Meu primeiro plantão nesta Delegacia de Polícia Federal foi do dia 24 ao dia 25 de janeiro de 2009.
Recebi, registrei e encaminhei uma denuncia de roubo e extração ilegal de madeira em terras de terceiro. Comuniquei ao Delegado Moreira e acionei uma equipe de seis agentes para interceptar os caminhões ao anoitecer na saida para a estrada que vai para a cidade de Canarana. Sondei os investigados e alertei meus colegas para ter cuidado com os guachebas de um tal de Paulinho Polícia, contratados para dar cobertura armada aos crimes. Ficou um vai e vem de viaturas me apurrinhando até de madrugada. Os caras dos caminhões abandonaram os mesmos e entraram no mato. Um dos caminhões sem as chaves e outro sem freios. Os colegas arrancaram cabos e secaram os pneus do sem chave e conduziram o sem freios até o Posto São Cristovão no Trevo que liga Paranatinga à Canarana.
Às 21:40 o colega Eráclito pede reforços, água mineral, esparadrapo e algodão. Aciono a força Nacional e entrego a submetralhadora HK do Plantão ao colega Rosemberg para reforçar a equipe. Às 1:50 toda a equipe retorna e me entrega alguns documentos e materiais apreendidos, bem como a HK.
Às 2:00, depois que todos vazam, deixo os dois vigilantes em alerta e vou dormir na salinha que fica ao lado da recepção do plantão. Acordo com um tiro sobre algo metálico. Pelo arrastar do portão de ferro da frente da delegacia, concluo que arrombaram o cadeado. Me levanto já com a Glock empunhada na posição três. Deslizo rapidamente o indicador da mão fraca sobre o chanfro do check alimentação e confirmo que a belezinha está municiada na agulha. Ouço outros disparos e o barulho da porta de vidro da entrada se despedaçando. Os vigilantes ainda respondem com uns 4 disparos, mas escuto seus passos em fuga correndo para os fundos da delegacia. Enquanto me abaixo e seguro na bandoleira da HK e no carregador reserva, outro tiro acerta a porta do quartinho onde estou, atravessa-a e se aloja na tampa do quadro telefõnico logo acima da minha cabeça que só pensa numa coisa: -Fudeu!
Havia trancado a porta do quartinho com duas voltas na chave. Eles teriam trabalho para entrar, mas os tiros não. Ouço muitos passos. Devem ser uns três ou quatro. Abaixado, abro a porta secreta que liga o quartinho do plantão à sala dos computadores, entro na sala e tranco na trava. Corro em direção à porta do Núcleo de Tecnologia para escapar pelo corredor mais além. Mais tiros, um estrondo de pesada na porta do quartinho e outro da sua madeira estralando no chão. Eu corro pelo corredor em direção à sala 321, é minha única chance. Na sala do Núcleo de Operações eu teria todas as munições e granadas que precisasse. Porta trancada por fora. E agora?...
Escuto ser estilhaçada por uma rajada de tiros a porta de vidro entre o corredor e o sagão da Delegacia.
Com a Glock, disparo nervosamente um monte de tiros no trinco da porta e enfio-lhe o pé até escancará-la. Após me abrigar na sala, meto cegamente a HK no corredor e dou três rajadas. Ato contínuo, abro o armário de granadas e retiro uma de gás lacrimogênio e outra de luz e som. Com uma olhada rápida no corredor, vejo que pelo menos um cara gemia sangrando no chão. Outros dois corriam tresloucados em minha direção. Lanço uma após outra pelo corredor e dou mais umas rajadas com a HK até descarregá-la. Corro para o cabide dos coletes, pego todos eles, derrubo o birô e com eles faço uma barricada. Municio uma Spas 15. Um dos caras mete uma pistola pra dentro da sala e atira à esmo. Os coletes protegem muitos, mas um dos tiros pega minha perna direita de raspão antes que um tiro de minha calibre 12 arranque o braço do cara fora. Bendita Spas 15...
Retiro o celular do bolço e ligo para o Agente Beretas. Conto-lhe a situação e ele diz que em minutos estará na delegacia com todo o resto da equipe. Ouço estilhaços de vidro da janela sobre minha cabeça e uma granada militar rolando no chão... Seus biscoitos verdes e metálicos quicando na cerâmica... Tão distante para fustigá-la, mas tão próxima pra...
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Depois um clarão cegante e eu, sobressaltado, me levanto ofegante da pequena cama. O Suor corre pelo meu rosto. Ligo a luz do quartinho, meto minha Glock na cintura, confiro a HK devidamente municiada e com o carregador reserva do lado. Abro a porta e fatio lentamente com a vista o balcão do Plantão. Sons de televisão e do ar-condicionado. Os vigilantes assistiam um filme de ação na TV da recepção. Ufa! Volto pra cama e continuo a dormir tranqüilo até amanhecer o dia.
sábado, 26 de setembro de 2009
Diário do Federal - Capítulo 1 - O 1° Plantão
por Denis
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