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segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

Ninguém Está a Ver !

Joaquim Bispo






João era tímido, muito bom rapaz, mas, como miúdo metido consigo, engendrava muitos esquemas, nem todos isentos de perversidade. Nestas férias, trazia uma ideia fisgada. Alimentava a tentação de ver a tia despida. Respeitava-a, tratava-a como tia, que era, mas não podia evitar espiá-la e imaginar as formas curvas de geometria variável que se lhe moviam por debaixo das roupas. Uma vez por outra, já se tinha masturbado a espreitá-la por detrás das vidraças da casa de banho, enquanto ela dava de comer às galinhas no terreiro fronteiro à casa da quinta ou realizava outra actividade na qual punha a sua graça de mulher.

***

João tinha dezassete anos e um caldo hormonal a espicaçar-lhe as entranhas e a desfear-lhe a face. Era alto, magro e um pouco desengonçado. Fosse pelo seu aspecto desconchavado e demasiado borbulhento ou pela sua timidez crónica, o certo é que não conseguia grandes avanços com as raparigas. Deslumbrava-se a memorizar a curva do seio das colegas, na Secundária, e a violar-lhes, com o olhar, alguns recessos mais íntimos, nem que fosse um pedaço de recatado pescoço atrás da orelha sob o manto de cabelos. Desforrava-se em casa, a rememorar esses lampejos de céu. Era um masturbador compulsivo. A masturbação era o consolo de todos os aborrecidos tempos mortos e de todas as frustrações da sua pouco interessante vida. Excitava-o a ideia de se deleitar sexualmente junto de outras pessoas, sem que alguém suspeitasse. Imaginava que inventava uma maquineta que o masturbasse com os vagares que tivesse programado, enquanto ele, impávido e de mãos bem à vista, estivesse sentado numa esplanada, ou viajasse no Metro e, casualmente, percorresse com os olhos as mulheres à sua volta. Quando tomou conhecimento que já existia tal apetrecho à venda nas sex-shops, só não o comprou por não caber dentro das calças sem denúncia óbvia.

As férias foram destinadas como nos outros anos: faria três semanas de praia em Agosto com os pais, em casa dos tios de Viana do Castelo, e depois iria mais três semanas para casa da tia Isabel na Golegã. A tia vivia sozinha numa quintarola, que explorava, a poucos quilómetros da vila. Era uma mulher arruivada, de estatura mediana e formas arredondadas, bonita e ainda jovem, de uns trinta e poucos anos. Quando o marido fora para França há três anos e por lá ficara com uma francesa, tivera que meter mãos à obra e, entre criação e horta, lá se ia aguentando. Dia sim, dia não, vinha uma carrinha buscar o que houvesse: hortaliças, fruta, frangos, coelhos, ovos e queijos. A ajuda habitual do sobrinho no fim de Verão vinha a calhar, porque, além dos habituais trabalhos campestres, era o período de maiores colheitas.
Para João, era um período de grande liberdade ao ar livre, longe dos pais, e a maioria dos trabalhos estava longe de ser aborrecida. Tinha algumas tarefas por conta dele. Ordenhar as cinco cabras da tia, de manhã e à noite, era uma delas. Fora ele mesmo que a escolhera. Apertar as tetas pontiagudas das cabras, que lembravam as maminhas espetadas das colegas, não se podia chamar trabalho. Deleitava-se a sentir a sua consistência e, geralmente, demorava mais que o necessário para a tarefa. Em certas tardes, no crepúsculo de mais um dia quente, enquanto se comprazia com a esquerda na ordenha das cabras, ordenhava-se também com a direita, e havia momentos em que a sincronia era total, e o resultado semelhante.
Na hora de maior calor, não se trabalhava fora de casa. Ele aproveitava para ir até ao pego do riacho que bordejava a propriedade da tia e, se já tivesse feito a digestão, dava uns mergulhos. Depois, deitava-se a secar, a gozar as carícias estimulantes que o sol aplicava ao seu corpo, a sentir alguma erecção confortante por dentro dos calções.
Certa vez, sobreveio-lhe uma ideia. Atravessou a ribeira para o melancial do vizinho e escolheu uma melancia exposta ao sol, cujo pé seco indicava que estava madura. Com o inseparável canivete, retirou uma rodela da casca até atingir uma superfície conveniente da polpa, onde espetou dois dedos a criar um início de galeria. O seu pénis erecto acabou de a romper, num arrebatamento de quentura a que uma ou outra pevide conferia uma estimulação extra. Imaginou que a vagina de uma mulher devia ser assim, quente e apertada, só que sem pevides. As experiências boas são para repetir, só o preocupava que o vizinho notasse a diminuição do melancial.
Certa vez, lembrou-se que Saramago também tinha deambulado por estas paisagens em liberdade solitária, quando vinha passar as férias com os avós paternos, ali perto, na Azinhaga. Os seus olhos de adolescente também terão olhado para as melancias quentes com pensamentos lúbricos? Ou a sua mente criativa de futuro escritor terá congeminado outras maneiras mais engenhosas de gratificar os sentidos e apaziguar o corpo?

