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domingo, 10 de fevereiro de 2013

Somos responsáveis


Henry Alfred Bugalho

Somos responsáveis pelo mundo em que vivemos, mesmo que não queiramos reconhecer este fato.

O que mais me impressionava nos americanos, no período em que morei em Nova York, era a mentalidade: eles precisavam fazer a diferença.
Muitos americanos têm horror ao Governo, ou a qualquer tipo de intervenção do Governo na vida cotidiana das pessoas. O papel dos governantes é para os grandes assuntos, para a segurança nacional ou para gerenciar o orçamento do país, mas quando se trata dos pequenos problemas, são as pessoas comuns que deveriam tomar as decisões.
Assim, não é incomum ver pais e mães, indivíduos como eu ou você, com walkie-talkies na mão, fazendo a patrulha ao redor das escolas no horário da saída dos alunos. Eles sentem-se responsáveis por sua comunidade, por seus filhos e pelos filhos de seus vizinhos.
Talvez a presença deles não intimide um criminoso, mas, pelo menos, eles estão ali, demonstrando que não abandonarão aquilo que pensam ser importante.
Também vemos os americanos ajudando a limpar os parques de suas cidades, a plantar flores, doando dinheiro para projetos filantrópicos. Tudo isto porque eles acreditam fazer a diferença e, graças a estes pequenos atos, realmente acabam fazendo alguma diferença.
Eles não se eximem de suas responsabilidades.

Aqui na Espanha, um país bastante afetado pela crise europeia, assistimos a idosos que se voluntariam na Cruz Vermelha, doando o pouco de alimento que lhes sobra, para tentarem amenizar o sofrimento daqueles que perderam seus empregos.
É nos momentos de grandes dificuldades que descobrimos quem se importa com os demais, aqueles que creem fazer a diferença.

Por outro lado, o brasileiro se acomodou a um Estado paternalista e, desta relação, aguarda que todos os problemas do mundo sejam resolvidos pelo Governo.
Se há fome, é culpa do Governo. Se há lixo nas ruas, a culpa é do Governo. Se há traficantes nas portas das escolas, o culpado é o Governo. Se uma boate pega fogo e mata quase trezentos jovens, a culpa é do Governo.
Ninguém quer assumir a responsabilidade; ninguém deseja fazer parte da diferença, pois isto implica em arregaçar as mangas e sujar as mãos.
Ser ativista da boca para fora é fácil, qualquer um pode sê-lo. Reclamar é muito simples também, e todos sabemos muito bem como criticar tudo que não funciona.

Mas a transformação não depende somente dos grandes feitos, das grandes revoluções. Podemos fazer a diferença através de pequenas mudanças dia após dia.
Logo após a catástrofe da boate de Santa Maria, um jornal brasileiro conclamou a população a denunciar irregularidades de segurança em casas noturnas, a tentar fazer a diferença.
A reação foi assustadora.
Ao invés de adesões entusiasmadas, o resultado foi o inverso: leitores revoltados por terem de assumir uma incumbência do Governo.

Minha esposa sempre se preocupou com as saídas de emergência onde quer que estejamos e, vez ou outra, conferia a validade dos extintores do nosso prédio. Um gesto simples, e que poderia fazer toda a diferença.

Nós somos responsáveis... Queiramos ou não.

Depois, até podemos pôr a culpa nos demais, no Governo ou até no Papa, mas sempre fomos responsáveis, e os nossos pequenos atos talvez houvessem feito a diferença.

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