O primeiro contato que tive com a obra de Julio Cortázar foi através do romance "Jogo da Amarelinha" (Rayuela) e fui derrotado pelo estilo denso, quase barroco, pela inusitada estrutura e pelo enredo disperso.
A primeira impressão foi de assombro, mas também de uma certa repulsa. Naquela época, quatro ou cinco anos atrás, senti que Cortázar estava além da minha capacidade como leitor, não me dizia nada.
Então, retornei a ela pela via indireta dos contos, através da antologia "Final de Jogo". O estilo pesado também está presente, mas, pela própria natureza do gênero conto, Cortázar se viu coagido a construir enredos mais digeríveis.
Costuma-se dividir os 18 contos que integram a obra em três níveis de dificuldade, sendo os primeiros de mais fácil compreensão e os últimos exigindo maior esforço hermenêutico do leitor.
Particularmente, não percebi esta gradação (o que pode sugerir que eu não tenha entendido direito...), mas é muito evidente o namoro de Cortázar com o realismo fantástico, e principalmente a intertextualidade e a metalinguagem dos contos. Quase todos eles estão calcados numa singela realidade cotidiana, mas, no desfecho, abrem as portas para um outro universo, por vezes bizarro e assustador.
Logo num dos primeiros textos, o protagonista resolve vestir uma blusa de lã para aguentar o friozinho da rua, no entanto, algo tão simplório e descomprometido quanto vestir uma blusa torna-se um desafio angustiante; algo semelhante se dá num teatro, durante um concerto de música erudita em homenagem a um maestro local; ou ao se olhar misteriosos peixes que parecem abarcar em si toda uma cosmologia. Em Cortázar, o real cotidiano é um umbral a nos conduzir para o mágico e inexplicável.
Na melhor linha borgeana, mas sem deixar de ter sua identidade própria, Julio Cortázar se tornou um dos grandes nomes da literatura latino-americana e mundial. Fazendo de seus livros jogos literários, ele abriu novos horizontes para a narrativa e foi um dos precursores do pós-modernismo literário.
sábado, 4 de abril de 2009
Final de Jogo, de Julio Cortázar
por Henry Bugalho
1 comentário
1 comentários:
Beleza de resenha, Henry.
Há tempos venha ensaiando ler Cortázar, mas ainda não li.
É um dos autores que mais estou na ânsia de conhecer. Inclusive, vi um video que você divulgou na comu "Escritores - Teoria Literária" e curti demais.
Preciso tomar vergonha na cara e ler logo esse grande escritor.
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