Este ano, João alimentava o desejo de ver a tia nua. Ela era muito bonita, tinha olhos cor de mel e uma boca pequena bem desenhada num rosto cheiinho e, apesar de já ter trinta e três anos, o seu corpo parecia tão jovem como o da sua professora de Português, que tinha vinte e seis. Andava sempre de blusas leves e largas onde as mamas, apesar do sutiã, se deslocavam ao sabor das tarefas campestres que executava. Era muito excitante e, basicamente, era por elas que João arquitectara um plano arrojado e pouco ético. Quando faltava uma semana para regressar a Lisboa, tomou coragem para o pôr em prática. À noite, a meio da novela da televisão, João foi arranjar o copo de café com leite, para cada um, com que habitualmente aconchegavam o estômago antes de deitar. O que chamavam café não passava de uma mistura de cevada, mas era reconfortante. Desta vez, João tirou uma cápsula farmacêutica do bolso, abriu-a e despejou o conteúdo num dos copos. Bebericaram-nos, enquanto assistiam a mais um bocado da novela que a tia gostava. Desta vez, Isabel começou a ser invadida por um sono invencível. Antes que se ficasse a dormir, despediu-se e foi deitar-se.

O coração de João estava acelerado. Comprara uma caixa de hipnóticos a um colega, lera a bula e confirmara que uma cápsula produzia um sono profundo de umas quatro a seis horas, que não deixava lembrança. Agora os dados estavam lançados. Deixou passar três quartos de hora, para dar tempo ao medicamento, depois dirigiu-se ao quarto dela.
– Tia! – chamou a confirmar. – Tia Isabel!
Apurou o ouvido. Nada. Entrou no quarto cautelosamente e acendeu a luz. Isabel dormia de lado, voltada para si e estava coberta apenas com um lençol. Aproximou-se e ficou a admirá-la. Os cabelos arruivados derramavam-se pela almofada, o rosto adormecido enternecia, o morro da anca alteava o lençol, logo após o vale da cintura. Sentou-se na beira da cama. Era tão estranha esta situação. Estava ainda tenso, mas aos poucos ia ficando mais descontraído. Puxou o lençol até desnudar-lhe os braços. A tia tinha uma camisa de dormir cor-de-rosa que arqueava à altura do peito. Esticou-se para espreitar por aquele decote invulgarmente amplo. As mamas pareciam imensas. Ficou um momento absorto na contemplação daquela visão tão desejada. Depois, com cuidado, empurrou o corpo da tia até ficar deitado de costas. Puxou-lhe a camisa de dormir para cima, até descobrir o peito. «Uauh!» Os bicos grossos e rosados sobre os montes branquíssimos eram mais perturbadores que alguma coisa que já tivesse visto. Sentiu o incómodo do seu pénis tenso mas dobrado dentro das calças. Puxou-as na cintura, meteu a mão e endireitou-o. Depois de um momento, apeteceu-lhe tocar aquelas mamas. Quando arquitectara o plano, só pensara em ver a tia nua. Mas, porque não tocar-lhe? Abriu ambas as mãos e colocou-as sobre as mamas da tia. Depois, demorou-se a experimentar-lhes a consistência e a macieza. Apertou-as. Eram macias mas densas. E bem maiores do que as suas mãos conseguiam abarcar. Ao vê-la vestida, nunca imaginara que fossem tão grandes. Depois desceu os olhos pelo ventre alvo da tia. Descobriu-lhe as ancas e as coxas. A tia tinha uma cuequinha branca, com um debrum às florinhas. Devia tirar-lha? Levantou-a na barriga. Uma púbis ruiva e de pêlos lisos desarmou-o. Apesar da tia ser arruivada, sempre imaginou que tivesse uma púbis de pentelhos pretos e revoltos, como a sua. Não se atrevia a tirar a cueca à tia. Afastou-lhe as coxas. Eram robustas e lisas. Pousou a mão direita sobre a zona da vagina. Cedia à pressão. Era tão diferente de apalpar as suas calças cheias, agora ainda mais repletas. Estava quente e muito macia. Desviou para o lado a nesga de pano que a cobria. «Oh, my God!» Uma pequena abertura rosada e entreaberta fê-lo suster a respiração. Era tão inexplicavelmente bonita. Nenhuma ameaça transmitia, antes uma aceitação incondicional. Ali estava o paraíso dos homens. Mexeu-lhe com delicadeza a experimentar a suavidade da carne. Aqueles lábios abriam-se só com a acção de dois dedos. Sentia-a húmida. Experimentou meter o dedo médio. Deslizou suavemente para dentro do corpo da tia. Como era quente, húmido e brando! Nesse momento a tensão do seu corpo ultrapassou o ponto de não-retorno. Fechou os olhos a tentar fruir as duas sensações concorrentes mas coligadas no seu descontrolo, porém, o êxtase do orgasmo venceu e obrigou-o a ceder-lhe toda a atenção, até as convulsões abrandarem.
Não esperava, não tinha previsto este descontrolo. Sentia-se todo molhado dentro das calças. Compôs as roupas da tia o melhor que pôde, voltou a colocá-la deitada sobre o lado direito, cobriu-a, apagou a luz e saiu. Foi à casa de banho e limpou-se, mas não lavou a mão direita. Ia guardá-la para o dia seguinte.

