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terça-feira, 6 de outubro de 2009

Sonata da criação

Por Wellington Souza

Seu caminhar não abalou o silêncio pré-genesíaco
que dorme.
Aproxima-se, sorri, senta-se
hálito com hálito.

Toca meu dedo anelar
e o martelo,
ainda tímido,
faz vibrarem meu nervos
que soam leve o bastante para embalar o primeiro sol do recém-mundo
e arrepiar-me toda, ali.

Logo toca também o segundo
e o terceiro
e as notas vão regendo as coisas e os seres e o quarto
e a mão
e me faço, enfim
– me faço não; e me fazes
enfim
ser ouvida, vencendo o vácuo e o infinito!

para um instante depois quietar,
esbaforida
– esbaforida não, esbaforidos
de tanto soar e tocar e suar.

Ainda,
antes de partir,
fecha-me a cauda e acaricia
de tão leve
que apenas as pontas dos dedos me pulem e me engorduram.
E tudo volta ao pré-genesíaco
e nem ouço teus passos te afastando.



Publicado originalmente no blog do autor - http://hiper-link.blogspot.com

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