Às vezes me pergunto, até onde vão as preferências e escolhas de uma pessoa? De onde vem suas opiniões e crenças? Para onde vão suas ofensas e julgamentos? Onde nasce uma ideia? O ser humano - feito de pensamentos, atitudes e agilidades - começa pelo dedo do pé ou pelo primeiro pensamento ao nascer? As revoluções são ratazanas que se escondem nos esgotos das cidades, são lavagens cerebrais ou são ideias envenenadas por outras ideias? Em qual fonte encontramos estas, centenas a borbulhar e nadar de um lado ao outro rebolando impossivelmente suas caldas? Pergunto-me se nossos gostos são manipulações. Se somos apenas peças de dominó caindo umas atrás das outras. Basta apenas um empurrão para ser gente?
Veja bem, não coloco em discussão o caráter de ninguém. Não questiono o caminho de outrem. Não duvido de alguém em especial. Somente pergunto, bem no meu eu interior, se somos os frutos ou se somos as árvores. Se damos ou se recebemos. Se começamos ou terminamos. É de se pensar, é de se pensar...
Sempre fui fugitiva das grandes massas. Não por nada, só não gosto de aglomeração. Sendo filha única, é um mal que tenho não querer dividir minhas coisas. Há de ser normal. Cacei como se fossem raposas as minhas preferências e as guardei comigo para que ninguém pudesse brincar. Fui chata. Sou chata. Um fardo que carrego - e de vez enquando tento deixá-lo em meio às outras cargas - por querer fugir do desconhecido, o grão por fora da estopa. Mais do que ser diferente, eu queria ser a minoria. "A minoria deve comer pelas bordas", sempre pensei, mas é demasiado difícil ser a minoria no tempo da tecnologia. Todo mundo se comunica, se mistura e se complica. Ninguém é de ninguém e os mais desconhecidos pertencem a todo mundo. "Você não pode ter essa opinião"!
Há de ser normal em tempos de mentes esclarecidas.
Mas, vê lá, por que gostam de Paris? Por que gostam de Harry Potter? Rollin' Stones! O que há de tão especial em Rollin' Stones? Quando vejo multidões se deslocando para o mesmo lugar me pergunto, de mansinho, se não estão todos enganados. Muitos judeus foram para o banho e não voltaram mais. Muitos fugiram para as colinas e não voltaram mais. Muitos se entregam às suas verdades e não voltam. Nunca mais.
Outro dia me perguntaram por que me prendo aos tempos idos, em falta de cores, em pessoas falecidas que não imaginam sequer o que seria a virada do século. Eu suspirei. "Não sei", respondi, "Apenas gosto". Reticentemente. Poderia ter sido pior, eu poderia ter respondido "porque sim" com cara de quem se acha racional ou "porque é legal" com cara de quem está espremido na multidão. A verdade, amigos, é que me prendo a uma época em que não havia apelo algum. A pessoa não me entenderia se eu respondesse que é olhando para trás que me encontro e me completo. Eu não gosto do que todo mundo gosta porque não gostaria de me ver desgostosa.
Deus me livre questionar o questionamento alheio! Não ponho à prova os gostos de ninguém. São apenas espasmos. Cancelem a execução na cruz e apaguem a fogueira, só quis contestar.
A verdade é que ninguém conhece a verdade. Nos reconhecemos em fatos externos, pessoas adversas, artes complexas. Como um quebra-cabeça, nos montamos com a superioridade alheia, costumes, vícios e alguns copos de cerveja. Mas por quê? Por quem? Por nós mesmos nos reconhecemos em tribos ou reconhecemos aqueles que teriam maior facilidade em nos reconhecer? Um amontoado no outro para não se sentir sozinho faz um mero sentido. Nos unimos pelo desejo de sermos alguém, mas somos apenas mais um. Para muitos é o suficiente, mas há quem queira uma identidade melhor. Creio que nunca saberei de fato porque gosto ou porque gostam de alguém. Para que gostamos? Por que gostamos? Tenho comigo que a resposta deve ser infinitamente simples. "Gostamos disso porque sim, oras! Não complique".
Vá lá! Há de ser normal...
1 comentários:
Que texto honesto, Del. Tão cheio dos questionamentos que todo o mundo se faz. Tão melancólico. Mas infinitamente de verdade. A sua. Que não é a de mais ninguém. Há que se ser normal mesmo? Não sei...
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