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Talvez hoje
o bar não encha, talvez só
por hoje as pessoas esquecam as cervejas, a diversão e fiquem em
casa com seus amigos, suas famílias.
Há
anos que não tenho um relacionamento sério. Ás vezes, eu até
gostaria de divertir-me um pouco com alguém, ou quem sabe namorar,
casar, ter filhos. Mas a verdade é que não tenho mais paciência
para relacionamentos, não tenho mais paciência com as pessoas. Acho
que no fundo, não tenho mais paciência para mim. Tenho andado tão
só, que com o tempo acostumei apenas com a minha presença,
acostumei a viver sem ningúem.
Mas
gosto de ir à cafés, restaurantes e bares; gosto
de ver pessoas, gosto de assisti-lás, mas não gosto da interação.
Há pessoas que não percebem que apenas quero ficar ali, distante,
apenas olhando. Tem uns que tentam começar uma conversa, como se eu
quissese conversar. Nesses momentos, só penso que gostaria que eles
não me aborrececem tanto. Os homens são os piores.
Eles
simplesmente não podem ver uma mulher sozinha em um pub.
Eles acham que precisamos ter um
homem ao nosso lado, então chegam e começam a falar. Na maioria das
vezes, eu não quero conversar, tento encerrar o assunto, dizendo que
estou lendo ou esperando meu namorado, mas eles continuam. É um
aborrecimento total. E devaneio comigo mesma, 'eu só
queria tomar uma bebida fora de casa, sem papos só para não estar
em casa'. E quando alguns, mais
ousados me tocam? Nesses casos lembro-me dos versos do poeta 'Não
gosto que me toquem'.
Meu
analista diz que são problemas mal resolvidos que tenho com o meu
pai. Eu, simplesmente, acho que é porque não gosto de ser
incomodada. Não é problema comigo. O problema é desses homens.
Foram poucos o que conseguiram fazer com que eu me sentisse uma
mulher de verdade, foram poucos os que fizeram com que eu sentisse.
Pela minha experiência, a maioria são uns mal educados, insensiveis
e egoístas. Pensam que sabem de tudo e que as mulheres não sabem
nada. Tratavam-me como uma estupida, como se eu não tivesse voz para
falar sobre os problemas do país, o sorriso da Monalisa ou
sobre a vida.
Há
muito que deixei de desejar um homem perfeito, gosto mesmo é dos
imperfeitos, mas almejo ainda encontrar um que simplesmente me
escute. Alguém com quem eu possa falar e que não seja meu analista.
Depois
de um tempo, comecei a perceber que os homens são na verdade meninos
de fraldas. Isso faz lembrar-me de um verso de outro poeta 'o
menino é o pai do homem'. Não
sei se isso faz muito sentido hoje em dia. Os meninos quando crescem,
parecem ainda mais meninos. Ou pior, meninos sem confiança.
Talvez
meu analista tenha razão. Talvez eu tenha problemas mal resolvidos
com o meu pai. Mas a verdade é que nunca conheci um homem como meu
querido pai. Ele era do tipo confiante, que me protegia e fazia com
que eu sentisse segura ao lado dele. Ele sabia que não podia me
proteger de tudo, mas se esforçava para fazer com que eu acreditasse
que isso fosse possível. Ele tinha uma confiança, uma segurança ao
falar comigo, ao cuidar de mim; uma segurança que nunca vi em nenhum
outro homem. Todos que conheci eram inseguros.
Será
que sou eu? Será que sou eu que os deixo inseguros? Nao, acho que
eles são assim por natureza. Os meus homens, meu ex-namorados, casos
não sabiam o que queriam da vida, esperavam que algo acontecem para
que tudo fosse diferente. Queria um emprego melhor, mas não
procuravam algo melhor ou atualizavam seus currículos; queriam uma
vida diferente, mas continuavam fazendo as mesmas coisas de sempre;
reclamavam das pessoas, mas continuavam saindo com elas. Sempre as
mesmas. Com o tempo fui perdendo a paciência, fui cansando-me desses
mesmos discursos. No final todos eles eram iguais, crianças com medo
de encarar a vida. Eu eu antes de ser mãe, antes de ser dona de
casa, eu queria ser mulher. Talvez por causa disso, hoje eu prefira
ficar sozinha.
Mas
gosto de ir a cafés e bares. Em
especial neste bar, no
qual tem esse sofá de couro, bordô, que tanto gosto. Ele é
aconchegante, confortável e isso me enche de confiança. Lembra o
meu pai. E isso traz me esperança. Penso em permiti-me uma vez mais,
ter alguém em minha vida novamente. Então veio para esse bar,
sento-me no sofá e tomo minha
bebida. E mesmo que eu não queira admitir, sempre acho que vai
chegar alguém e conversar comigo com toda a segurança, que não
ficarei impaciente, que terei vontade de conversar com essa pessoa.
Infelizmente, os homens que sentam ao meu lado são tão
desinteressanes e chatos ou são casados. Então, prefiro ficar
quieta no sofá, fingindo que leio ou fingindo que estou no celular.
Talvez
o problema não sejam os homens, talvez seja eu. Talvez, meu destino
é ser sozinha. É... pensando bem, eu sou muito complicada mesmo, nunca
vou achar alguém que me entenda, que escute o que tenho a dizer,
que me ame. E claro, que seja fiel.
Às
vezes, até penso em dar chance a um desses caras inseguros, mas daí,
imagino como seriam as coisas e percebo que teria que cuidar de tudo
em casa. Imaginar uma rotina, na qual eu teria que cuidar de tudo,
todos os dias, cansa. Talvez, eu esteja mesmo é cansada da vida. É
que tudo é um tédio, nada de novo acontece.
Ás
vezes eu queria viajar para um país distante ou encontrar alguém
com quem eu me sentisse bem, então casaríamos, teríamos filhos e
seríamos felizes. Simplesmente assim, ser feliz. Mas, acho que nada
disso vai acontecer, eu não vou conhecer ninguém interessante, não
vou viajar para um país distante. Mas uma coisa eu sei, gosto do
sofá, gosto de me sentir bem quando estou sentada nele, e então vou
ficando por aqui, sozinha no sofá, só mais um pouco, enquanto a
noite não chega.
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(*) Direito da imagem atribuído a dee_gee, seguindo os critérios estabelecidos pelo Creative Commons .
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