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segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Jogue sua Gramática no Lixo

Há pessoas que por decorarem a gramática acham que sabem língua portuguesa e por isso pensam que podem ridicularizar outros falantes que não falam como elas.

Essas pessoas que decoraram as regras não sabem os conceitos que abordam a língua portuguesa. A gramática não é a língua! São profundos leigos quando se trata de língua portuguesa. O conhecimento da língua requer estudos, pesquisas, reflexões e conceitos que estão além da gramática normativa.

Nós que estudamos a língua de uma maneira mais ampla e científica (e isso quer dizer que não nos prendemos a regras sem sentido e “furadas” da gramática normativa), sabemos que a língua portuguesa possibilita várias formas de se falar que não são descritas pela gramática normativa e são tidas como “erros”, as quais preferimos chamar de variações linguísticas. Mesmo conscientes da existência dessas formas os gramáticos insistem em ignorá-las. Nós estudamos e pesquisamos essas variações linguísticas e entendemos porque uma pessoa fala “para mim fazer” ao invés de “para eu fazer”, e por isso, não a ridicularizamos. O português falado pelo homem analfabeto do sítio considerado “errado” por gramáticos e seus seguidores (leigos), não é o mesmo falado por um homem escolarizado que vive na cidade. E este homem analfabeto do sítio consegue se expressar e se comunicar com o homem escolarizado da cidade. Eles se entendem.

Ninguém fala errado, fala diferente. O conceito de certo e errado com relação à fala não existe. Porém, há erros quanto à estrutura, por exemplo: “livro eu um longo ontem li”, está frase está errada e nenhum falante do português falaria assim, ele tem domínio do que pode e do que não pode. E mesmo assim, em raríssimas situações, quando comete um erro estrutural, corrige-se imediatamente.

É possível escrever e falar bem sem ter conhecimentos normativos. Quando se estuda a língua portuguesa cientificamente, torna-se mais fácil e prazeroso o aprendizado das normas. Saber a gramática normativa não é ascensão econômica ou social, e saber suas regras e nomes técnicos não muda nada para o aluno ou morador do sítio. Eles sabem o português, o que não sabem são as regras da gramática.

A frase: “alugam-se casas” tão defendida por gramáticos, leigos e professores tradicionalistas, contém um erro (e não visto por eles). Já que a frase não segue a ordem: sujeito, objeto e verbo; então, colocaremos: “casas se alugam”. Alguém já viu casa se alugar? Além de estar errada, provoca boas gargalhadas. Nós temos uma explicação lógica e que não nos provoca risos. “Alugam” é o verbo, “se” é o índice de indeterminação do sujeito e “casas” é o objeto. Neste caso, a frase não tem sujeito, e “aluga-se casa” ou “aluga-se casas” ambas estão corretas. Então, quando vir escrito “aluga-se casas” não faça cara feia!

Quando uma pessoa fala “errado” o único motivo para rir são as outras que a ridicularizam pelo “erro”, que não sabem e não entendem porque ela fala desse jeito.

O grande mal do ensino da língua portuguesa é que gramáticos tradicionalistas fazem sucesso entre os leigos, e pessoas que adentram os campos da lingüística, criam leis sem fundamentos (como a inútil “antiestrangeirismos”), publicam “Guia Prático de Português”, “Português sem Complicação” e outros livros relevantes só para ganharem dinheiro, sem terem estudado e sem saberem como é, de fato, o estudo e funcionamento da língua portuguesa.

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9 comentários:

e minha opinião é: ridicularizar o outro é muito mais "errado" do que falar ou escrever errado. mas quem sou eu ou vocês para falar o que é errado? quem nos deu esse poder para sairmos rotulando pessoas pelos seus graus de instrução ou por seus comportamentos? viva e deixe viver e f@%&*-se o resto!

Concordo com boa parte do texto, no entanto acho q essa história de "jogue sua gramática no lixo" um exagero.

O esudo da gramática deve ser feito de maneira reflexiva. Não existe quem saiba tudo de linguística e não domine a gramática normativa. Logo, ela é importante.

O estudo da gramatica sistematizado e isolado não tem muitovalor de fato, mas ignorá-lo é exagero.

Também não concordo com o título, mas imagino que não é pra ser literal e sim um exagero pra chamar a atenção. Tenho minhas suspeitas que ele conseguiu o que queria com o texto: levantar polêmica.

Eu confesso que acho que as pessoas precisam tentar falar certo sim (senão pra que as regras?), mas a minha raiva por quem ridiculariza o outro é tão grande que gostei do texto por causa disso. Essa coisa de ridicularizar o outro é típica de letrados complexados, ou seja, gente que estudou a gramática, gente que até é culta mas tem complexo de inferioridade, tamanha é a necessidade de se sobressair em cima dos erros alheios. Isso me irrita profundamente.

Nas aulas de linguística da pós-graduação que estou cursando, as professoras também ressaltam essa questão de que não é a gramática normativa que se deve ensinar em sala de aula, e de que aprender nomeclaturas ou regras não faz de ninguém um bom falante/escritor do português. Afinal, todos chegam na escola falando português, portando, sabem a língua. Mas daí a "jogar a gramática no lixo"... Não vou tão longe. Acredito que não é o saber as regras que importa, mas saber usar a língua. Se eu escrevo ou falo certo, mesmo que não saiba o porquê de determinada construção, ótimo. Agora, se eu não sei usar meu próprio idioma, principalmente se trabalho com ele, é complicado.

Este texto precisa de revisão gramatical.
(Adorei dizer isto!)

Entendo o que o Guilherme quer dizer, mas assim como outras normatizações da vida social, como as regras de trânsito, as leis, os códigos de etiqueta, a gramática também tenciona facilitar e homogenizar a comunicação, para que todos os falantes, de regiões distintas ou países distintos dentro duma língua, consigam expressar com clareza seus pensamentos.

A função da linguagem é comunicar, nada mais óbvio. Poderíamos simplesmente apontar para a boca com a mão e urrar: "fome! fome"
Mas o nosso desenvolvimento social nos propiciou a elaboração de um sofisticado código de comunicação e a normatização nada mais é do uma das etapas deste desenvolvimento, quando os próprios seres humanos se debruçam sobre a língua natural para compreendê-la.

O problema não está na gramática, mas sim em acreditar que ela seja a palavra definitiva quando se trata de utilização da língua. Assim como dicionários, ou a legislação cível ou criminal, a gramática registra os casos mais usuais (do passado, projetando-os para o presente) e os utilizam como parâmetros correntes, o que de maneira alguma elimina as variações, que são tão ou mais genuínas quanto a normatização e que, provavelmente, a seu tempo, também determinarão as gramáticas futuras.

A respeito da frase: “alugam-se casas”, não sei se concordo com vc, não sou professor.
Mas difícil é não seguir as regras dos professores tradicionalistas durante uma prova de concurso.

Se vc estiver certo, eu poderia perder pontos.

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