Gaúcho de Porto Alegre, o jornalista e escritor Luis Dill, 44 anos, tem 21 livros publicados, principalmente de literatura infanto-juvenil (classificação que ele rejeita, por acreditar que classificações são sempre excludentes, como se outro público não pudesse ler tais livros).
Foi vencedor do prêmio Açorianos de 2008 com o livro de contos policiais Tocata e Fuga, publicado pela Bertrand Brasil. Também foi indicado várias outras vezes para esse mesmo prêmio, o principal do Rio Grande do Sul.
Tem livros, entre outras editoras, pela Edições SM, Cia das Letras e Artes & Ofícios. Um fato interessante é o primeiro livro que ele publicou foi escrito em apenas um mês. Ele tinha batido (literalmente) na porta de uma editora em Porto Alegre para oferecer um livro, que era um romance policial voltado ao público adulto. Eles disseram que gostaram do seu estilo de texto, porém naquele momento não estavam publicando o gênero; se ele topasse, poderia apresentar um original infanto-juvenil. Ele nunca tinha escrito nada para esse público, mas saiu dali e começou a escrever. Um mês depois, o livro estava sendo enviado à editora.
Passados 20 anos, ele segue se dividindo entre a escrita e o jornalismo (trabalha na FM Cultura), mas já conseguiu deixar um dos dois empregos que tinha antes para dedicar parte do seu tempo à escrita. É muito lido em escolas, onde também dá palestras com frequência.
O site do escritor é www.luisdill.com.br. Confira aqui a entrevista que ele concedeu à Samizdat.
Samizdat: Sua inserção no mundo da literatura infanto-juvenil foi incidental, dadas as exigências do mercado editorial. Quais são as especificidades deste gênero? O que é necessário ter em mente ao se escrever para o público infanto-juvenil?
Luis Dill: Não vejo grandes diferenças entre literatura juvenil e literatura adulta. Sequer gosto dessas segmentações. Para mim é tudo literatura. O que tomo como regra para mim é evitar palavrões e cenas muito explícitas em termos de sexo e de violência quando escrevo livros destinados aos jovens. Penso que o gênero requer ritmo, boa estrutura narrativa, ação e, sobretudo, qualidade.
Samizdat: A literatura policial costuma retratar os problemas sociais e, mais do que isto, características dos povos de seus países de origem. Como você percebe isto na literatura policial do Brasil? Quais são as nossas características (qualidades ou defeitos) que tendem a transparecer no desenrolar de uma trama?
Luis Dill: Na literatura policial feita no Brasil, a cara do nosso país fica evidente. Por exemplo, quando se fala em crimes de colarinho branco ou crimes de bandidos "comuns". Literatura tem disso: é espelho.
Samizdat: Quais são os elementos de uma boa história policial?
Luis Dill: Bons personagens, boa trama e respostas convincentes para solucionar o livro. Pontas soltas ou soluções fáceis "matam" o livro.
Samizdat: Como escritor de policial, você consegue perceber os "bastidores" da narrativa de outros autores? Você tomou algum autor de romance policial como referência?
Luis Dill: É difícil perceber isso, a menos que se conheça bem o autor e suas motivações. Minhas referências são as mais variadas. No gênero policial, comecei com Hammett e Chandler. No Brasil admiro muito o Marçal Aquino.
Samizdat: Nos EUA, o gênero policial é um segmento muito importante do mercado editorial, com vendas impressionantes e grandes autores consagrados. Qual é o bloqueio brasileiro em relação ao gênero, na sua opinião? Está do lado das editoras, dos autores ou dos leitores? Ou teria algo a ver com uma descrença generalizada dos brasileiros em relação ao aparelho repressor do Estado - polícia, sistema penal e carcerário - , isto é, como acreditar em romances policiais se vemos tanta impunidade por aí?
Luis Dill: Não sei ao certo se existe um bloqueio em relação ao gênero. Talvez faltem mais autores de qualidade. Não temos tradição no policial, mas acho que isso está mudando. E penso que a questão da impunidade pode muito bem aparecer em romances policiais. Acreditar ou não vai do leitor. Se entrarmos por esse lado, não leríamos ficção científica nem histórias de fantasia.
Samizdat: Seu conto O carteiro nunca chama duas vezes fala de um "assassino profissional". Matadores de aluguel existem, ou são arquétipos de personagens de ficção (como os detetives de filmes noir)?
Luis Dill: Matadores de aluguel existem. Claro. Há inúmeras reportagens a respeito. Em alguns cantos do país, é quase uma profissão respeitada.
Samizdat: Como foi a experiência de reescrever Machado de Assis? Qual (ou quais) histórias você "recontou" em Machado de Assis - Conto e Reconto?
Luis Dill: Recontei Pai contra Mãe. Foi uma tremenda responsabilidade, mas me diverti muito trazendo aquela história para um morro de Porto Alegre nos dias de hoje. O livro ficou tão bom que foi adquirido em grande quantidade pela prefeitura de São Paulo.
Samizdat: Hoje é possível encontrar obras inteiras na internet, que podem ser "baixadas" de sites especializados sem pagar nada por isso. Como você vê a questão do mercado editorial? As editoras terão o mesmo destino das gravadoras?
Luis Dill: Acho que não. Sou a favor de todas as novas tecnologias. Não se pode deter o futuro. Só que acho insuportável ler no computador. Jamais trocaria um livro tradicional por algo "baixado" da inter net.
Samizdat: Você conseguiu publicar seu primeiro livro após bater, literalmente, na porta das editoras. Atualmente, esse expediente ainda é válido para o escritor iniciante?
Luis Dill: Claro que sim. Hoje ficou mais fácil publicar, mas ainda acho saudável bater de porta em porta, conversar com gente do ramo, aprender. Isso ajuda a não cometermos erros por pressa em publicar.
Samizdat: Seu primeiro livro publicado foi escrito em cerca de um mês, e em um gênero, juvenil, que você não dominava. Diante disso, qual o seu conselho aos aspirantes a escritor que não conseguem terminar suas histórias?
Luis Dill: Ler constantemente. Reescrever constantemente. Planejar também ajuda.
Samizdat: No Brasil, dá para viver de literatura?
Luis Dill: Tem gente que consegue. Eu ainda estou trabalhando para atingir esse patamar.
Samizdat: Em que sua formação e o exercício da profissão de jornalista influenciou sua produção como escritor de ficção?
Luis Dill: Um pouco não muito. São atividades de certa forma antagonônicas. Um trabalha com ficção e o outro com a realidade. Se eu fosse veterinário, por certo um pouco da profissão entraria nos meus livros.
Samizdat: Estamos no meio de uma polêmica bastante recente: a decisão do STF sobre o fim da exigência de diploma para exercer o jornalismo. Você, que é jornalista e escritor, que pensa a respeito?
Luis Dill: Sou contra. E espero que as empresas de comunicação deem preferência aos profissionais formados.
Perguntas feitas por: Volmar Camargo Jr, Henry Alfred Bugalho e Maristela Scheuer Deves
Coordenação da entrevista: Maristela Scheuer Deves
terça-feira, 15 de setembro de 2009
Entrevista com Luis Dill
por maristeladeves
2 Comentários
2 comentários:
ola
beleza, http://vone333.no.comunidades.net
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