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segunda-feira, 1 de julho de 2013

25 Invernos

embebede-me com o pus. incoerência latejante. ainda há pouco. telúrico por não tocar o que virá. moleste-me com a cólera. nada mais prazeroso do que o desencadear. úmido na retenção. choca na epífise neural o ovo negro. ruge a quintessência. semeio auroras incandescentes. mantenho-me circundado. voo flamejando pétalas. imarcescível floração. farpas do tempo perfuram o corpo. não sou puro o suficiente para alastrar feito uma febre. comovo ao cerzir-me. sacrifício fatídico. a verdade me estupra. comunhão entre os aspectos. renasço. sensibilidade da simetria. minhas imprecisões seriam capazes de estrangular-me. desfaço a beleza moldada no riso. primeiro trago incalculado. percorre-me como a luz uma inércia de explodir. pressinto em cada molécula o frenesi. parto-me ao amanhecer. tenho a coragem para jorrar. gosto de ser espancado. maltratado pelo apreço. violentado pela fadiga. gozo com a vida que me arranca os sonhos em mordidas. lambe-me a peste cinzenta. grito com a expectativa de saborear o agora. contaminado pelos credos. pétrea deficiência aguda. abstraio o privilégio de testemunhar manifestações. ritualístico a ponto de sangrar-me. insaciável parasita por deglutir. enfermo declínio da noite. moradia das maldições. os tormentos cheiram à esperança. as velas nunca foram acesas. sei que gradativamente apodreço. tusso com a certeza de madrugar. o escarro da melancolia alumia silêncios. um bem-estar do não permanecer. não é pelo desamparo. carrego gotejares monossilábicos. Februus espreita-me. diagnóstico pragmático. o sofrer é sensorial. falsificação das emoções. e mesmo assim clamo por uma incisão. transcende-me o desejo de amar.  encharco o peito com os resíduos maternos. autopiedade feito a única desculpa. misantropia que interpreta a ociosidade vital. sequelas nos pulmões delicados. o cuidado nunca veio. balbucio o desconforto. maldade é se perder nos beijos. o céu despenca sobre as pupilas. a ira celeste incita-me a chover. engulo desatinos. igualo-me aos cadáveres anônimos. afinidade pela truculência dos espasmos. o sol nasce no meu esplendor. desapego-me do que fui. um lençol branco separa-me da saudade. o último carinho me adorna. os braços que não quiseram me curar se despedem. respingam-se os olhos em enigmas. o tumulto das lembranças é um aceno. a perpetuação é de quem vai. 

[Rudolf Schwarzkogler]

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Bruno Bossolan
Nasci em 25 de junho de 1988 e resido em Capivari, interior de SP. Sou Cronista e Redator do Jornal O Semanário. [www.osemanario.com.br] Autor dos Livros: N(ó)stálgico (Poesias, 2011 - Paco Editorial) - Barbáriderna (Poesias, 2012 - Editora Penalux), com participação também em mais de 10 antologias poéticas. Autor da Peça Teatral “Destroços do Martírio” (apresentada no Mapa Cultural de SP na cidade de Porto Feliz – 2008/2009).
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