Mariana Valle
Juliana era casada há cinco anos, mas se sentia sozinha. Maurício viajava muito a trabalho. Então ela resolveu que merecia um vibrador. Ao ver um episódio do seriado Sex and the city, decidiu: queria o tal do rabitt, usado pela Charlotte.
E não é que ele era mesmo supimpa? Fazia serviço duplo, atacava em todas as frentes. E assim Juliana se refestelava todas as noites em que Maurício estava fora. Mas aquele negócio era tão bom que ela passou a usá-lo inclusive nos dias em que dormiria com o marido. E quando ele chegava em casa, doido para matar a saudade da esposa, recebia um bando de desculpas da mulher já saciada. Um dia era dor de cabeça, no outro cansaço... Até inventar que estava "naqueles dias", Juliana inventou. Tudo para fugir do sexo com o marido. Ela era fiel. O problema é que agora sua fidelidade se voltava para o tal coelhinho.
Maurício não sabia mais o que fazer. Já estava subindo pelas paredes. Chegou até a desconfiar que a mulher tinha um amante. E foi por isso que resolveu chegar mais cedo naquela quarta-feira. Pé ante pé, ele entrou pela sala e, ao chegar no corredor, notou a porta do quarto fechada. Tascou o olho na fechadura e não acreditou quando finalmente desvendou o segredo de Juliana. Ela o traía com o coelho. “Ela me paga!”, pensou, enraivecido.
Um mês se passou e Maurício teve que viajar para os Estados Unidos a trabalho. Na volta ao lar, trazia uma novidade na bagagem. E foi em cima da cama, de onde Juliana reclamava de sua usual enxaqueca, que Maurício abriu o presente. De dentro de uma caixinha, ele tirou um pedaço de plástico colorido, soprou dentro dele, e, pouco a pouco, ele cresceu, até ficar do tamanho de Juliana. Maurício então se deitou ao lado da boneca, e estava prestes a abracá-la, quando Juliana soltou um berro:
- Você não vai fazer com ela o que eu estou pensando, vai?
- Se eu não posso fazer com a minha mulher, eu tenho que dar um jeito, você não acha?
Juliana ficou desesperada.
- Não acredito numa coisa dessas, Maurício! Não acredito!
- É muito simples, Juliana. Basta você acabar com essa greve que eu rasgo a boneca.
Juliana não titubeou e se jogou nos braços de Maurício com paixão. Num minuto, a dor de cabeça foi embora. E o reencontro amoroso lembrou até aquelas transas de início de namoro, de tão apaixonado que foi. Quando tudo acabou, ainda em estado de êxtase, Juliana cobrou:
- E a boneca? Não vai rasgá-la?
- Claro, meu amor, farei isso já.
E assim, com a boneca em pedaços e o orgulho restabelecido, Juliana finalmente pôde dormir em paz. Mas Maurício ainda não estava com sono. E tinha uma providência muito importante a tomar. Levantou-se da cama em silêncio e correu para o armário da mulher. Bem ali onde ela havia escondido o coelho mais cedo. Pegou aquele “bicho” com raiva e o levou até o tanque da cozinha. Depois sacou a caixa de fósforos do bolso e tacou fogo no troço. Agora sim, ele poderia dormir feliz.
No dia seguinte, Juliana não comentou nada, mas ele percebeu que ela estava estranha. Ela não sabia o que pensar. “Será que Maurício tinha descoberto meu segredo? Mas então por que ele não comentara nada? Então quem haveria de ter sumido com meu coelho?” Juliana estava agoniadíssima, mas fazia a maior força do mundo para não demonstrar.
Na hora de dormir, Maurício virou para o lado e nem sequer ensaiou procurar o carinho da esposa. E foi assim durante um mês inteiro. Juliana não estava entendendo nada. “Será que ele tem outra? Será que estou gorda? Por que ele não me procura mais?” E num desses dias de incertezas, Maurício chegou do trabalho feliz da vida. E, já vestindo o pijama, repetiu o ritual daquele dia fatídico. Pousou a caixinha na cama, tirou o plástico lá de dentro e rapidamente inflou a boneca. Depois, fez com ela aquilo que não fazia com a mulher há um mês e, quando acabou, se virou para o lado e dormiu como um anjo. Juliana não deu um só pio. E ainda teve que dividir a cama com a boneca.
quinta-feira, 16 de abril de 2009
Juliana e o coelho
por Mariana Valle
3 Comentários
3 comentários:
:D
Antes uma boneca inflável do que uma amante. Ou não?
O mais engraçado, Henry, foi ter que ouvir um conhecido me perguntando se o meu então marido tinha uma boneca inflável. Eu ri muito!!!
Ah, normal...
Eu também recebo muitos conselhos por causa de meus contos sobre adolescentes.
Pelo menos isto é um bom sinal, acho, pois indica que o texto atingiu um certo grau de verossimilhança a ponto de o leitor abstrair a ficção e acreditar nela como autêntica. É claro que, no caso deste conto em particular, achar que é história verídica não é nenhum ponto a seu favor... :D
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