A manhã é uma epopeia. A tarde, largada no meio do jardim de palavras é poesia lírica da mais remota, a mais idealizada. No meio do caos instaurado, entre vivência e sobrevivência, a linha que divide o ser escravo do ser um pouco menos escravizado, há o sol, um céu azul com bolas de neve suspensas. Pendendo pesadas, mas não caem. Nem ameaçam.
Quem se reconhece peça da grande engrenagem do mundo? Acho que alguns filósofos, uns poetas e amigos de poetas, aqueles amigos que participam do pensamento quando deixam o poema os invadir.
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A terra é redonda, lá no espaço não há oxigênio, dizem.
E aqui dentro? Existe a mínima possibilidade de respirar? Respirar um dia perdido na interminável certeza de não saber ao certo sua real função no mundo? Função parafuso, função mesa, Peça utilitária. Se eu fugir, tem mais vinte parafusos dispostos a me substituir.
Enquanto isso, caminho vagarosamente para a morte, ficando algumas palavras nas tábuas rasas do universo, com a esperança de ser um pouco mais que sombra. Um pouco mais que um nome. Uma paixão de meia-noite, bela e fria. Livre. Sem laço, sem abraço. Solta, suspensa.
Arquivo pessoal
Manuscritos das duas faces
5 comentários:
Duas ideias, duas personas, duas faces da mesma moeda. Mesmo assim, sendo uma e sendo duas, representa bem pessoas diferentes.
Gostei bastante do estilo 'espelhado'.
Parabéns, Suellen.
A gente nem fugir sossegada pode. Os outros parafusos estão sempre de olho do espaço de rosca que a gente pode a qualquer momento deixar pra trás. Balão de oxigênio, onde compra? E esse caderninho? :P
Bjo, guria!
Esse é o caderninho aquele mesmo da foto, da historinha que escrevi para o Invitro. Esse caderninho (merchan ativado) é lá da livraria cultura. Muito bom para as horas de devaneio.
bjo déinha! :)
Muito interessante esse texto/imagem filosófico. Reflexões, dúvidas. Dualidade. Ser humano. Gostei muito.
Obrigada, Cinthia! Tento fugir dessa agonia da multiplicidade, mas parece que estamos fadados à essa angústia. =)
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