Francisco Ferreira
Fui deitar-me e havia varandas,
alpendre e trinca-ferros trilando;
havia jardins? Havia...
e flores, à namorada, roubadas.
Havia frutas nos quintais? Havia...
pomares invadidos e risos
de crianças desembestadas, de bocas sujas, a correr
havia estripulias...
Acordei num turbilhão de gentes correndo,
sempre correndo, sem rumos
como quem vai a algum lugar e alhures! Apressados...
A cidade, velha dama provinciana, adoecida
inchando a olhos nus
malta de pedreiros, engenheiros, serventes e pedintes
e de hieróglifos indecifráveis nas fachadas,
ensaios de uma língua natimorta!
Muros, cercas e alarmes trancam sorrisos,
bons-dias e “olha o leeeeeeeeeeeite”
encarcerando em prisão-perpétua
padeiros, verdureiro, leiteiro
extintos, na mesma condenação
de outras dignas profissões abandonadas.
Não compreendo estas janelas
de comportamento inadequado:
sempre fechadas, na escassez de sorrisos...
Biografia
Francisco Ferreira, poeta do interior de Minas Gerais e residente em Betim, no mesmo estado, com algumas premiações literárias, participações em antologias e dois livros de poemas em gestação.
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