanimeis pois o vazio receberá a plenitude se souberdes manter a humildade necessária e imprescindível ao vosso crescimento interior individual.
(continua)
#3 de 3 partes
O Caminho dos Justos
Quase toda a gente sabe que a revolução dos cravos de Abril, de espontaneidade popular nada teve. Trataram-se de decisões tomadas em cima do joelho num dos gabinetes de Washington. Tinha soado a hora de virem assaltar a Portugal e aos portugueses, escudados por uma falsa revolução abarrotada de vãs promessas que nunca foram cumpridas, nem nunca serão. Os abutres maiores já se encontravam em formação ofensiva e, ao som da trompeta, logo esfregaram as mãos, ou antes, o bico. Foi a sorte grande para aquela passarada que sabe unicamente engordar das decadências perpetradas pelo roubo sistemático e o engano perpétuo. Mas tudo estava já nesse sentido orientado e com a posterior adesão não referendada na chamada UE, o golpe cimentava-se. Os poucos homens honestos que se deram conta da situação, antes como depois, nada puderam fazer. Emigrar para alguns seria cedo demais. Os que puderam, fizeram-no, recusando colaborar com o sistema. Outros ainda, cearam algumas migalhas só para não darem nas vistas do que lhes coube em sorte.
Esta é a triste realidade do tão aclamado 25 de Abril. Nada de novo sob o horizonte.
Por favor, arranjai outra ocupação ou outro assunto temático, de caráter filosófico ou científico, mais instrutivo e criativo. Este já não pega.
Deposito muitas esperanças em vós, D. Joaquim, pois reconheço-vos qualidades.
Um abraço fraterno deste vosso involuntário “conselheiro espiritual” que ficará feliz e agradecido por vê-vos retomar no final O Caminho dos Justos.
Spiritus Incognitus
P.S. Já tinha percebido da msg. Da simbologia imagética, previno-vos que poderá por vezes tornar-se doentia. Nem me considero vosso oponente, quero que o saibam. Este vai com algumas correções, para o caso, quem sabe. Saudações.
Oh, your god! Tanto trabalho para contestar um texto de emoções datadas…
Acredito que as vossas teses, D. Spiritus Incognitus, sejam as que refletem a realidade, mas vistas daqui…
Vá com calma!
não tinha lido, não, confesso
confesso também que o texto me foi demasiado tenso, preso, nada solto como eu sempre imagino (para bem ou para mal) um texto sobre aqueles dias
mas percebi no parágrafo final
ou o parágrafo final deu-me a entender a calma emocionada que Novembro encontrou naquele jovem sem mãos cagadas de pintar cartazes nem voz rouca de discutir: esta parede é minha seus burgueses, reacionários, vendidos ao capital!!!nem terá ido em barricadas, a mulher grávida de tantos meses e ele sendo pai no dia 12 daquele Março ...é Joaquim também me emocionei demais com este texto, mas vivemos estes tempos radicais de modos diferentes, parece-me, a ler ou terei lido mal...ou serei eu querendo dizer aos outros apenas um Abril de emoções que se derramou em Novembro e foi um ano de festa apenas, festa que até era isso o trabalho com a gente que nem sabia nada ou quase nada que não fosse que agora sim, agora éramos iguais. Por mais que viva, nunca nada será como aquele ano de Abril a Novembro com Março pelo meio e aquele Verão quente, tão quente que foi aquele Verão
gostei do texto, sim, Joaquim e agradeço
É, Fátima, devemos ter vivido PRECs diferentes, mas numa coisa convergimos: "nada será como aquele ano de abril a novembro, com março pelo meio". Obrigado por acentuares esse estado de graça que ninguém nos tira.
Esclarecimentos adicionais
Muito vou aprendendo com estas terminologias Marxistas: PREC. Tive de consultar a enciclopédia e encontro: “O Processo Revolucionário em Curso, (também referido como o "periodo revolucionário em curso" ou, mais frequentemente, apenas pela sigla PREC), foi o período, marcante para a sociedade portuguesa, que se situou entre a revolução dos cravos e a aprovação da Constituição Portuguesa. O termo, no entanto, é apenas normalmente usado para o período entre Março e Novembro de 1975.
O PREC caracteriza-se por uma forte movimentação político-social ocorrida em Portugal durante os anos de 1974/75. Ocorreu um desmantelamento dos principais grupos económicos, entre os quais a CUF, aliado a diversas nacionalizações - bancas, seguros, transportes e comunicações, siderurgia, cimento, indústrias químicas e celuloses.
Pode dizer-se que o PREC estala com a própria Revolução de Abril, dado que o povo, apoiado pelo Partido Comunista Português e outros grupos de esquerda levaram a cabo, desde o primeiro momento, as actividades que seriam típicas do Processo Revolucionário (ocupações de casas, terras, fábricas, etc). No entanto, pode também dizer-se que certos momentos foram decisivos para que este Processo se desse.”
Todas estas questões acima descritas não passaram de argumentos justificativos para o enquadramento operacional do que se convencionou designar de “Revolução”, conceito vertido na prática já com a implementação Bolchevique na Rússia desembocando na muito falada mas menos conhecida União Soviética-URSS, aparentemente em favor do assim também designado “proletariado”, levando-se a cabo as conhecidas nacionalizações. Mas tudo isto é um desmesurado e diabólico teatro da mais pura e demencial hipocrisia, pois as empresas do “grupo” dos autores da comédia, ou melhor, da bendita “Revolução” –o Comunismo Marxista nas suas várias frentes enquanto instrumento por excelência dos mesmos aludidos mentores– , estariam logo à partida asseguradas e com as compensações dos prejuízos a seu tempo, para cúmulo da caricatura. Bom, mas como isto se trata duma comédia, Comédia Trágica –a mais complexa da Arte Dramática–, enfim, é compreensível já que de outra forma não seria tão dramaticamente divertido. E lucrativo.
E continua a mesma enciclopédia com um novo (para mim) conceito: PCREC.
“O Processo Contra Revolucionário Em Curso (PCREC) apresenta-se como um blogue que visa estimular um espírito contra-revolucionário e reformador. Impulsionado por um grupo de jovens irreverentes, não instalados e preocupados, o PCREC dispõe-se a ser um movimento marcado pela diferença e um amplo espaço de contestação política nacional.
A nossa ideologia são os valores fundamentais. O nosso desígnio é a liberdade. A nossa luta é contra a ignorância do pensamento único e totalitário. A nossa defesa são as instituições. A nossa antítese é o relativismo. A nossa oposição é ao facilitismo e ao despesismo. O nosso motivo é querermos sempre mais e melhor. O nosso objectivo é a plena estabilidade. A nossa justificação é Portugal.
O fim da Revolução é simultaneamente o fim da Contra-revolução. Como tal, a nossa missão consiste em tudo fazer para que o PCREC se conclua. Esperamos também poder contar com a vossa colaboração.
Bem-haja.”
Se eu tivesse de escolher, o meu seria desde já o “PCREC”… e você?
http://pcrec.blogspot.pt/2007/06/o-que-foi-o-prec.html
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