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domingo, 3 de novembro de 2013

SOBRE DORES E ABANDONOS


         

                                       
                                            SOBRE DORES E ABANDONOS
 
                   I                                     
Tua dor é a minha morada.
Mas sou bêbado errante,
à procura de  um bálsamo.
 
Estar contigo
é definir meu lugar no mundo.
(Como um animal ferido
que vislumbrasse sombra
à beira de um rio de água límpida
e numa pedra repousasse a cabeça,
                             à espera do fim.)
 
                  II
 
Não sei quem és.
Nem sei quem sou.
(Busco respostas na poesia,
mas a poesia é inútil.)
 
Nós dois: o munduniverso.
(Falácia que inventei
como um ponto de fuga
– mas a palavra, em si,
é também um labirinto.)

                  III
 
Por mais que eu percorra desvios,
esquinas, becos, outros corpos,
sempre volto ao não lugar
em que te escondes de mim
(e, ensimesmada, de ti).
                
                  IV

Resigno-me, tal cordeiro
(eu, que nem sou dado
a essas metáforas tolas),
e me quedo, silente.
 
Se há saída, não sei.
Aliás, não me interessa:
há muito deixei ao acaso
a direção dos meus passos.
 
                V
 
O que desejo, enfim,
é o sono tranquilo e inocente
                                dos calhordas.
E acordar sem cansaço ou culpa.
 
Ou ainda, quando insone,
acender um cigarro
(eu, que nem fumo)
e, pela janela do milésimo andar,
entre uma baforada e outra,
ver a cidade diluir-se
                 em luzes e abandonos.
E seguir a dança imprecisa
                                  da fumaça
a tecer teu holograma-esfinge,
que se esvai entre meus dedos,
na impossibilidade  mesma
                                  do toque.
 
 
                                 Edelson Nagues          
                                 Do livro Águas de clausura (Scortecci Editora)
 



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Edelson Nagues
(nome literário de EDELSON RODRIGUES NASCIMENTO) é natural de Rondonópolis/MT e radicado em Brasília/DF. Estudou Direito e Filosofia, com pós-graduação em Língua Portuguesa. É poeta, escritor, revisor de textos e servidor público. Na década de 1980 e início da década seguinte, em seu estado de origem, atuou na área musical, como vocalista e principal letrista do Grupo Reciclagem, tendo participado de vários festivais universitários e de festivais regionais e nacionais da Caixa Econômica Federal, obtendo diversas premiações, inclusive como intérprete e letrista. Na época, funcionário da CEF, atuava como representante do então recém-criado Conjunto Cultural (hoje denominado Caixa Cultural) em Mato Grosso. Premiado e/ou selecionado para coletâneas em vários concursos literários, entre os quais se destacam: Concurso Nacional de Poesia “Adilson Reis dos Santos” (2012, Ponta Grossa/PR), XXXIII Concurso “Fellipe d’Oliveira” (2011, Santa Maria/RS), Prêmio Prefeitura de Niterói (2011), XXI Concurso Nacional de Contos “José Cândido de Carvalho” e XII FestiCampos de Poesia Falada (ambos em 2011, Campos dos Goytacazes/RJ), Concurso Novo Milênio de Literatura (Vila Velha/ES, 2010), IV Concurso Nacional de Contos do SESC-Amazonas (2010, Manaus/AM), VI Desafio dos Escritores (Brasília/DF, 2010), XL Concurso Literário “Escriba” (Piracicaba/SP, 2009). É autor dos livros Humanos (coletânea de contos premiados) e Águas de Clausura (de poesia, vencedor do X Prêmio Livraria Asabeça), ambos publicados pela Scortecci Editora. É membro correspondente da Academia Cachoeirense de Letras (de Cachoeiro de Itapemirim/ES) e mantém (ou tenta manter) o blog pessoal www.senaoescrevodoi.blogspot.com.
todo dia 03


4 comentários:

"Por mais que eu percorra desvios, esquinas, becos, outros corpos, sempre volto ao não lugar..." - versos que eternizam o poema na memoria de quem os le. Parabens, Edelson.

Obrigado pela leitura e pelas belas palavras, poetAmigo!

Extasiante... Estou sem palavras para expressar minha catarse após a leitura dessa poesia! Adorei, Edelson!

Valeu, Mario! Mto obrigado, amigo.

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