Da menina que virou bicho

 
 
Cadê o gato?

o rato comeu...

cadê o rato?

voou pela janela, com os sonhos de menina


"Perdi, antes de nascer, o meu castelo antigo".

Só quando deslizo em lamas de ouro,

me esfria a saudade do céu azul com nuvens de cordeirinhos


do outro lado do muro,

Terezinha de Jesus canta em dueto com a menina de ovos de ouro:

A canção da cigana, do boi da cara preta

Na escola maculada, a menina desaprende o verbo e leva chicotadas

de megeras da alfabetização.


Entre risos e choros a menina aquece seus tormentos


À noite, abafa seus sonhos com cobertores pesados, fétidos,


Seus cachos encaracolados são cortados por tesouras gigantes de aço preto


no brejo, aproxima-se de um sapo... ao beijá-lo, o sapo vira jacaré e a engole...


A tragédia do primeiro ato se encerra, e a  a cortina se fecha,


pelos começam a grudar em seus devaneios


seus pés crescem e se petrificam


seus olhos se congelam,


e seu rosto vira uma máscara de ferro

 
o horizonte é cortado por vértices afiadas,

a menina se debruça em  névoa molhada,

seus ídolos caem em mortalhas

nesse calvário, sem nobreza,

o  enterro da menina acontece num dia de chuva...

 
                                                                  The end

Comentários

  1. Luiza, um texto forte e bonito. Metáforas diferentes e bem escolhidas. Gostei muito.

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  2. Olá Cinthia, muito obrigada pelo comentário, fico feliz em atingir outras almas, outros corações, ainda que através da dura realidade das nossas crianças...

    um grande beijo e obrigada

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