quinta-feira, 2 de agosto de 2012
por Tatiana
3 Comentários
Pontual
Fui criada para ponto
Ponto em cruz
Ponto de bala
Cozinha e costura: relógio de ponto
E eu me mantinha trancada.
Um dia ouvi um ponto
Ponto riscado
Ponto cantado
E a pomba marcou ponto na minha vida-encruzilhada.
Hoje não dou ponto sem nó
E, botando os pontos nos ii,
Ponho o ponto final.
Saio bem tarde
Camuflando a cicatriz dos pontos que levei.
Vou pra vida
Vou pra esquina
Onde à noite faço ponto.
Filhas de Eva
De Eva sou filha
Sou filha da vida
Trazendo nas mãos
A linha bandida.
Sem grana pro esmalte
Temendo que falte
Um tempo pro filho.
Mas sofro e resisto
Joelho no milho
Clausura, tortura,
À fêmea que salte
Mais alto que o macho
Que voe acima
Que negue o capacho.
De Eva sou filha
E dela herdei
O lado cadela,
O fardo-costela,
A louça, a família,
Destino de filha
Lembrando, perene,
O delito solene
O odor de maçã.
Sou filha de Eva
Maldita e expulsa
Que causa repulsa
Nos patriarcais.
E peço meus sais,
Meus cremes, meus ais,
Frescuras, tonturas,
De fêmea ferida.
De Eva sou filha
De um Éden perdido
Lugar sem retorno.
Mas olho em torno
E sigo em frente
Não baixo meus olhos
Recuso antolhos
C’um meio sorriso.
E danço e blasfemo
No meu Paraíso
Que envolve prazer
Que traz uma cica
Sabor acridoce
Da gana da vida.
3 comentários:
E sempre marcando pontos poeticos. Parabens, Tatiana.
Tati, os dois são lindos, mas preciso confessar que eu queria ter escrito essa perfeição de Eva! De uma ponta a outra é uma beleza!
Obrigada, Ed, pelas palavras gentis.
Cinthia: este traz meu eu lírico mais feminista e revoltado...rsrsrs. Gosto muito dele.
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