OS HOMENS OCOS DE ELIOT
“Nós somos os homens ocos
Os homens empalhados
Uns nos outros amparadosO elmo cheio de nada. Ai de nós!”
(T. S. Eliot)
Eles estão chegando:
os homens ocos de Eliot.E trazem, em seus alforjes,
armas, munição e ganância,
e alguns projetos ocultos
de poder e de vingança,
nos vãos da subserviência.
Vêm em cavalos cansados
de um cavalgar errantepor abismos e florestas
e, sobretudo, desertos,
que se lhe incrustam ao ser.
Tanto, que os petrificam,
no refluxo dos sentimentos.
Esses tristes homens ocos
não sabem da minha dor,que é tão só a dor do Homem
– a única e mesma e sempre.
A qual me consome aos poucos
e assim me mantém vivo
(como se vivo eu fosse).
Esses tolos homens ocos
não sabem sequer de si.E tramam, uns contra os outros,
o mesmo aniquilamento
de que fogem, sem roteiro,
juntos, embora sozinhos,
no desencontro das tramas.
Os homens ocos de Eliot
não passam de homens comuns:
é você, sou eu, somos todos,
nesta busca, sem sentido,
de sentido para o nada,
do mundo em outros mundos,
do amanhã no ocaso.
Os homens ocos de Eliot
são mais ocos do que homens,mais áridos que os desertos,
mais escuros que os abismos,
mais árvores do que florestas.
Esses tristes, tolos homens
são o ocaso do Homem.
Edelson Nagues
Do livro Águas de Clausura Scortecci Editora)
2 comentários:
O que eu acho melhor é que tenho o livro para ler sempre, este e outros de igual calibre: maravilha. "...que é tão só a dor do Homem — a única e mesma e sempre".
É uma honra ser lido por vc, Cinthia. E tb um privilégio ter alguns dos seus textos à mão. Sempre aprendo com eles.
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