Na verdade, quando acordou, uma erecção mais intensa que a habitual e a lembrança da noite anterior foram estímulos mais que suficientes para tirar uma meia da mesa-de-cabeceira e cumprir uma gostosa consolação. Desta vez com a mão esquerda, que a direita aplicou-a sobre o nariz, sentindo o perfume inebriante da vagina iniciática. Com o corpo da tia em mente, tão presente como na noite anterior, em breve o fundo da meia travou o fruto do seu corpo mais uma vez levado ao engano.
Todo o dia pensou se havia de repetir a façanha da noite anterior. À medida que pensava, mais se lhe tornava admissível tentar foder a tia. Era feio da sua parte, mas para ela era indiferente. O que ela não sabia, não a podia incomodar.
Isabel acordou com a vaga sensação de ter sonhado com o ex-marido, mas não conseguia focar a lembrança. Tinha a ideia de ter ficado, de repente, com muito sono, na noite anterior e não se lembrava de se ter deitado. Durante todo o dia foi matutando naquele súbito desejo de dormir. Uns olhares furtivos do sobrinho levaram-na a pôr a hipótese inverosímil de ter sido drogada por ele. Com que objectivo? Resolveu ficar muito atenta.
À noite, quando João foi preparar a beberagem do costume, Isabel ficou a controlá-lo pelo reflexo difuso na porta da cozinha. Então, confirmou que o sobrinho tirava qualquer coisa do bolso e fazia o gesto de a sacudir sobre os copos. Não podia beber daquele café! Quando João se sentou a seu lado no sofá e lhe estendeu o copo, Isabel levantou-se anunciando:
– Vou pôr um bocadinho de vinho do Porto e natas; queres?
– Não, tia, obrigado!
Isabel moveu-se com diligência e precisão. Vazou o copo na pia, silenciosamente, resguardando-se do reflexo que denunciara o sobrinho, pôs um pouco de leite do frigorífico, encheu com coca-cola, acrescentou natas de pacote e por fim juntou o vinho do Porto. No sofá em frente do televisor, enquanto sorvia aquela bebida de aspecto similar à esperada, Isabel olhava para o ecrã, mas a sua cabeça estava a processar decisões. Que fazer? Tinha uma enorme curiosidade sobre o que o sobrinho andaria a fazer lá por casa enquanto ela dormia drogada.
João, entretanto, esforçava-se por conter o nervosismo. A simples ideia de estar prestes a encontrar-se com o corpo de uma mulher à sua disposição, poder explorá-lo à vontade, sem olhares desdenhosos nem reticências humilhantes, excitava-o. Talvez fosse este o dia tão esperado em que «perderia os três», que já o embaraçavam perante a experiência alardeada pelos colegas.
Dez minutos depois, Isabel fingiu cabecear e foi-se deitar, como na noite anterior.
Antes de se juntar a ela, João foi à casa de banho aliviar a tensão. Não queria falhar o objectivo com uma ejaculação adiantada. Sentou-se na sanita, acariciando-se com gestos lentos, enquanto, de olhos fechados, recordava o corpo da tia. Pouco depois, um jorro inundou a «boneca» de papel higiénico com que envolvera a cabeçorra retesada do seu membro.
Vestiu o pijama e esperou ainda mais meia-hora. Depois, entrou no quarto de Isabel que, deitada e voltada para a porta, de olhos fechados mas de atenção bem alerta, fingia dormir profundamente. Não esperava que ele entrasse no seu quarto, mas tencionava prosseguir a farsa até saber o que o sobrinho andava a tramar. João acendeu a luzinha da mesa-de-cabeceira que, protegida pelo abajur, derramou uma claridade suave sobre a cama. A tia estava linda a dormir tão suavemente como na noite anterior. Tocou-lhe os cabelos. Acariciou-os. Eram macios e levemente ondeados. Cheirou-os. Exalavam uma fragrância inebriante. Encostou o seu rosto ao da tia. Era a mesma macieza e quentura que guardava como lembrança das despedidas e dos reencontros. O seu pescoço cheirava a feno e a malmequeres. Deitou-se de corpo esticado encostado ao da tia e abraçou-a. Manteve-se assim por minutos, apenas a aspirar o aroma floral da tia, a sentir o seu corpo tenro cheio de ondulações, e a imaginar-se um dia casado com uma mulher assim, e a dormir encostado a ela. Isabel aguardava. Estranhava este comportamento, mas ao mesmo tempo, não lhe era completamente desagradável este terno amplexo masculino que há tanto tempo não sentia.
