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quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Baratas na sala de estar

Eu sou
o piano que não sei tocar
eu sou a bailarina clássica
que sonhava a menina
a girar nas pontas
dos dedos em suas
sapatilhas
baratas na sala de estar

sou o menino que dorme
em meus braços
e sorri.
sou o colo que acalenta
qualquer dor
como é aquele onde
adormeço
todas as noites
meus medos.

sou
o que restou
daqueles que amei
e partiram
ou nem sequer estiveram
inteiramente aqui. sou
a ilusão
da eternidade
sou a limitada
compreensão
da realidade
que o tempo me permitiu
ter.

sou tudo aquilo
que na vasta oferta da vida
mostra-se quase nada
no que se pode escolher.

sou
um universo de metáforas
blasfêmias, tristezas contidas
risadas fartas, cabelos
e saudades
que não quero
perder.
sou aquilo que meu filho
mantiver escrito
junto ao peito
para, uma vez partida
jamais desejar me esquecer.
...


[a música a tocar - e nela a lágrima a rolar - também sou eu]
...
a barata que amedronta
a menina
num canto da sala de estar
também sou eu. a mulher
que me pariu e levou consigo
pela mão
pela vida
a eterna dor
também sou eu.
sou o reflexo
nos olhos
do ser amado.
sou ainda o que pensam
os poucos
odiados.
aquele homem
de bigodes
por quem se espera
e nunca, nunca vem, também
sou eu.

e de tudo
o que sou (?)
só espero
não ter
tornado-me pior
que aquilo
que um dia fui
sabendo-me hoje
que não passo
de um monte
de pedaços
do tanto que me imagino ser.

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Ju Blasina




todo dia 07


6 comentários:

Sou
aquela que lê nas tuas linhas
uma história que
podia ser minha.

Lindo poema, Ju Blasina.

Sou
aquela que lê nas tuas linhas
uma história que
podia ser minha.

Lindo poema, Ju Blasina.

Obrigada, Adriane... Bom quando a gente se encontra num poema, né? Bom também quando se encontram num da gente - e eu não saberia dizer o que é melhor...
Beijos e bem-vinda como mais nova integrante da SAMIZDAT ;]

Cara Ju, belíssimo o seu poema. Belíssimo é já um superlativo, mas não suficiente... Lindo mesmo.

Muito obrigada, Mario Filipe - tenho escrito tão pouco ultimamente que... é quase uma obrigação fazer algo que preste ;] Abraços!

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