Mamãe diz que brincar de boneca é coisa de menina. Nem ligo pro que ela diz. Sou homem e posso provar. Haja vista as mulheres que amei. Além disso, o que há demais em brincar um pouquinho? Tem adulto que joga videogame. Meu hobby é esse, passatempo da hora de almoço. Esta perna cabe aqui no corpinho, vai ficar diferente da outra, mas pior se ficasse perneta. A cabeça, felizmente, não se perdeu. É original, mas deu um trabalho colocar de volta no lugar. Os braços eu vou utilizar dessa outra aqui. Braços negros e corpo caucasiano? Paciência, é o que se pode arranjar no momento. Vou ter que prender com algum parafuso. O Geraldo da manutenção deve ter um do tamanho necessário. Melhor não. Geraldo não entenderia. O vestido eu pego com a dona Marta lá na lavanderia. A droga é que branco fica parecendo noiva. Depois eu dou um banho nela, pra espantar este cheiro podre de membros amputados aqui do lixo hospitalar. Será que vão dar por falta de você lá na sala de autópsia, meu amor? Que marido horrível que você tinha, precisava te esquartejar e jogar as partes na Lagoa Rodrigo de Freitas?
2 comentários:
Uau! A surpresa, no final, é súbita e fria, quase que inimaginável no início... Fiquei realmente atônito nos primeiros segundos após o término... Adorei, Zulmar. Adorei o micro conto!
mórbido ... amei!
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