Então, as coisas começaram a passar-se muito rapidamente. João passou a acariciar o contorno corporal da tia. As suas mãos percorreram a linha da cintura e da anca e depois da coxa. Isabel hesitava no que fazer. Se reagisse, como ficaria a relação familiar? João avançava por recônditos que não imaginara tão excitantes: a dobra sob o joelho, a nádega, a passagem do tronco para a mama. Isabel não podia estar mais confusa. Por um lado, achava eticamente asqueroso o que o sobrinho estava a fazer, por outro, agradavam-lhe algumas carícias que a deixavam paradoxalmente vaidosa. Tinha deixado ir as coisas longe de mais. Desmascarar a situação, agora, traria demasiados constrangimentos. O que é que podia acontecer se continuasse a fingir? Uma queca do sobrinho? Sem o embaraço do reconhecimento mútuo da situação, ora… Antes isso! Não podia era admitir que estivera acordada. Depois de João a ter apalpado toda, a ter despido, e ter beijado até alguns pontos sensíveis que ela desconhecia, o corpo de Isabel estava abandonado e rendido. Notou divertida alguma falta de prática, quando João pôs um preservativo, não sem dificuldade. Seria a primeira vez? Seria ela que iria «tirar os três» ao sobrinho? Sentiu um orgulho contraditório nesta honra inesperada. Quando o sobrinho entrou em si, abandonou qualquer pensamento que não fosse a fruição do momento. «Santa Maria!» Há quanto tempo! João foi entrando e assestando todo o foco na sensação celestial de mergulhar num oceano quente e profundo, onde apetecia rir e gritar e abraçar o corpo amado. Nunca tinha experimentado tal sensação de plenitude. Parecia que a maior parte de si tinha entrado naquele túnel mágico. Sentia-se enorme. Demorou-se no mais fundo da sua tia. Depois sentiu a urgência. Tinha querido ir devagar, saborear, mas agora o corpo pedia-lhe pressa. Iniciou movimentos de vaivém, cada vez mais rápidos e perturbadores. Era a única maneira de aproveitar, porque o seu pénis já pulsava em ejaculações rápidas e potentes. «Wow!» Como é que aquilo podia ser ainda melhor do que todos os orgasmos que já tivera?! Sentiu um enorme reconhecimento para com a tia. Sem ela, ainda agora era um estúpido virgem. Depois, iniciou a delicada tarefa de repor tudo como se lá não tivesse estado. Lançou um último olhar terno à tia, saiu e pouco depois adormecia cansado e feliz.
Isabel sentiu o paroxismo do sobrinho e conformou-se. Já estava meio esquecida de como era ficar a meio caminho; ali, felizmente, não precisava de fingir o orgasmo. Depois dele sair, ajeitou-se e começou a acariciar-se com um dedo, depois dois, enquanto a mão esquerda apertava ora uma ora outra mama, mas não conseguiu realizar-se. Parecia que faltava algo. As poucas vezes que se masturbava, era no duche, com a água quente do chuveiro a lamber-lhe o corpo, mas hoje não podia arriscar denunciar a sua vigília. Quando pressentiu que João adormecera, levantou-se e, silenciosamente, foi ao pote dos chouriços, retirou um painho de tamanho adequado, limpou-o bem do azeite e voltou para a cama. Um quarto-de-hora depois, a conjunção do volume, da lubrificação oleosa, e das rugosidades naturais do enchido concluíram o que o sobrinho tinha iniciado.

