Guilherme Augusto Rodrigues
Foram certeiros, assim tudo retomou a paz e alegria de outras épocas. Bateu a porta e saiu...
Ele estava arrasado, havia acabado de brigar com a mulher. O casamento não ia bem. Perdeu a beleza, a alegria e a vida. E vieram sucessivas brigas, sem explicações, sem soluções.
Devia ser o começo do fim. A mulher furiosa de raiva, exaurida, já se encontrava na chácara com os dois filhos, um casal.
O marido sozinho em casa pensativo. Refletiu sobre suas atitudes, como tem agido. Não tem sido bom nem para a mulher, nem para os filhos e nem para si. Durante esses últimos anos acumulou coisas desagradáveis e que em outra época condenava. Fez a vida da família e o ambiente em casa se tornarem insuportáveis.
Resolveu subir ao sótão, lugar em que guardaram durante anos as lembranças, objetos de valor pessoal de todos e outras velharias. O aposento estava empoeirado, cheirando a mofo e muito bagunçado. Numa rude mesinha de madeira pegou um porta-retrato, tirou a sujeira e desacobertou uma foto de quando eles ainda namoravam. Esqueceu-se de como o sorriso e olhos dela eram lindos e que se mantêm até hoje. Ainda pode lembrar do dia em que os viu pela primeira vez como se fossem ontem; foi na fila do cinema, encantado com a beleza e o jeito dela, apostou com os amigos que a beijaria. Costumava dizer que os olhos e o sorriso foram a fagulha que acendeu esta grande chama que agora luta para se manter.
Perto da janela, em uma estante, encontrou o Juvenal, um ursinho de pelúcia, que há algumas semanas costumava ficar no quarto, na penteadeira. Foi o primeiro presente que deu a ela. Mudado de lugar há pouco tempo e já se esquecera. Também nem lembrava que foi o primeiro presente. Cida mantinha um carinho especial com ele que hoje está sujo.
Abriu algumas gavetas da estante, encontrou alguns brinquedos da sua infância: soldadinhos de chumbo, índios, caubóis, carrinhos e mais uma porção. Achou sua coleção de selos e de moedas que começou a colecioná-los ainda pequeno e agora elas estão bagunçadas, sem o menor cuidado.
Uma lágrima escorreu de um olho ao ver que deixou de ser aquele menino tão angelical e cheio de vida. Outrora poderia ver beleza nas menores coisas. O mundo era sempre novo, o seu quintal e vivia brincando por todas as partes. Adorava o bosque a alguns minutos da sua casa de infância e ali se perdia na sua imaginação e sonhos.
Num armário encontrou, esquecido, o álbum de casamento. Como aquele dia foi feliz para ele. Os dois estavam sorridentes e cheios de vida. Cida mantinha a mesma beleza de quando casou, porém, ele deixou de perceber.
Continuou a vasculhar o cômodo. Cada lembrança, uma agulhada no coração. Pensou que não valia nada. Traiu a família e enganou a si. O que estava fazendo?
Cida e as crianças estavam na chácara. Os pequeninos, que antes não escondiam o desapontamento, já descontraídos brincavam com os animais. Cida veio pensando pelo caminho na sua adolescência, o primeiro e único namorado, momentos felizes, brigas e tristezas. Logo, o casamento.
Olhou ainda pensativa para os filhos brincando, a chácara, o jardim, o pomar, a casa, tinha emprego estável, um bom carro. Foram conquistando tudo com muito esforço, mas, o que significa? Algum valor? Quantas vezes teve de se segurar. Não era mesmo o que tinha sonhado. E um enorme vazio tomou conta de si.
Estava amargamente arrependida. Não haverá mais tristezas. Deixou os filhos e voltou para casa para encontrar seu marido.
Ele já estava pronto para ir para a chácara e recomeçar. Já fazia planos para uma viagem, uma férias em família. Disposto a mudar.
-Que bom que voltaram! Ia atrás de vocês. Desculpe, querida, estou muito arrependido -disse com lágrimas no rosto, visivelmente abatido.
-Eu também estou!
Deu dois tiros de espingarda no peito dele. Agora sim abatido. Ela não podia dizer que nunca o amou, mas estava arrependida. Cansada dessa vida.
Sorria.
Dois tiros certeiros, assim tudo retomou a paz e alegria de outras épocas. Bateu a porta e saiu...
