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domingo, 12 de maio de 2013

O Amor nos Tempos do Fo(r)dismo



Engatei a quarta marcha num free lance. É, um lance livre. Até que ele era divertido. Me comia sete vezes por semana e no fim de semana minha semana sequer tinha mais fim. Era uma sucessão de recomeços intensos e destrutivos. Um produto de validade vencida que consumia a validade de sua requerente vencida. Ai, minha validade, já não consigo enxergá-la neste pacote tão desgastado. Justo eu, fabricada com tanto amor e carinho, e que na tenra idade desenvolveu a síndrome do intercurso monogâmico e da maternidade. Pisei no freio, estacionei – mal, pra variar. Vaga dos deficientes. Lá veio um sujeito de sorriso mórbido que me convenceu para um café. Esse filho de uma mãe doutorada leu a página de Economia na minha frente e ainda teve a coragem de comentar que as bolsas de Nova York subiram. Manobra, à direita. Meu cartão de crédito navalhou todas as bolsas que eu de fato conhecia, meu bem. O espírito hedonista encarna em meu ser quando piso num Shopping Center. Desilusões amorosas quem são vocês?
Esquerda, volver. Atropelei um anjo. Não, era um vendedor de galinhas brancas. A galinha depenada agonizava, como isso aconteceu? O vendedor enchia os meus ouvidos de bra, bra, bras, uma gramática completamente inadequada para a ocasião. Mas havia algo nos olhos dele. Algo de encantador. Paguei a galinha de penas angelicais com uma trepada vespertina. O meu congelador lotado de nuggets me causou repulsa na hora do jantar. Eu não comeria nada que fosse derivado do animal que eu assassinei e que teve sua alma “depenada” encarnada em mim. Seria como devorar a própria espécie. Engatei a primeira marcha. Ladeira íngreme. Exaustão, preguiça, tédio. Provas para corrigir, vida para corrigir. E uma pizza para matar a fome. E um entregador de pizza para chamar de “homem da minha vida”. Conversas pelo telefone, e a segunda marcha engatada. Balada sábado à noite, terceira marcha. Minha cama, quarta marcha... O carro morreu. A brochada foi imperdoável. Seis meses sem ingerir pizza. Passei a freqüentar o yoga, como sugestão de uma amiga nipônica. O professor era interessante demais para eu conseguir alcançar o meu nirvana. Cara de japonês, jeito de brasileiro e pinto de americano. Tive múltiplos nirvanas durante as duas ou três primeiras semanas. Até que a sentada em lótus era excitante. Abandonei os Yogas Sutras de repente, assistindo a um comercial da Johnson & Johnson com mais bebês do que num orfanato. Quis ser mãe, estava decidido. Dei uma marcha ré e retomei aquele desejo juvenil inveterado. Não queria meu filho de olho puxado. Queria uma menina, doce e obediente. Sempre desejamos para os nossos filhos o que não fomos. Uma bailarina! Passei dias pesquisando nomes de bebês e, claro, perfis de homens em sites como Helloamore. Homem truculento nem pensar. Na bengala, me conduzi até um bailarino que aspirava um papel no Quebra Nozes. Não, ele não era gay. Mas era infértil. Aquela maldita calça apertada sufocou todos os seus espermatozóides. Cansei da procura, o combustível estava pelas pontas. Estacionei-me na garagem da minha casa e me senti a personificação da solidão. Antes fosse uma jovem guitarrista ensaiando com sua banda rocks em sua garagem. Percorrer tanta estrada, parar em tanta blitz, ser multada trocentas vezes por excesso de uso do próprio corpo. Havia em mim arranhões. Esse motor de muitos homens rodados precisava de um mecânico... Claro, como não pensei nisso antes? Nada que um bom mecânico não possa dar solução. Eles têm as ferramentas certas para o meu conserto. Enchi o tanque, engatei a quinta marcha e lá vou eu, sem vergonha, nesta lataria de faróis incandescentes.



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1 comentários:

maravilha de texto: leve e bem-humorado. Para comecar bem o domingo. Parabens, Lohan. :)

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