Acabei de ler um livro chamado “Os Enamoramentos”, que foi escrito por Javier Marías e parou na minha estante só por causa da capa. Oi, sou idiota. Apesar deste texto não ser uma resenha, o tema central faz parte dele. A morte como solução dos problemas é exposta de forma previsível e zzZzZZzz, mas olha que conseguiu render um pouco de filosofia barata! Logo em seguida li “O Coronel Chabert”, de Honore de Balzac, que foi exaustivamente sitado; trata do retorno da morte como causa de diversos problemas na vida... dos vivos. É um livro legal, confiem mim; bem melhor do que “Os Enamoramentos”.
Fiquei muito nervosa ao terminar o livro, pois fui enganada de novo, só que ficou aquele pensamento, aquela divagação rondando o assunto: quem nunca pensou na morte como solução trágica? Seja por covardia ou fatalismo, às vezes uma pessoa bloqueia seu caminho. Mais do que uma pedra, você encontra uma montanha no meio da caminhada de Drummond. Nem Maomé, nem dinamite fazem o obstáculo sair da frente. E é isso mesmo: um ser humano se torna um empecilho. Esse, que faz você suar frio e lhe embrulha o estômago, passa de indivíduo para indevido.
Assim como Chabert se torna um problema para sua esposa após levantar da cova, alguns nem precisam ir tão longe para nos dar calafrios. Então, vem a culpa. “Que história é essa de desejar o mal para seu próximo”? E que história é essa de o próximo nos causar o mal? Isso ninguém pergunta, e é nisso que nos valemos. Em um mundo simplista onde nos pintam o certo e o errado em cores distintas, a defesa se extingui. Quem faz o mal tem seu julgamento garantido em outra dimensão e não em suas mãos. É isso que mata! (com todo o perdão)
“Se essa pessoa morresse” é o copo meio cheio mais próximo do nosso alcance. Mais fácil do que levantar, mais fácil do que aproximar a mesa, até! Sim, seria hipocrisia de minha parte se eu afirmasse que nunca mandei alguém para a cova. Eu estaria sendo desonesta com vocês, que tanto tempo perdem com minha sinceridade aqui exposta, se batesse no peito e exibisse uma coragem que não é minha. Eu tenho medo. Tenho pavor das pessoas. Elas são ruins, imprevisíveis e sádicas. São pessoas que produzem outras pessoas e injetam pânico no ninho para controlar a evolução. Umas matam outras. As mais mansas só ficam de soslaio cruzando os dedos. Todavia, no fim, cada um e cada qual espera pelo dia em que seu tapete será puxado. “Antes ele do que eu”. Sobrevivemos a um defunto!
Nunca me esquecerei desse acontecimento
na vida de minhas retinas tão fatigadas.
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
no meio do caminho tinha uma pedra.
— Carlos Drummond de Andrade
O que Drummond não deixou registrado (ou talvez, coitado, nem percebeu) é que seria mais fácil rodear a pedra e continuar em frente, ao invés de observá-la, dissecá-la e filosofá-la. Um problema quando não aparenta solução ou leva o drama a outros níveis, das duas, uma: ainda não entenderam que tem o direito de ignorar; ou quem deve morrer é o assassino passivo em questão. Viver matando os outros para facilitar seu egoísmo não é o modo mais bonito de limpar o caminho. Esqueça, desvie ou chute essa maldita pedra!
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