Ele estava arrasado, havia acabado de brigar com a mulher. O casamento não ia bem. Perdeu a beleza, a alegria e a vida. E vieram sucessivas brigas, sem explicações, sem soluções.
Devia ser o começo do fim. A mulher furiosa de raiva, exaurida, já se encontrava na chácara com os dois filhos, um casal.
O marido sozinho em casa pensativo. Refletiu sobre suas atitudes, como tem agido. Não tem sido bom nem para a mulher, nem para os filhos e nem para si. Durante esses últimos anos acumulou coisas desagradáveis e que em outra época condenava. Fez a vida da família e o ambiente em casa se tornarem insuportáveis.
Resolveu subir ao sótão, lugar em que guardaram durante anos as lembranças, objetos de valor pessoal de todos e outras velharias. O aposento estava empoeirado, cheirando a mofo e muito bagunçado. Numa rude mesinha de madeira pegou um porta-retrato, tirou a sujeira e desacobertou uma foto de quando eles ainda namoravam. Esqueceu-se de como o sorriso e olhos dela eram lindos e que se mantêm até hoje. Ainda pode lembrar do dia em que os viu pela primeira vez como se fossem ontem; foi na fila do cinema, encantado com a beleza e o jeito dela, apostou com os amigos que a beijaria. Costumava dizer que os olhos e o sorriso foram a fagulha que acendeu esta grande chama que agora luta para se manter.
Perto da janela, em uma estante, encontrou o Juvenal, um ursinho de pelúcia, que há algumas semanas costumava ficar no quarto, na penteadeira. Foi o primeiro presente que deu a ela. Mudado de lugar há pouco tempo e já se esquecera. Também nem lembrava que foi o primeiro presente. Cida mantinha um carinho especial com ele que hoje está sujo.
Abriu algumas gavetas da estante, encontrou alguns brinquedos da sua infância: soldadinhos de chumbo, índios, caubóis, carrinhos e mais uma porção. Achou sua coleção de selos e de moedas que começou a colecioná-los ainda pequeno e agora elas estão bagunçadas, sem o menor cuidado.
Uma lágrima escorreu de um olho ao ver que deixou de ser aquele menino tão angelical e cheio de vida. Outrora poderia ver beleza nas menores coisas. O mundo era sempre novo, o seu quintal e vivia brincando por todas as partes. Adorava o bosque a alguns minutos da sua casa de infância e ali se perdia na sua imaginação e sonhos.
Num armário encontrou, esquecido, o álbum de casamento. Como aquele dia foi feliz para ele. Os dois estavam sorridentes e cheios de vida. Cida mantinha a mesma beleza de quando casou, porém, ele deixou de perceber.
Continuou a vasculhar o cômodo. Cada lembrança, uma agulhada no coração. Pensou que não valia nada. Traiu a família e enganou a si. O que estava fazendo?
Cida e as crianças estavam na chácara. Os pequeninos, que antes não escondiam o desapontamento, já descontraídos brincavam com os animais. Cida veio pensando pelo caminho na sua adolescência, o primeiro e único namorado, momentos felizes, brigas e tristezas. Logo, o casamento.
Olhou ainda pensativa para os filhos brincando, a chácara, o jardim, o pomar, a casa, tinha emprego estável, um bom carro. Foram conquistando tudo com muito esforço, mas, o que significa? Algum valor? Quantas vezes teve de se segurar. Não era mesmo o que tinha sonhado. E um enorme vazio tomou conta de si.
Estava amargamente arrependida. Não haverá mais tristezas. Deixou os filhos e voltou para casa para encontrar seu marido.
Ele já estava pronto para ir para a chácara e recomeçar. Já fazia planos para uma viagem, uma férias em família. Disposto a mudar.
-Que bom que voltaram! Ia atrás de vocês. Desculpe, querida, estou muito arrependido -disse com lágrimas no rosto, visivelmente abatido.
-Eu também estou!
Deu dois tiros de espingarda no peito dele. Agora sim abatido. Ela não podia dizer que nunca o amou, mas estava arrependida. Cansada dessa vida.
Sorria.
Dois tiros certeiros, assim tudo retomou a paz e alegria de outras épocas. Bateu a porta e saiu...
1 comentários:
Surpreendente... rs
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