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terça-feira, 10 de abril de 2012

O que ninguém lhe dirá numa oficina literária - parte 2 (A Publicação)






Leia a primeira parte: A Criação


Cada dia mais veremos somente o nascimento de grandes obras, ao invés de grandes autores
O desenvolvimento da escrita é um percurso longo, geralmente de várias décadas. No entanto, numa época de imediatismo, quando tudo é muito rápido e instantâneo, ninguém mais tem tempo para aguardar o amadurecimento de um talento literário.
Carreiras duradouras serão incomuns, e escritores com apenas uma ou duas obras de sucesso serão cada vez mais frequentes.
Enfim, o autor cederá espaço para a obra, que deverá sustentar-se por si própria.


Acostume-se a ser recusado. Você ouvirá muito mais "não" do que "sim" nesta carreira
Se você for uma pessoa normal, já deveria ter se acostumado à recusa. Todos nós já ouvimos "não" de nossos pais, daquela paixão que nos rejeitou, foi reprovado na escola, no vestibular ou no concurso público.
Ouvir "não" faz parte da nossa natureza humana e isto não é diferente no mundo literário.
Provavelmente, você ouvirá vários "nãos" antes de ouvir o primeiro "sim", isto se chegar a ouvi-lo um dia.
A maioria dos escritores só encontrarão as portas fechadas. E haverá apenas três alternativas: desistir, continuar tentando, ou seguir seu próprio caminho sem se importar muito com isto.


Ser publicado é mais uma questão de quem você é e de quem você conhece do que como você escreve
Esqueça todo o romantismo de um editor encontrando seu manuscrito em meio a milhares de outros, apaixonando-se por sua escrita e publicando seu livro.
Assim como em qualquer negócio ou empresa, os editores preferem lidar com quem eles já conhecem, ou com pessoas indicadas por gente de confiança.
Ter um livro publicado não tem nada a ver com qualidade literária. Se você for alguém famoso com milhões de fãs, ou alguém com as costas muito quentes, certamente passará à frente de qualquer gênio literário anônimo.


Não existem olheiros. Se você não correr atrás das editoras, ninguém correrá atrás de você
Com tamanha oferta, com tanta gente escrevendo bem por aí, ninguém virá atrás de você suplicando para publicar suas obras. Não existe isto, apesar de um dia já ter existido.
Hoje, todo o esforço de contatar as editoras, criar uma rede de relações, estabelecer sua reputação e tornar-se atraente para publicação depende exclusivamente de você.
Os editores não precisam do seu livro, eles necessitam de apenas três ou quatro autores best-sellers na casa que os carreguem nas costas, o restante é apenas para fazer volume.


Livro é produto. Tem custos e precisa (pelo menos hipoteticamente) dar lucro
A publicação é um investimento. A editora é uma empresa que investe tempo e dinheiro num livro visando vendê-lo e lucrar com isto.
Ninguém está interessado se aquela obra é o próximo grande clássico da Literatura Universal, ou se é apenas um passatempo de final de semana, desde que venda bastante.
Se um editor não vir o potencial de pelo menos pagar o investimento feito, isto é, vender uns 200 exemplares, ele não publicará seu livro.


Se você deseja estabilidade, tente concursos públicos. Pois ser escritor é viver numa montanha-russa
Geralmente, ser escritor não é uma carreira. Você não conseguirá pagar as contas e, provavelmente, nem um almoço com o que ganhará de direitos autorais.
Se você quer uma vida confortável, sem preocupações com o dia de amanhã, faça um concurso público. Literatura dificilmente lhe dará estabilidade financeira ou emocional.


Em nossos tempos, o sucesso tarda mais para ocorrer, e esvai-se muito mais rapidamente
Hoje, você precisa investir muito mais do seu tempo em sua carreira e os resultados serão mais fugidios.
Com tamanha oferta de títulos e autores talentosos no mercado, considere-se um felizardo se sua obra conseguir um espaço na imprensa e atraia a atenção do público por mais de um mês, ou até menos.
Há muito para se ver e se consumir, ninguém mais tem tempo ou interesse para dedicar a atenção para um único livro/autor.
Você estará disputando espaço com milhares de outros livros e, logo depois da publicação do seu, a avalanche continuará, soterrando a sua obra.
Amanhã, você já terá sido esquecido.


Publicado originalmente em http://blogdoescritor.oficinaeditora.com/2012/01/o-que-ninguem-lhe-dira-numa-oficina_28.html


Henry Alfred Bugalho
Formado em Filosofia pela UFPR, com ênfase em Estética. Especialista em Literatura e História. Autor dos romances “O Canto do Peregrino” (Editora Com-Arte/USP), "O Covil dos Inocentes", "O Rei dos Judeus", da novela "O Homem Pós-Histórico", e de duas coletâneas de contos. Editor da Revista SAMIZDAT e fundador da Oficina Editora. Autor do livro best-selling “Guia Nova York para Mãos-de-Vaca”, cidade na qual morou por 4 anos. Está baseado, atualmente, em Buenos Aires, com sua esposa Denise e Bia, sua cachorrinha.
http://www.henrybugalho.com/

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