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quarta-feira, 19 de setembro de 2012

A Hora do Sexo

(Maristela Scheuer Deves)

Confesso: o título acima é, antes de mais nada, um artifício para atrair leitores. Nunca fui dada a ler os chamados "contos eróticos" que aparecem em sites por aí, nem atraída por títulos da área nas livrarias. Aliás, até bem pouco tempo atrás eles eram raros, mas nos últimos tempos transbordam das prateleiras.

Esse fenômeno, claro, tem um nome, que é também seu catalisador: o romance Cinquenta Tons de Cinza, da inglesa E.L. James. Só no Brasil, em menos de dois meses, foram 300 mil exemplares vendidos - e isso num país que, infelizmente, ainda lê pouquíssimo. No mundo, são dezenas de milhões. Claro que agora que o livro é best-seller ocorre muito o "vou ler porque todo mundo está lendo e falando", mas, pelo que li até agora, o crescimento da obra começou de forma espontânea, tanto que quando os direitos foram adquiridos por uma grande editora norte-americana o livro já bombava no mundo virtual.

A explicação? Sexo vende. Vende até mesmo livros. Tanto que, tão logo a trilogia Cinquenta Tons... começou a bombar, vários outros títulos na área foram lançados ou relançados.

Teve a trilogia erótica Bela Adormecida, de Anne Rice (sim, aquela mesma de Entrevista com o Vampiro), uma versão "para adultos" do conto infantil em que a adormecida é despertada não com um beijo, mas com a iniciação sexual, que havia saído nos anos 1980 e foi relançada. Teve uma coleção de clássicos reescritos em formato erótico, incluindo histórias como Drácula, Orgulho e Preconceito e até A Ilha do Tesouro (fiquei imaginando qual seria o "tesouro"...). Teve uma nova trilogia, recém-lançada, que começa com o livro sugestivamente intitulado Luxúria, em que uma escritora de livros eróticos passa a experimentar o sadomasoquismo e a dominação na própria pele. E isso só para citar alguns.

Não sei se isso é um sinal de que as pessoas estão mais liberais, ou em busca de mais emoções, ou mais carentes. Acho que é a mesma lógica que rege a questão dos filmes eróticos, ou mesmo os pornôs. Há quem se excite com isso, e até mesmo prefira ficar fantasiando à partir para a ação. Já li também que Cinquenta Tons... tem feito maravilhas pela vida sexual de muitas leitoras/leitores. Sadomasoquismo não é a minha praia, mas, enfim, cada um na sua.

Resumo da ópera: essa é, sem dúvida, a hora do sexo. Ao menos na literatura. Só espero que, passada a onda, as leitoras e leitores cativados por esses livros continuem lendo, e passem também a outros temas. Há tantas boas histórias por aí que seria uma pena esses milhões de leitores ficatem restritos apenas a chicotes, algemas e submissões.

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Maristela Scheuer Deves
Jornalista por formação e escritora por vocação. Atua como editora assistente de Variedades no jornal Pioneiro, de Caxias do Sul/RS, em cujo site também mantém o blog Palavra Escrita, voltado ao mundo dos livros. Escreve desde que consegue se lembrar, e atualmente prepara para publicação seu terceiro livro, o infantil "Os Deliciosos Biscoitos de Oma Guerta", contemplado pelo Financiarte. De sua autoria, já estão nas livrarias o romance policial "A Culpa é dos Teus Pais" e o infanto-juvenil "O Caso do Buraco".
todo dia 19


3 comentários:

Você leu meus pensamentos, Maristela.

Confesso que me incomoda muito estas modinhas literárias, principalmente depois que uma obra faz sucesso e, de repente, surge uma avalanche de gente sem criatividade na cola.

Mas é de modinha em modinha que se faz a indústria cultural...

Maristela, já lhe disse em outro texto seu e repito: sua lucidez na análise é impressionante. Não li (e vou confessar que não pretendo ler) Cinquenta Tons... Não é meu estilo de leitura. E nem é porque sou purista. Ao contrário, acredito que cada um faz na e da sua vida sexual o que bem quer. E até gosto de um sensualismo inteligente em certos textos ou de uma descrição mais picante (de ler e de escrever). Mas isso de comprar livro de sexo para melhorar a própria vida é um sintoma preocupante, mais que um modismo. Alguma coisa está errada. Na base. As mulheres estao assim tão reprimidas que precisam de manual de autoajuda para funcionar, regras a seguir, modelos a copiar? Sério?! Pelas 300 mil cópias vendidas, comecei a me preocupar de verdade...

Aparentemente as pessoas estão começando a projetar sobre a Literatura uma função que antes era somente da auto-ajuda...

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