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quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Andar de bicicleta


Eu queria escrever uma crônica que emocionasse as pessoas, que falasse de amor, falasse de sonhos, mas eu não sei falar de amor. Um dia escreverei sobre relacionamentos, sobre o amor, mas não será hoje. Hoje falarei sober andar de bicicleta.

Eu não lembro a idade que eu tinha quando ganhei a minha primeira bicicleta, mas lembro perfeitamente dela. Era uma caloi cross azul, com uma placa branca na frente, como se fosse placa de competidor; tinha o guidon torto e uma proteção com espoja para proteger de acidentes. Nunca adiantou de nada aquela proteção. Hoje sei que a utilidade daquela esponja é a mesma de um para-quedas estragado. Mas eu gostava da minha caloi. Ela significou muito para mim. Aprendi muito com a minha velha Caloi.

Antes de andar de bicicleta eu cai muitos tombos e algumas vezes cheguei mesmo a desistir de andar de bicleta porque eu achava que nunca conseguiria. Naquela época meu irmão tinha uma moto e eu adorava andar de moto. Um dia, quando eu já tinha colocado a bicicleta em um canto da casa e desisitido de aprender a andar ele me disse 'se você quiser andar de moto precisa aprender andar de bicicleta'.

Eu queria muito aprender a andar de moto e então eu resolvi tentar aprender a andar de bicicleta novamente. Eu não sabia o porquê, ms eu precisava aprender. Em cada tombo eu lembrava das palavras do meu irmão e tentava novamente. Aprendi a cair e a levantar, muito antes de aprender a andar. E sem perceber eu aprendia o que era persistência, o que significava seguir em frente. Eu tinha uma motivação maior. E continuava tentando.

Mais do que andar de bicleta eu aprendi a cair. E mesmo que eu ouvisse meu pai ou meu irmão dizendo 'não foi nada'. Era canela arranhada, joelho esfolado. E eles sempre dizendo que não era nada, para mim significava dor, mas eu engolia o choro e tentava. Hoje eu acho que eles sabiam o que diziam. Aquele nada, não era que não era realmente nada. Era mais como se eles tentasse me dizer com poucas palavras que diante de algo grande, algo que você realmente queira, um obstáculo aparentemente intransponível, um tombo não significam nada. Você precisa levantar e tentar novamente.

Mas por que continuar com algo que dói? Não sei, mas a gente continua insistindo em algumas coisas. Acho que quando a gente realmente quer algo, precisa superar a dor e seguir em frente. No final, as dores e os tombos lhe tarão a coragem e o aprendizado para você superar os seus desafios e alcançar o que realmente desejamos.

Eu continuava caindo, mas não foi só a motivação de um dia andar de moto. Começou a crescer algo em mim, algo mais forte, uma teimosia. Era como se a bicicleta e mundo dissesem para mim 'você não vai aprender, não vai conseguir andar de bicicleta'. Aquele pensamento começou a me revoltar. E então só porque eu não conseguia, só porque eu não tinha, eu queria. E eu tentava mais.

Começei a andar com as rodinhas. Primeiro com as duas, depois com uma, mas eu continuava caindo. Mas agora eu andava mais do que caia. Um dia tiramos a outra rodinha. E fui tentar a andar. Dei duas pedaladas e fui ao chão, os olhos encheram de lágrimas, mas eu enguli. Tinha vontade de jogar a bicleta longe. Tinha raíva dela, tinha raíva de mim por não conseguir andar. Não lembro se foi o meu pai ou o meu irmão, mas um deles disse para eu tentar novamente e que seguraria a bicicleta para que eu não caisse. Subi novamente com medo de cair novamente, mas aquela mão atrás dáva-me segurança, pedalei mais forte e lembrando que a mão estava lá. Então tomei coragem e pedalei maiis rápido, avançei alguns metros e parei. E quando olhei para trás, ouvi aquelas palavras Você conseguiu.

Não tinha mais a mão por uns bons metros, mas eu sentinha como se ela estivesse lá, me apoiando, dando me suporte para continuar.

Depois disso eu continuei caindo, mas não era porque eu não sabia andar. Eu caia porque queria ser mais rápido, porque queria pular na rampa; porque queria dar cavalhinho de pau. Eu cai porque queria mais. E percebi que o medo de cair que um dia eu tivera, ficara para trás. Agora era algo do tipo, o chão não é nada.

Eu não tenho mais a minha Caloi e poucas vezes eu penso nela. Poucas vezes eu penso como era andar de bicicleta na minha infância, mas lembro muito dos tombos e daquela tarde que andei os primeiros metros sem as rodinhas, apenas eu e a bicicleta. Mais do que andar de bicicleta, eu percebi que durante a jornada em busca desse aprendizado eu aprendi outras coisas, mas a que ficou mais eraizada na minha alma foi descobrir que eu tinha a persistência ou teimosia para seguir em frente.

E embora hoje eu não consiga falar de amor como os poetas eu guardo em mim, eu guardo em mim essa vondade de continuar tentando, de continuar aprendendo e talvez um dia eu escreva sobre o amor, mas não foi hoje. Hoje era o dia da bicicleta. 

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