embebede-me com o pus. incoerência
latejante. ainda há pouco. telúrico por não tocar o que virá. moleste-me com a
cólera. nada mais prazeroso do que o desencadear. úmido na retenção. choca na
epífise neural o ovo negro. ruge a quintessência. semeio auroras
incandescentes. mantenho-me circundado. voo flamejando pétalas. imarcescível
floração. farpas do tempo perfuram o corpo. não sou puro o suficiente para
alastrar feito uma febre. comovo ao cerzir-me. sacrifício fatídico. a verdade
me estupra. comunhão entre os aspectos. renasço. sensibilidade da simetria.
minhas imprecisões seriam capazes de estrangular-me. desfaço a beleza moldada
no riso. primeiro trago incalculado. percorre-me como a luz uma inércia de
explodir. pressinto em cada molécula o frenesi. parto-me ao amanhecer. tenho a
coragem para jorrar. gosto de ser espancado. maltratado pelo apreço. violentado
pela fadiga. gozo com a vida que me arranca os sonhos em mordidas. lambe-me a
peste cinzenta. grito com a expectativa de saborear o agora. contaminado pelos
credos. pétrea deficiência aguda. abstraio o privilégio de testemunhar
manifestações. ritualístico a ponto de sangrar-me. insaciável parasita por
deglutir. enfermo declínio da noite. moradia das maldições. os tormentos
cheiram à esperança. as velas nunca foram acesas. sei que gradativamente
apodreço. tusso com a certeza de madrugar. o escarro da melancolia alumia
silêncios. um bem-estar do não permanecer. não é pelo desamparo. carrego
gotejares monossilábicos. Februus espreita-me. diagnóstico
pragmático. o sofrer é sensorial. falsificação das emoções. e mesmo assim clamo
por uma incisão. transcende-me o desejo de amar. encharco o peito com os
resíduos maternos. autopiedade feito a única desculpa. misantropia que
interpreta a ociosidade vital. sequelas nos pulmões delicados. o cuidado nunca
veio. balbucio o desconforto. maldade é se perder nos beijos. o céu despenca
sobre as pupilas. a ira celeste incita-me a chover. engulo desatinos. igualo-me
aos cadáveres anônimos. afinidade pela truculência dos espasmos. o sol nasce no
meu esplendor. desapego-me do que fui. um lençol branco separa-me da saudade. o
último carinho me adorna. os braços que não quiseram me curar se despedem.
respingam-se os olhos em enigmas. o tumulto das lembranças é um aceno. a
perpetuação é de quem vai.
[Rudolf Schwarzkogler] |
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