(Maristela Scheuer Deves)
Fofinhas, bonitinhas, sapecas, espertas... Vivemos rotulando as crianças que conhecemos, sem nos darmos conta, no entanto, de que não as conhecemos tão bem assim - quando menos esperamos, lá vêm elas a nos surpreenderem.
Tomo como exemplo os meus sobrinhos, Rafael e André. Rafa, o mais velho, agora já tem 17 anos, mas quando pequeno sempre teve tiradas de deixar a todos com a boca aberta. Certa vez, quando eu fazia faculdade em Santa Maria ele devia estar com seus quatro ou cinco anos , liguei para minha mãe e ela me contou a mais recente aventura do neto: enquanto meu cunhado fazia compras em um mercado, ele pediu licença para brincar com a priminha que morava ao lado. Quando o Alemão foi buscá-lo, surpresa, o Rafael não tinha sequer aparecido lá.
Procura daqui, procura dali, de repente teve a inspiração de olhar dentro de um ônibus que saía rumo ao interior do município. E lá estava, sentado quietinho no último banco, o Rafael. Mesmo com a bronca, nada de ele dizer o que fazia ali. No outro dia, o pequeno foi passear na avó, e de repente largou: "Ontem peguei o ônibus para ir na tia Téia." Estava explicado: depois de me acompanhar várias vezes à rodoviária, ele sabia que eu entrava num ônibus para ir a Santa Maria, e julgou que, embarcando em um, chegaria até mim!
Anos depois foi a vez do André, hoje com 14 e na época com seis anos, fazer algo parecido. Quando fui me despedir dele para viajar, no final das férias, nem me deu bola, emburrado. Meu pai, que me acompanharia, teve o mesmo tratamento. Uma semana depois, soube que, depois de o carro já ter dobrado a esquina, ele caminhou até a casa próxima, olhou para trás, onde estavam minha mãe, minha irmã e o Rafa, e desatou numa corrida desenfreada pela rua. Ao ser alcançado, três quadras adiante, contou que "estava indo buscar o vovô e a tia Téia de volta."
O vocabulário desses danadinhos também é algo digno de análise. Aliás, quando o Rafa era pequeno, cheguei a fazer um "dicionário" de suas palavras. 'Vavau' era cachorro (afinal, eles fazem 'vau-vau'...). 'Teta' era mamadeira, mas também servia para designar a avó onde ele buscava leite e a priminha que ali morava (e que odiava ser chamada assim). Mas o mais engraçado foi quando ele resolveu falar apenas a primeira sílaba de cada palavra. 'Prato' virava 'pra', 'mesa' virava 'me', e assim por diante. E nós que adivinhássemos o que ele queria dizer.
Um dia, quando o André era bebê, chegou o Rafa lá em casa. "E o maninho?", indagou minha mãe. "O pá tá fá pê dô", respondeu ele. "O quê?", espantou-se minha mãe. "O pá tá fá pê dô", tornou. Somente depois de repetir várias vezes e ver que não tinha jeito de a avó entender, é que ele resolveu explicar, ressaltando as sílabas: "Mas vovó, eu já disse que o pa(i) tá fa(zendo) o pe(queno) do(rmir)!"
Fofinhas, bonitinhas, sapecas, espertas... Vivemos rotulando as crianças que conhecemos, sem nos darmos conta, no entanto, de que não as conhecemos tão bem assim - quando menos esperamos, lá vêm elas a nos surpreenderem.
Tomo como exemplo os meus sobrinhos, Rafael e André. Rafa, o mais velho, agora já tem 17 anos, mas quando pequeno sempre teve tiradas de deixar a todos com a boca aberta. Certa vez, quando eu fazia faculdade em Santa Maria ele devia estar com seus quatro ou cinco anos , liguei para minha mãe e ela me contou a mais recente aventura do neto: enquanto meu cunhado fazia compras em um mercado, ele pediu licença para brincar com a priminha que morava ao lado. Quando o Alemão foi buscá-lo, surpresa, o Rafael não tinha sequer aparecido lá.
Procura daqui, procura dali, de repente teve a inspiração de olhar dentro de um ônibus que saía rumo ao interior do município. E lá estava, sentado quietinho no último banco, o Rafael. Mesmo com a bronca, nada de ele dizer o que fazia ali. No outro dia, o pequeno foi passear na avó, e de repente largou: "Ontem peguei o ônibus para ir na tia Téia." Estava explicado: depois de me acompanhar várias vezes à rodoviária, ele sabia que eu entrava num ônibus para ir a Santa Maria, e julgou que, embarcando em um, chegaria até mim!
Anos depois foi a vez do André, hoje com 14 e na época com seis anos, fazer algo parecido. Quando fui me despedir dele para viajar, no final das férias, nem me deu bola, emburrado. Meu pai, que me acompanharia, teve o mesmo tratamento. Uma semana depois, soube que, depois de o carro já ter dobrado a esquina, ele caminhou até a casa próxima, olhou para trás, onde estavam minha mãe, minha irmã e o Rafa, e desatou numa corrida desenfreada pela rua. Ao ser alcançado, três quadras adiante, contou que "estava indo buscar o vovô e a tia Téia de volta."
O vocabulário desses danadinhos também é algo digno de análise. Aliás, quando o Rafa era pequeno, cheguei a fazer um "dicionário" de suas palavras. 'Vavau' era cachorro (afinal, eles fazem 'vau-vau'...). 'Teta' era mamadeira, mas também servia para designar a avó onde ele buscava leite e a priminha que ali morava (e que odiava ser chamada assim). Mas o mais engraçado foi quando ele resolveu falar apenas a primeira sílaba de cada palavra. 'Prato' virava 'pra', 'mesa' virava 'me', e assim por diante. E nós que adivinhássemos o que ele queria dizer.
Um dia, quando o André era bebê, chegou o Rafa lá em casa. "E o maninho?", indagou minha mãe. "O pá tá fá pê dô", respondeu ele. "O quê?", espantou-se minha mãe. "O pá tá fá pê dô", tornou. Somente depois de repetir várias vezes e ver que não tinha jeito de a avó entender, é que ele resolveu explicar, ressaltando as sílabas: "Mas vovó, eu já disse que o pa(i) tá fa(zendo) o pe(queno) do(rmir)!"
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