Durante toda a manhã, Isabel pensou no que devia fazer. Podia simplesmente mostrar que não bebia o copo de café, frustrando os planos do sacaninha. Mas também podia continuar a fingir que o bebia. O que a impedia de aproveitar as fodas do sobrinho? Perfeitas ainda não eram, mas… A cavalo dado… Nem sequer precisava de se esforçar; ele fazia tudo. Em rigor, nem andava a foder com o sobrinho. Sem ninguém a ver, sem o João a saber da sua vigília, a situação não tinha esse pecadilho social. Ele é que andava a foder a tia. Só a incomodava estar ali de perna aberta, feita morta. Apesar de tudo, gostava de se mexer mais.
Quando ele saiu para dar um mergulho no pego, a meio da tarde, foi vasculhar-lhe as coisas à procura da droga. Estava numa das bolsas laterais da mochila. Era Flunitrazepam, um medicamento hipnótico usado como tratamento da ansiedade e da insónia. A bula afirmava que induzia o sono de forma rápida e intensa. Como efeitos colaterais referia a amnésia para os eventos ocorridos sob a sua influência e avisava para o perigo de vida que corria quem o associasse ao álcool. «Filho da puta!» Sem ofensa para a irmã. Tinha-a deixado beber o vinho do Porto e não dissera nada.
O dia de João foi de redenção, um dia em que todos os temores e incertezas sexuais tinham desaparecido. Todo o dia andou radiante e até cantarolou a caminho do pego. Nem se lembrou das melancias. Decidira rapidamente que nessa noite foderia outra vez a tia, mas agora com mais experiência.

