Três

Três vezes. E três era o número de sorte dela.
Na primeira esbarrada, deixaram ambos cair das mãos os livros que tinham acabado de escolher. Ele, na estante de Medicina; ela, na de Artes. Pediram-se desculpas rapidamente e cruzaram os olhares por alguns instantes. Nada de mais naquele par amarronzado de olhos, ela reparou. Mas as mãos, quando se tocaram, provocaram uma sensação gostosa de calor. Hum... O que essas mãos quentes não devem fazer..., viu-se pensando, enquanto seguia para o caixa.
Esbarraram-se de novo na escada rolante. Ela, estacando subitamente antes de pôr o pé no primeiro degrau, tentando achar a chave do carro dentro da bolsa. Ele, sem tempo de frear o corpo, e agarrando-se ao dela para que ambos não caíssem nos degraus.  Respirações suspensas. Ele, rindo do próprio pensamento: Bundinha dura e empinada.... Mais uma vez, desculpas trocadas. Risos trocados. E ela, com certa timidez:
— Eu sempre esqueço que vem gente atrás. 
E a certeza de que nunca tinha dito nada tão idiota!  O olhar malicioso dele, comprovando que a frase tinha sido mesmo infeliz. Ou não...
Da terceira vez, esbarraram no cheiro bom um do outro, ao se apresentarem e trocarem beijos inocentes nas bochechas.
E vieram três meses. Três trepadas numa madrugada. Três dias de lua de mel na praia. Três cachorros — um para cada um dos três filhos.
Três brigas. Três voltas. Três desejos todo fim de ano. Três apartamentos, três empregados, três traições [dela, por ano].
Três balas no peito.
Sobreviveu.
Três é o número de sorte dela.

Comentários

  1. Amei!!!

    Três vezes maravilhoso!
    Parabéns Cínthia

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  2. Desculpe o atraso, somente hoje que eu li esse seu texto. Gosto de textos eróticos dissimulados entre outros fatos e pequenos incidentes. Parece que o colega do Concursos Literários anuncia um concurso de contos eróticos. Eu mandaria. É pela Internet.
    Abs. Otávio Martins.

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