Marcos B. Hoffmann
Sonhei que ela estava do meu lado, mas não estava, como sempre.
Aliás, a última vez que dormi com ela foi… nem lembro. Faz tanto tempo! Faz tempo, também, que não durmo com alguém.
Viro para o lado na cama, esperando abraçar um corpo macio, cheiroso, mas nada. Metade da cama está vazia. Como eu. Me sinto vazio sem ela. Falta um pedaço de mim.
Pode parecer bobagem, mas vocês não conheceram ela. Ah, como ela me faz falta. Sinto falta do sorriso, aquele sorriso solto, espontâneo, que sempre levantava meu astral.
Sinto falta da sua juventude, que me fazia esquecer da minha velhice. Sinto falta de tudo, enfim.
Mas um dia ela foi embora. Cansou. Cansou da minha rabugisse. Da minha falta de sensibilidade. Da minha ignorância e do meu egoísmo.
Não a culpo, nem posso, muito menos devo. Ela se foi. Fazer o quê? Foi para lugares melhores, companhias melhores, uma vida melhor. Melhor sem mim.
Ficou a saudade. Ficou a frustração. Ficou a raiva, até.
Raiva não dela, de mim.
Da minha falta de percepção. Da minha vida vazia. Do meu futuro incerto e tenebroso.
Tenho poucos anos pela frente, eu sei. Mas serão anos terríveis. Porque estou sem ela.
Porque estou sem metade de mim.
Sobre o autor:
Marcos B. Hoffmann - jornalista, 52 anos, formado pela PUC-RS. Gosta de viajar, ler, de música. Escreve contos, poemas, crônicas e microcontos nas horas vagas.
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