Por Ju Blasina
É duro escrever
quando antes
de tudo se precisa
sentar
na cadeira
do autoempalamento
voluntário
não que eu não sinta
dor-amor-medo
desejo-saudade
não
necessariamente
nessa ordem
sinto algo
entre essas e
outras coisas
sinto muito
e tantas são
as vezes que
já não conto
a mais ninguém
sinto também
um carinho todo
especial por meus buracos
mais íntimos.
e é por conta disso
que permaneço em pé
imóvel e inexpressiva
a juntar poeira na soleira da porta
até que, enfim, só
um cansaço me toma
inteira, um cansaço
enorme de ser e sentir e
principalmente
de ter que encontrar
nomes adequados a poemas
um cansaço que cresce até
que eu não mais aguente o peso
que é sustentar a mim mesma
cheia das coisas do lado de fora
e das de dentro. e mais
toda a poeira
que nunca, nunca baixa
um cansaço tamanho
que torna mais e mais
convidativa
aquela cadeira
esquecida
na metáfora inicial
e eis que me sento.
sento e sinto toda a dor do mundo
concentrada
em minhas próprias partes
sento
pra refrescar a memória
e confirmar a certeza
do quanto é duro, é tão duro
deus do céu, é muito duro
[ter do que] escrever é fatal - e ponto.
1 comentários:
Muito bom o poema: angustias que nos corroem todos os dias, nesta dura arte de (sobre)viver. Parabens.
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