Cantai a alegria do Sol e a ternura da Lua e, quando nem o Sol nem a Lua se mostram, cantai as nuvens pesadas que nos fazem companhia.
Cantai as folhas do Outono e as flores da Primavera, cantai o riso da alegria e as lágrimas do desgosto; cantai o andar pesado do vagabundo e o gesto solto da bailarina, cantai o picar da vespa e o voo da andorinha.
Cantai a água fresca da nascente no Verão, cantai o fumo da lareira do Inverno, cantai a bebedeira da borboleta e a disciplina da formiga; cantai a inocência do animal que corre e os montes que ao longe se quedam, cantai o ontem que morreu e o amanhã que nascerá.
Cantai o peixe que nada e o pássaro que voa, cantai o vento que sopra e a chuva que molha, cantai o dia que nasce e a noite que cai. Cantai o mundo todo por inteiro, cantai aquilo que é e aquilo que não é; cantai o sonho e o pesadelo que podiam ter sido e não foram ou que podiam não ter sido e foram.
Cantai os que se aproximam e os que se afastam, cantai quem compreendem e quem não percebem, cantai quem ajuda em horas de necessidade e quem foge ao sacrifício, cantai os que vêem e os que são cegos, cantai tudo o que à vossa porta passe. Ou que não passe.
Cantai, que eu não tenho voz.
1 comentários:
Não tem voz mas canta com a palavra.
Bonito!
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