Ele abriu o novo tablete e colocou sobre os restos da manteiga velha que resistiam no fundo da manteigueira, já arados pela faca de serra. Sabe-se lá há quanto tempo vinha fazendo isso.
Ela tentou comer, mas deixou a torrada no prato e o afastou sutilmente em direção ao centro da mesa. Tentou distrair-se lendo o jornal, mas ao tentar virar as páginas sentia como se estivesse com as pontas dos dedos oleosas, rançosas.
Quando ele levantou, já atrasado, e tentou beijá-la, o afastamento brusco, com o rosto virado para o lado, foi inevitável. O casamento acabou, de fato, naquele instante.
2 comentários:
Rodrigo, gostei muito do conto. É quase uma fotografia, uma pequena filmagem de um instante tão tocante e entristecedor... Consegui entrever os raios de sol entrando pela janela e tentando, sem êxito, iluminar os rostos sombrios... É duro que as pessoas deixem de gostar das outras. Mas a vida tem disso, brinca com a gente, assim como nós, detesta o tédio. Gostei demais do conto, meu caro. Abraços!
A manteiga foi apenas um dos ranços na vida daquele casal, né?
Gostei.
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