Não, agora não!!!
Não, esse momento me pertence!
O clarão se anuncia, minha pele se reverbera, minhas vísceras...
Não, agora não!
Deixa-me sacramentar o criar, o respirar, o sentir meu desejo, a carícia que
me acaricia.
Não, agora não!
Eu preciso hoje orar, cantar, amar, gritar o meu nome
Não, agora não...
Deixa-me com meu instante, com as minhas ínfimas certezas advindas,com os
meus insignificantes e limitados progressos...
Quero ficar longe das pressões e dos rancores.
Cale-se!
Não me atordoe.
Por que vou abrir meu ventre, tenho que costurar meu peito dos afetos rotos,
dessa cumplicidade insana....
Tenho que remendar cada vão soluço,
Não me atordoe.
Por que vou abrir meu ventre, tenho que costurar meu peito dos afetos rotos,
dessa cumplicidade insana....
Tenho que remendar cada vão soluço,
cuspir cada gota do vinagre que elaboramos.
Não, agora não...
Quero hoje trilhar a aurora, me espreguiçando sem mágoas, com o sorriso
sereno de quem colhe rosas.
Sentir a terra na sola do meu pé, deixar o vento me castigar com lambadas de
chuva, lavando da alma o tudo que não lhe fui,
Quero sentir a chuva batendo no meu rosto, desatando a indecisão
insuportável dos receios, dos medos, das claudicações...
Quero enxergar o ser que sempre trouxe nas entranhas, destrancar com esta
chave a porta do medo, regozijar com o meu amanhecer.
Quero a leveza desta madrugada, imersa no silêncio dos momentos mortos.
Um novo alvorecer:a criança já dormiu....
O padeiro já trouxe o pão,
O leite está quente.
Há um fogão de lenha que traz de volta a minha simplicidade e pureza.
O leite está quente.
Há um fogão de lenha que traz de volta a minha simplicidade e pureza.
Vou enxergar agora o mais primitivo do meu ser, como quem acorda e espreguiça e
nasce como um rebento, sujo de sangue, que chora e ecoa seu vagido de liberdade.
A liberdade sofrida, evadida da clausura do medo, que aspira e rasteja,
mas que sorve da teta da vida, que explora o cheiro da terra e rejeita o
azedume do vomito transformando-o em adubo da nova vida...
nasce como um rebento, sujo de sangue, que chora e ecoa seu vagido de liberdade.
A liberdade sofrida, evadida da clausura do medo, que aspira e rasteja,
mas que sorve da teta da vida, que explora o cheiro da terra e rejeita o
azedume do vomito transformando-o em adubo da nova vida...
Estou saindo da aspereza eternizada para a digestão do sentimento e da
beleza, e veja: é da dor estancada que farei emergir o grande
pássaro!
Não, agora não...
Hoje sou pássaro e quero voar, vou sair do seu território, da sua
estreiteza medíocre e avarenta, agora vou ultrapassar a linha do seu
poder.
Não, agora não....
Quero dançar na memória da nossa vida, rasgar seus compêndios estragados,
urinar o suor frio do passado e acalentar este meu doce amanhecer com um
suspiro e um beijo, enquanto piso na relva molhada que é a trilha do nosso
adeus.
The end
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