À noite, quando João pousou os copos de café na mesinha de apoio do sofá, Isabel decidiu que não queria andar a foder «à Bela Adormecida». Pediu:
– João abre-me aquela garrafa de jeropiga que era do tio, se fazes favor. O saca-rolhas está na gaveta da esquerda.
Apenas João saiu, Isabel trocou os copos e esperou. Depois deitou um gole de jeropiga no copo de onde iria beber.
Passado um bocado, João cabeceava. Isabel ainda tentou que se fosse deitar, mas ele, vergado pelo sono, reclinou-se no sofá e ali ficaria vestido até de manhã, se não fosse o coração de tia de Isabel. Foi buscar uma mantinha e o pijama dele, despiu-o, mas, quando se preparava para lhe vestir o pijama, parou a admirar o pequeno pirilau dele, de cabecinha rosada meio escondida pelo prepúcio, repousando sobre o escroto escuro e enrugado pela testosterona. Custava a creditar que aquilo, que agora parecia um batom em expositor de ourivesaria, fosse o mesmo que na noite anterior tão plenamente a preenchera. Sentou-se na beira do sofá, pegou-lhe e baixou-lhe o prepúcio. A cabecinha cor-de-rosa fez-lhe pensar que um pénis era como se fosse um clítoris enorme. Tinham sorte os homens; o seu sexo era todo clítoris. Aquele, entretanto, crescera e não parava de crescer na sua mão. Em pouco tempo tinha um tamanho que ela achou até acima do que pensava ser normal. Era um órgão mágico, o pénis dos homens. Fazia o milagre da triplicação com apenas algumas manipulações. Ficou duro e tenso encimado por uma glande lisa e brilhante. Parecia uma ameixa vermelha madura mas firme. Encostou-lhe a face. Era muito suave como a pele de um bebé. Passou-a nos lábios, deixou deslizar aquela cabeça túrgida para dentro da sua boca. Era como se metesse uma ameixa ou um alperce inteiros na boca. Apertou as pernas, sentindo a lubrificação em curso.
Conforme a ideia lhe surgiu, começou a pô-la em prática. Meteu as mãos por debaixo da saia e tirou as cuecas. Depois, escarranchou-se sobre o sobrinho, um joelho de cada lado sobre o sofá. Pegou naquele batom cabeçudo, apontou-o à boca do seu corpo, passou-o duas ou três vezes nos lábios a retocar a maquilhagem e depois deixou-se ir. Foi-se sentando e recebendo aquele malandro que não sossegava nem com o dono adormecido. A sensação era sempre nova; só quando voltava a experimentá-la é que reconhecia a lembrança dos momentos maravilhosos anteriores. O que se seguiu tinha a dolência auto-controlada de uma masturbação e a verdade carnal de um pénis verdadeiro. Nunca tinha tido a oportunidade de se deixar vir, sem pressas, num pénis ao seu dispor. Perdeu a noção dos muitos minutos que iam passando.
Tinha que arranjar um homem para todos os dias, pensou, envolta na névoa de prazer. E, já agora, que desse uma mãozinha na quinta. Havia de avaliar as intenções do Inácio, o rapaz da sua idade que vinha buscar hortaliças na carrinha. Tinha sempre uma graça ou um piropo disfarçado e parecia ter um rabo firme. Com a sua face barbada no pensamento, deliu-se em fluidos vaginais e espasmos pélvicos, longamente. «Virgem Santíssima!» Um gole de baba soltou-se-lhe da boca para o peito ossudo do sobrinho. O patético da situação e o contentamento do corpo fizeram-na rir-se sem controlo, por um momento. Que loucura um orgasmo!

No dia seguinte, João não encontrava explicação para a soneira repentina. Se calhar, tinha trocado os copos sem querer. Ou a tia o fizera. Teria desconfiado de alguma coisa? Reclamou por ela lhe ter vestido o pijama, mais para lhe ver a reacção, mas Isabel não desarmou:
– Eu andei contigo ao colo, João, e já vi mais homens nus. Não te ia deixar a dormir vestido. Vivo no campo, mas em minha casa sempre se usaram pijamas para dormir.
Pelo sim pelo não, João resolveu não voltar a tentar drogar a tia. Daí a dois dias, chegaram os pais a buscá-lo e a passar o fim-de-semana. Voltou para Lisboa cheio de auto-confiança. Agora, estava convencido que era só isso que lhe faltava para engatar uma «chavala» da sua turma que era linda linda como a tia.

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