Eu
queria escrever uma crônica que emocionasse as pessoas, que falasse
de amor, falasse de sonhos, mas eu não sei falar de amor. Um dia
escreverei sobre relacionamentos, sobre o amor, mas não será hoje.
Hoje falarei sober andar de bicicleta.
Eu
não lembro a idade que eu tinha quando ganhei a minha primeira
bicicleta, mas lembro perfeitamente dela. Era uma caloi cross
azul, com uma placa branca na frente, como se fosse placa de
competidor; tinha o guidon torto e uma proteção com espoja para
proteger de acidentes. Nunca adiantou de nada aquela proteção. Hoje
sei que a utilidade daquela esponja é a mesma de um para-quedas
estragado. Mas eu gostava da minha caloi. Ela significou muito para
mim. Aprendi muito com a minha velha Caloi.
Antes
de andar de bicicleta eu cai muitos tombos e algumas vezes cheguei
mesmo a desistir de andar de bicleta porque eu achava que nunca
conseguiria. Naquela época meu irmão tinha uma moto e eu adorava
andar de moto. Um dia, quando eu já tinha colocado a bicicleta em um
canto da casa e desisitido de aprender a andar ele me disse 'se
você quiser andar de moto precisa aprender andar de bicicleta'.
Eu queria muito aprender a andar de moto e então eu resolvi tentar
aprender a andar de bicicleta novamente. Eu não sabia o porquê, ms
eu precisava aprender. Em cada tombo eu lembrava das palavras do meu
irmão e tentava novamente. Aprendi a cair e a levantar, muito antes
de aprender a andar. E sem perceber eu aprendia o que era
persistência, o que significava seguir em frente. Eu tinha uma
motivação maior. E continuava tentando.
Mais
do que andar de bicleta eu aprendi a cair. E mesmo que eu ouvisse meu
pai ou meu irmão dizendo 'não foi nada'.
Era canela arranhada, joelho esfolado. E eles sempre dizendo que não
era nada, para mim significava dor, mas eu engolia o choro e tentava.
Hoje eu acho que eles sabiam o que diziam. Aquele nada, não era que
não era realmente nada. Era mais como se eles tentasse me dizer com
poucas palavras que diante de algo grande, algo que você realmente
queira, um obstáculo aparentemente intransponível, um tombo não
significam nada. Você precisa levantar e tentar novamente.
Mas
por que continuar com algo que dói? Não sei, mas a gente continua
insistindo em algumas coisas. Acho que quando a gente realmente quer
algo, precisa superar a dor e seguir em frente. No final, as dores e
os tombos lhe tarão a coragem e o aprendizado para você superar os
seus desafios e alcançar o que realmente desejamos.
Eu
continuava caindo, mas não foi só a motivação de um dia andar de
moto. Começou a crescer algo em mim, algo mais forte, uma teimosia.
Era como se a bicicleta e mundo dissesem para mim 'você não vai
aprender, não vai conseguir andar de bicicleta'. Aquele
pensamento começou a me revoltar. E então só porque eu não
conseguia, só porque eu não tinha, eu queria. E eu tentava mais.
Começei
a andar com as rodinhas. Primeiro com as duas, depois com uma, mas eu
continuava caindo. Mas agora eu andava mais do que caia. Um dia
tiramos a outra rodinha. E fui tentar a andar. Dei duas pedaladas e
fui ao chão, os olhos encheram de lágrimas, mas eu enguli. Tinha
vontade de jogar a bicleta longe. Tinha raíva dela, tinha raíva de
mim por não conseguir andar. Não lembro se foi o meu pai ou o meu
irmão, mas um deles disse para eu tentar novamente e que seguraria a
bicicleta para que eu não caisse. Subi novamente com medo de cair
novamente, mas aquela mão atrás dáva-me segurança, pedalei mais
forte e lembrando que a mão estava lá. Então tomei coragem e
pedalei maiis rápido, avançei alguns metros e parei. E quando olhei
para trás, ouvi aquelas palavras Você conseguiu.
Não tinha mais a mão por uns bons metros, mas eu sentinha como se
ela estivesse lá, me apoiando, dando me suporte para continuar.
Depois disso eu continuei caindo, mas não era porque eu não sabia
andar. Eu caia porque queria ser mais rápido, porque queria pular na
rampa; porque queria dar cavalhinho de pau. Eu cai porque queria
mais. E percebi que o medo de cair que um dia eu tivera, ficara para
trás. Agora era algo do tipo, o chão não é nada.
Eu
não tenho mais a minha Caloi e poucas vezes eu penso nela. Poucas
vezes eu penso como era andar de bicicleta na minha infância, mas
lembro muito dos tombos e daquela tarde que andei os primeiros metros
sem as rodinhas, apenas eu e a bicicleta. Mais do que andar de
bicicleta, eu percebi que durante a jornada em busca desse
aprendizado eu aprendi outras coisas, mas a que ficou mais eraizada
na minha alma foi descobrir que eu tinha a persistência ou teimosia
para seguir em frente.
E
embora hoje eu não consiga falar de amor como os poetas eu guardo em
mim, eu guardo em mim essa vondade de continuar tentando, de
continuar aprendendo e talvez um dia eu escreva sobre o amor, mas não
foi hoje. Hoje era o dia da bicicleta.
0 comentários:
Postar um comentário