Bom, ingressei nesse fim-de-semana acompanhado de uma pneumonia. Essa seria pra mim a pior notícia do mês não fosse a que veio de Goiás, onde uma enfermeira acabou de matar a pancadas seu cachorrinho na frente da filha de 2 anos.
Os casos de maus-tratos a animais no país não é coisa nova, mas está, ainda bem, sendo mais veiculado, debatido e criando, felizmente, picos de indignação. O grande problema, como se sabe, é a impunidade ou a fragilidade da lei penal brasileira. Maus-tratos a animais aqui é regido pela lei de Crimes Ambientais de 1998 e dá, no máximo, 1 ano pra um sujeito que extermina com crueldade um gato, um papagaio ou qualquer outro bicho. Nos EUA um indivíduo foi condenado a 9 anos de prisão por ter queimado um pitbull.
Gandhi certa vez disse “pode-se medir a qualidade de um país pela forma como seus animais são tratados”. No Brasil a cultura da indiferença ao sofrimento e ao não temor pela punição começa desde cedo. Vemos crianças atirando pedras em cães ou em cavalos e achamos normal. E daí para um patamar superior, com jovens matando animais com creueldade, pelo prazer do ato, é um ato “criminoso” no papel apenas. Cestas básicas ou termos circunstanciados resolvem e o psicopata está de volta às ruas para continuar espalhando seu modo cancerígeno de viver a vida.
Desse estágio em diante encontramos mães que largam seus bebês à própria sorte em caçambas de lixo, em sacos plásticos nas calçadas, etc. Que criação tiveram? Em que valores se espelharam? Que tipo de vida pretendem ter? Matar um filhote de gato foi só o início.
Dizer que a culpa é só do governo é hipocrisia. Dizer que a culpa é só da família que não educou, também. O controle de natalidade é uma ferramenta importante a ser trabalhada, mas passa-se primeiro pelo ajuste do campo social de emergência. Nesse ponto, o primeiro passo é uma consciência ampla de família. Trabalhar a mente do pai e da mãe nesse sentido: há condições de ter filhos? É necessário tê-los? Essa é primeira meta. Mas esse tipo de pensamento também passa por uma reforma política. Porque é sabido que a miséria gera votos. A miséria, ela própria, cria uma indústria de votos. Então, esperar que o cenário macro mude sem a mudança micro, é como querer que o adulto não seja traumatizado, estranho, rude ou violento se o que ele viu na infância foi barbárie, se ele, aos 2 anos, viu sua mãe matar um cachorrinho na pancada.
3 comentários:
Foi uma grata surprese ler esse texto seu tão in natura, tão verdadeiro. Sou voluntário em abrigo de animais e uma amante dessas criaturas. Chorei, tive ódio, me arrasei e, finalmente, me perguntei o que é que faz uma pessoa matar um animal assim, do nada, e ainda expor uma criancinha de 2 anos a uma cena dessas. Nâo consegui me responder. Seu texto mostra a interligação entre tudo: o que somos, o que seremos, o que será de um país construído propositadamente sobre a ignorância e a barbárie, porque é cômodo para os senhores do voto. Seu texto é uma lamento e uma denúncia e mostra a sensibilidade de um homem que se importa com os animais, ao mesmo tempo em que é a crítica procedente de um cidadão que saber ver e pensar. É triste mesmo. A gente só não pode é desanimar! Parabéns!
Cinthia, também atuo com pessoas que cuidam de animais aqui no meu estado. Infelizmente, episódios como o dessa desprezível mulher, ocorrem sistematicamente em muitos locais. O grande problema é que somos racionais mas não agimos efetivamente como tais. E pra piorar, não há nesse país um freio decente, pois não há respeito às leis, a religião é entendida de forma deturpada e valores familiares, onde estão eles? Então, vamos nos indignando, mas ainda de modo um tanto isolado, pusilânime. Já está na hora do brasileiro tomar atitudes como os árabes estão tomando. Maus-tratos a animais tinha de dar prisão séria, e 5 anos pra cima, no mínimo. Dirigiu alcoolizado e matou? Prisão sem direito a fiança. Infelizmente, o Brasil ainda é muito leniente em relação a assuntos sérios, graves, urgentes.
Léo, obrigada por responder ao comentário, e de uma forma tão sincera. Penso como você, que a questão se estende a tudo, mulheres que apanham, negros que ainda passam pelo preconceito, gordos (como eu), deficientes... É uma gama de violência explícita. Uma psicóloga me disse uma vez que o abuso moral pode causar tantos danos ou mais do que o abuso físico. E você tocou no ponto principal; RESPEITO. Á partir dessa palavrinha, tudo se dá, se não pela concordância, pelo compreensão do que é realmente liverdade. Obrigada, mais umna vez, pela resposta!
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