Receba Samizdat em seu e-mail

Delivered by FeedBurner

sexta-feira, 30 de março de 2012

Cosmopolita

Francisco Ferreira

Fui deitar-me e havia varandas,
alpendre e trinca-ferros trilando;
havia jardins? Havia...
e flores, à namorada, roubadas.
Havia frutas nos quintais? Havia...
pomares invadidos e risos
de crianças desembestadas, de bocas sujas, a correr
havia estripulias...

Acordei num turbilhão de gentes correndo,
sempre correndo, sem rumos
como quem vai a algum lugar e alhures! Apressados...
A cidade, velha dama provinciana, adoecida
inchando a olhos nus
malta de pedreiros, engenheiros, serventes e pedintes
e de hieróglifos indecifráveis nas fachadas,
ensaios de uma língua natimorta!
Muros, cercas e alarmes trancam sorrisos,
bons-dias e “olha o leeeeeeeeeeeite”
encarcerando em prisão-perpétua
padeiros, verdureiro, leiteiro
extintos, na mesma condenação
de outras dignas profissões abandonadas.

Não compreendo estas janelas
de comportamento inadequado:
sempre fechadas, na escassez de sorrisos...

Biografia
Francisco Ferreira, poeta do interior de Minas Gerais e residente em Betim, no mesmo estado,  com algumas premiações literárias, participações em antologias e dois livros de poemas em gestação.

Share




0 comentários:

Postar um comentário