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sábado, 21 de julho de 2012

O Telemarketing e o Cronista


— Alô?
— Boa noite! Eu poderia falar com a senhora Zulmar?
— É ELE mesmo...
— Desculpe, senhor Zulmar. Nós estamos ligando para o senhor porque o nosso Banco constatou que o senhor é um ótimo cliente, senhor Zulmar e como prêmio por sua boa conduta, estaremos disponibilizando um cartão de crédito internacional com as duas primeiras anuidades grátis. E tem mais, senhor Zulmar! O senhor poderá cadastrar até quatro dependentes e...
— Mas eu vou ter que pagar a fatura no final do mês?
— Como, senhor?
— A fatura. Eu vou ter que pagar o que eu gastar?
— Claro que sim, senhor!
— Então que prêmio é este, seu eu vou ter que morrer numa grana? Obrigado, mas eu não estou interessado. Aproveitando que você me ligou, uma pergunta: a senhora tem carro?
— Carro?
— Sim, carro. Aquela caixa de aço com quatro rodas, movida a gasolina ou a álcool, onde a gente entra e ela nos leva de um lugar para outro...
— Não... senhor Zulmar eu não tenho...
— Puxa vida, que coincidência maravilhosa! Eu estou vendendo um Monza 1982 novinho. Você estaria interessada?
— Mas, senhor...
— Trata-se uma oportunidade rara. Novinho, não batido. Documentação ok, ar, vidro elétrico, lindo, lindo. Parece carro de mulher, aliás, você pensou que eu fosse uma não?
— Eu já pedi desculpas, senhor... é que o seu nome...
— ... Eu sei, parece de mulher. Aliás, quer que eu te conte a origem do meu nome?
— Senhor, eu não posso conversar agora... eu estou trabalhando...
— Mas a nossa conversa está tão agradável! Sabe, quase 10 horas da noite, eu estava mesmo sozinho aqui em casa,  sem fazer nada, torcendo para que uma operadora de Telemarketing me ligasse...
— Para quê, senhor?
— Para um papinho sem compromisso. E acho que dei sorte, pois sua voz é muito bonita, sabe? Rouquinha, sensual. Fico só imaginando como você deve ser aí do outro lado da linha...
— Senhor Zulmar... Devo lembrá-lo que a nossa ligação está sendo gravada....
— Melhor. Assim ficará registrado o  dia em que nos conhecemos. De que cidade você é, minha flor? Pelo sotaque, deve ser do interior de São Paulo. Mas não há problema. Nada que uma passagem de ônibus não resolva...
— (....)
— Alô? Meu amor, está me ouvindo?
— (....)
— Alô? Você deve ser tímida não? Tudo bem, mas, e quanto ao Monza 82? Vai querer comprar?
tum...tum...tum...tum...tum...tum...tum...tum...

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Zulmar Lopes
Carioca, jornalista, contista e aspirante a romancista, Zulmar Lopes tem um punhado de prêmios literários, a maioria de nenhuma importância. Membro correspondente da Academia Cachoeirense de Letras (ACL). Roteirista do curta de animação “Chapeuzinho Adolescente”. Em 2011 lançou o livro de contos “O Cheiro da Carne Queimada”. Finalmente concluiu o maldito romance cujo pano de fundo é o carnaval carioca e está na expectativa de que alguma editora incauta se atreva a publicá-lo.
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